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Câncer de mama: 500 por ano podem ser afetadas

21 de Outubro de 2018 às 07:12
Marcel Scinocca [email protected]

Câncer de mama: 500 por ano podem ser afetadas Número de exames realizados em Sorocaba aumentou, mas milhares de mulheres aguardam na fila. Crédito da foto: Emidio Marques / Arquivo JCS (23/11/2017)

O câncer de mama pode afetar por ano cerca 500 novos pacientes em Sorocaba. Os dados são do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Para o mundo, a Organização Mundial de Saúde estima que ocorram cerca de 1.050.000 casos de câncer de mama por ano. Uma série de fatores pode contribuir para a cura do câncer de mama, mas a descoberta precoce da doença está intimamente ligada ao sucesso do tratamento. E aí que entra a mamografia. Em Sorocaba, o número desses procedimentos realizados em 2018, até julho, é, de longe, maior que os dados dos doze meses de 2017. Foram 11.567 procedimentos neste ano contra 6.475 no ano passado. Até agora, o aumento foi de 78%.

O número de procedimento entre mulheres de 50 a 69 anos, faixa etária onde os casos de câncer de mama ocorrem com maior frequência, também aumentou. Foram 3.840 procedimentos em 2017, nos dozes meses do ano, contra 6.849, entre janeiro e julho deste ano. Ou seja, nessa faixa etária, o aumento, até agora, também foi de 78%. Ainda assim, de acordo com a Secretaria de Saúde de Sorocaba, 2.300 pacientes aguardam na fila para a realização da mamografia, sendo que o tempo de espera para realizar o exame seria de dois meses.

Na lista de instituições públicas, a Santa Casa é a que mais realiza procedimentos. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a instituição realizou 4,6 mil procedimentos entre janeiro de 2017 até julho deste ano. Para se ter ideia, o número corresponde a mais que o dobro dos procedimentos realizados pela Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS). Entre as instituições privadas contratadas para realizar o procedimento gratuitamente via SUS, o Linus Pauling -- Medicina Diagnóstica já realizou mais de 7 mil procedimentos somente este ano.

O Estado de São Paulo apresenta a melhor cobertura para rastreamento de câncer de mama no país, conforme o INCA. Mesmo assim, o estado apresenta números abaixo da meta preconizada pelo Ministério da Saúde de cobertura de no mínimo 70% das mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos. Estudo realizado por pesquisadores da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa constatou que a cobertura mamográfica em 2017 de mulheres nessa faixa etária foi de 28,7%,

A Secretaria Estadual da Saúde argumenta que o número de mamógrafos existentes no estado é de 433, isso levando em consideração os públicos ou conveniados com SUS. Esse número, conforme a pasta, atinge a média de 4,4 mamógrafos por 240 mil mulheres SUS dependentes. Esse número atende a recomendação da OMS, que pede ao menos um mamógrafo para 240 mil mulheres.

Prevenção

Câncer não é uma competição, afinal, ninguém busca, almeja ou mesmo tem objetivo de ficar doente. Por isso, é justo e razoável afirmar que todos que passam pelo problema são vencedores. Entretanto, felizmente, há quem tenha lutado e possa contar sua experiência como forma de inspiração e meio eficaz de mostrar que é possível passar pela doença e que a morte não é condição. A professora Rosana Pacitti Santos, de 54 anos, é uma dessas fontes de inspiração. Aliás, quando o assunto é prevenção, ela é mais que isso, é um exemplo a ser seguido.

Câncer de mama: 500 por ano podem ser afetadas Rosana com o oncologista Carlos Eduardo: salva pelo tratamento. Crédito da foto: Marcel Scinocca

Moradora da cidade de Boituva, Rosana descobriu o câncer em um exame de rotina no final do ano passado. “Tomei um susto. Tive medo de morrer, medo da mutilação. Mas descobri rápido porque faço os exames com regularidade”, diz. O sorriso sempre presente no rosto de Rosana não é um ato contínuo de renegar o processo pelo qual passou, afinal, o lenço laranja com detalhes pretos, que cobrem os fios de esperança que estão crescendo, a fazem lembrar que dos difíceis. “A prevenção salva a gente”, diz a professora.

E essa prevenção é uma necessidade reforçada pelo oncologista Carlos Eduardo Ribeiro de Moura, que acompanha o caso de Rosana. “Seu eu tenho uma doença localizada, eu faço um tratamento localizado com uma chance maior de cura. Doenças mais espalhadas, que atingem outros locais, aí os tratamentos localizados não tem mais eficácia. Tudo que está no início, há chance maior de cura. Ou seja, precisamos investir em prevenção”, diz médico.

“Meu herói”

“O médico não é um ser sem emoção”, diz Ribeiro de Moura. Foi ele que acompanhou boa parte do tratamento de Rosana. Conforme ele, apesar de toda a técnica para se dar uma notícia negativa ao paciente, o médico também sofre e em determinada situação até repensa sua vida. “Ninguém sai imune a essa situação toda”, acrescenta. A sensibilidade e o profissionalismo do especialista extrapolaram a relação médico-paciente. “Hoje o doutor Carlos é meu herói”, lembra Rosana por várias vezes, ressaltando a também importância de todas as equipes médicas que a acompanharam durante o processo, desde a descoberta do câncer.

O sentimento de gratidão da outra paciente, a Valquíria (ler matéria abaixo), também se estende para médicos e profissionais da área da saúde, em especial da Santa Casa. Ela escreveu, inclusive, uma carta em agradecimentos aos profissionais da unidade de saúde.

