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Agro é Pop

12 de Julho de 2018 às 17:31

Rubens Nogueira

O Brasil é uma potência agrícola. É a vocação do país. Nada de querer se ombrear com as nações que dão prioridade às armas mortais. Mas temos capacidade sim para matar a fome e prolongar a vida.

Na minha família, o pai de meus netos Gabriela, Maria Helena e Marcelo, marido de Vera Silvia, é engenheiro agrônomo. Americano, com longos anos de vivência na Flórida, conhece profundamente o mundo da produção de cítricos, nos EUA e no Brasil. Como consultor de grandes produtores de laranja e outros produtos agrícolas, ele vem ao Brasil todos os anos.

A seguir, artigo que publicou na revista Citricultura, atual.

Clima

Furacões na Flórida

O DANO NOS POMARES E O PERÍODO DE RECUPERAÇÃO

O furacão tem a capacidade de destruir casas, infraestrutura de cidades e a natureza. Os moradores da Flórida sofrem de junho a novembro com a ameaça de destruição. Nasce no Oceano Atlântico fora da costa da África do Norte quando as condições das águas são mais quentes durante os meses de verão no hemisfério norte. A água do oceano perto do equador se evapora causada pelo calor do sol. Esta água forma uma nuvem de ar quente e úmido que se move para cima. À medida que o ar quente e úmido sobe, mais ar corre para substituí-lo, criando uma rotação de ar contrarrelógio. Informações mais recentes indicam que as poeiras altas levadas pelos ventos do Deserto do Sahara como possível causadora dos furacões mais fortes. As poeiras servem como fonte de nucleação para as gotas de água já elevadas pelos ventos.

O furacão mais forte baseado nas medidas da Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA) é o Wilma, de 2005, que registrou uma intensidade de pressão de 882 mbar (26.05 polegadas de Hg). Os furacões de Galveston e Okeechobee em 1900 e 1928, que mataram 8.000 e 2.500 pessoas, respectivamente, foram os dois que mais causaram destruição. Recentemente, o furacão Katrina, em Nova Orleans, em 2005, matou em torno de 1.500 pessoas devido à inundação.

A geografia da Flórida, que não ultrapassa 95 metros no ponto mais alto, apresenta poucos obstáculos para impedir o avanço de um furacão. Tanto os ventos de alta velocidade como o aumento das ondas empurradas pelo olho do furacão causam destruição, derrubando árvores, telhados e postes de eletricidade. No ano passado, com a vinda do furacão Irma, os pomares de laranjas plantados nas áreas que originalmente foram mangues que precisaram ser modificados com a construção de camalhões, diques, açudes e barragens para drenar as terras antes de plantar os cítricos, sofreram dias de inundação e as bombas de água não foram suficientes para eliminar a água originada pelo excesso de chuva, que resultaram em 500 mm em volume, entre 8 a 10 de setembro. Além disso os ventos que atingiram uma velocidade máxima de 200 km/h arrancaram árvores adultas e jogaram uma boa parte da safra, já quase pronta para ser colhida, no chão.

Pomares que demoram a retirar a água por mais de 72 horas sofreram risco de criação de condições aeróbicas no solo, e portanto a geração de substâncias químicas tóxicas, tais como H2S (sulfeto de hidrogênio). Essas substâncias têm a capacidade de matar as radicelas já afetadas pelos efeitos do HLB, causando mais queda prematura de frutos e dificuldade em recuperar as folhas perdidas durante a tempestade.

Naturalmente, a primeira reação do produtor depois da retirada da água foi adubar o pomar com N-P-K e micronutrientes, sempre visando a florada mais próxima, mas se o solo não receber um tratamento para Phy- thophthora e outros fungos, as raízes não terão tempo para recuperar e a adubação será desperdiçada. Outro fato é a possibilidade de que a acidez no solo precisará de correção com calcário. O estresse causado por um furacão se manifesta em vários níveis, que pode durar mais do que uma safra. As árvores que foram sujeitas a vários dias de alagamento e desfolhamento precisam de tempo para recuperar as reservas dos carboidratos usados durante o período de estresse.

Ninguém sabe quanto tempo vai levar para as árvores, que já estão infectadas de Liberibacter (HLB) e em condições precárias devido ao sistema radicular reduzido, recuperarem-se do furacão Irma. É claro que quanto mais tempo os frutos ficarem nos galhos sem colheita mais queda acontecerá, reduzindo cada vez mais a safra já prejudicada. Por isso, calculamos uma safra rápida e curta visando a possibilidade das árvores se recuperaram antes da florada em 2018.

Agradecimento a Gilberto Tozatti pela tradução do artigo.