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‘A diversidade nos faz mais inteligentes’

22 de Agosto de 2018 às 07:33

Palestra é para alunos do Colégio Uirapuru e aborda a discussão em tempos de redes sociais. Crédito da foto: Emidio Marques

“Nas redes sociais, ninguém curte aquilo que não gosta. No entanto viver só no seu universo te leva a atrofiar a visão da realidade. A diversidade nos faz mais inteligentes.” Foi usando essa colocação que o jornalista Antônio Gois aproximou do universo do jovem uma questão muito pertinente nos dias atuais: estamos perdendo a capacidade de diálogo, de ter outra visão sobre um determinado tema, de desenvolver um olhar mais abrangente com relação aos assuntos.

Especializado em Educação, Gois, é colunista dos jornais O Globo e Cruzeiro do Sul, e presidente da Jeduca, a Associação de Jornalistas de Educação. Ele veio a Sorocaba ontem para ministrar a palestra “Discussão em alto nível”, para estudantes do ensino médio do Colégio Uirapuru.

Um dos temas mais polêmicos dos últimos anos, que tem destruído amizades e criado discórdia entre pessoas da mesma família, é a questão da política partidária. Nesse caso, as discussões não têm sido de alto nível, pelo contrário.

Isso tem tornado os grupos cada vez mais homogêneos, todos concordando com todos. Quando não acontece, a pessoa que discorda é excluída. “Quando todos concordam, você não tem oportunidade de refletir, de ampliar suas ideias, os debates. Quando num grupo tem diversidade, isso exige uma habilidade maior para o diálogo”, destaca o jornalista. “E não adianta fazer discussões espontâneas sobre tudo. É preciso estar preparado para entrar nos debates, estudar sobre eles, daí sim trocar informações e estar aberto”, acrescenta.

As pessoas estão se informando muito pela internet e ali elas escolhem ver apenas o que lhes interessa

A questão da política partidária gerou inclusive o movimento Escola Sem Partido, que para Gois visa impedir que se fale sobre o tema nas escolas. O jornalista citou um estudo feito pelas pesquisadoras Diana Hess e Paula McAvoy, da Universidade de Wisconsin (EUA), sobre a abordagem de temas políticos em sala de aula.

Participaram professores do ensino médio de 35 escolas públicas nos Estados Unidos e os resultados foram registrados na obra “The political classroom” (“A sala de aula política”), vencedora do prêmio de melhor livro do ano de 2016 pela Associação Americana de Pesquisas Educacionais. O argumento inicial das autoras é que, justamente em cenários tão polarizados, ensinar os alunos a se envolver de forma respeitosa e qualificada em diálogos sobre temas públicos importantes torna-se função essencial. “A política tem de estar na sala de aula. O que precisamos é discutir como ela pode estar na sala de aula. Estamos falando de política e não de visão partidária. O problema é quando o professor dá a posição dele como uma questão fechada”, disse Gois.

O jornalista aproveitou a oportunidade para fazer um alerta. Ele disse que as pessoas estão se informando muito pela internet e ali elas escolhem ver apenas o que lhes interessa, ou seja, estão produzindo suas próprias “verdades”.

Antônio Gois é especialista em Educação. Crédito da foto: Emídio Marques

“Um exemplo. Sou Flamengo, então costumo ler notícias sobre o meu time. Para mim, ele é o melhor, então a chance de acreditar numa notícia negativa sobre o Flamengo é pequena”, diz Gois. Isso se chama viés de confirmação, quando se valida apenas aquilo que quer. “E acontece porque temos o prazer de estarmos certos”, complementa.

Reflexão

Para quem vive apenas de seu viés de confirmação, as fake news podem ter influência maior. Gois recomendou aos estudantes refletirem quando estiverem diante de alguma situação.

“Vocês devem perguntar para si mesmos: Quando concordo demais com um assunto, será que é porque quero acreditar nisso? Quando discordo de algo, será que essa outra pessoa não tem razão? Será que meu viés de confirmação não está influenciando”, aconselha. Somente com uma visão mais aberta é que será possível abrir espaço para o diálogo e “assim poderemos exercer uma democracia plena.”

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