‘Precisa de fé, confiança e sabedoria’

Câncer de mama: 500 por ano podem ser afetadas O diagnóstico de câncer de mama não tirou a alegria de viver de Valquíria. Crédito da foto: Arquivo Pessoal

Quatro fotos em um móvel logo na entrada da sala é, da maneira mais literal possível, o retrato de um das fases mais tensas dos 42 anos de vida da auxiliar de vendas Valquíria Aparecida Gobbo, moradora da zona norte de Sorocaba. Em todas elas, Valquíria está sem cabelo. Diagnosticada com câncer de mama em agosto do ano passado, ela faz parte de um exército de quase 60 mil mulheres que somente em 2017, no Brasil, iniciou uma guerra silenciosa contra um inimigo potencialmente perigoso e, se não tratado, altamente nocivo. Por vezes também silencioso e sutil na forma traiçoeira de atacar, o câncer de mama, em especial quando descoberto de maneira precoce, para muitas não significa o fim do caminho, mas um novo caminho. Foi assim para Valquíria.

A progressão foi rápida. Após ser detectado, o nódulo media 1,5 centímetro. No início do tratamento, 30 dias depois, já era de 8,5 centímetros. A rotina mudou. Rosana deixou, por exemplo, de trabalhar para se dedicar ao tratamento. Ela passou a se alimentar mais e melhor. No cardápio, produtos que sequer havia um dia pensado em comprar, como o inhame. Comer brócolis também virou rotina e a água de coco, incomum em seus dias, virou hábito para a hidratação. A alma também recebeu alimentação constante. “A gente precisa da fé, precisa desse alimento da alma. A palavra dos pastores foi muito importante”, diz. Apoio maior veio da família e de amigos. “Cada passo que eu dava eu via uma coisa boa acontecer”, acrescenta.

Apesar de todo o drama presente em cada consulta, em cada sessão de quimioterapia, Valquíria encarava os desafios e o lento passar dos dias da mesma maneira com que atendia os clientes em um supermercado na zona norte, sempre com alegria e entusiasmo. O choro só veio quando ouviu a informação de que faria quimioterapia. A mãe dela passou pelo procedimento há 25 anos.

Companheiro, na forma mais humana possível, o marido Eliel de Lima Chagas, de 43 anos, com quem ela convive há 7 anos, chorou ao saber do diagnóstico. Aliás, foi ele quem percebeu o caroço em uma das mamas de Valquíria, o que motivou da procura médica precoce o que, muito provavelmente, ajudou na cura da doença.

O último passo do tratamento tem relação com vários aspectos, mas principalmente com a autoestima. Valquíria fará uma cirurgia para adequar o tamanho das mamas, já que a que teve câncer, foi parcialmente retirada.

Câncer de mama: 500 por ano podem ser afetadas Já curada da doença, Valquíria alerta sobre importância do exame. Crédito da foto: Emidio Marques

Pouco mais de um ano depois da descoberta, a luta e a determinação, aliadas a recursos na área da saúde pública e ao apoio de amigos e parentes, são recompensadas com sorrisos e expectativa de vida longa. Nas palavras, a síntese de que o pior já passou. “Tenho dois filhos que precisam de mim. Preciso viver”, diz Valquíria.

Para as mulheres que não tem câncer de mama, Valquíria deixa o alerta. “É preciso fazer o exame, fazer o toque”. Para quem está passando pelo tratamento, o sentimento de superação. “Precisa de fé, confiança e sabedoria, e é claro, é vida que segue. E lembrando que Deus dá a batalha para os seus melhores soldados. Eu sou um desses soldados e estou aqui”, termina a auxiliar de vendas com o semblante carregado de entusiasmo.

Liga atua na conscientização

A Liga Sorocabana de Combate ao Câncer é uma das entidades mais atuantes também no trabalho de conscientização sobre o câncer em Sorocaba. Hoje, entretanto, faz mais que conscientizar. Em 2018, com o resultado obtido através da Corrida Pink do Bem, além de outros eventos e aportes financeiros, a instituição doou 800 mamografias para mulheres de Sorocaba. Porém, Márcia Cristina Rodrigues Ayub, presidente da instituição, revela um dado preocupante: de cada quatro mulheres que são contempladas com o exame gratuito, uma não comparece.

A preocupação da presidente não é meramente com a abstenção de 25% das interessadas. “É um exame muito importante. Se a mulher tiver com o câncer, de fato, e ele for descoberto no início, as chances de cura são muito maiores”, diz. Segundo ela, pelo tempo de espera na rede pública foi um dos fatores que fizeram com os exames gratuitos fossem oferecidos pela instituição.

Câncer de mama: 500 por ano podem ser afetadas Márcia Rodrigues, presidente da Liga Sorocabana de Combate ao Câncer. Crédito da foto: Erick Pinheiro / Arquivo JCS (18/9/2018)

Márcia conta ainda que a Liga atua além dos exames de mamografias, oferecendo, por exemplo, ultrassom e biopsia para as mulheres que apresentam indício de câncer. Um ciclo completo com relação ao exame. Das 700 mamografias realizadas em 2018, houve a suspeita de câncer em sete mulheres. Desses casos suspeitos, dois foram confirmados. “As mulheres tomam conta da família, dos filhos, do trabalho e acabam se esquecendo delas. Elas precisam pensar mais nelas, precisam estar bem para cuidas dos outros”, diz Márcia.

Hoje, a Liga realiza mais uma edição da Corrida Pink do Bem, no Parque das Águas, a partir das 7h. (Marcel Scinocca)

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