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Presença: Gilson, o oncologista genuinamente sorocabano

13 de Setembro de 2020 às 00:01
Manuel Garcia [email protected]

Presença: Gilson, o oncologista genuinamente sorocabano Gilson Luchezi Delgado. Crédito da foto: Divulgação

Ele é um dos oncologista mais respeitados da região, nascido na rua Miranda Azevedo, em 1947, é neto de espanhóis e italianos, e conquistou com muita garra seu lugar ao sol. Gilson é reconhecido entre os pacientes como um excelente especialista, que atende de forma humanizada; e, entre os médicos, como um ótimo colega de profissão e professor. Ele é um dos fundadores do Instituto de Oncologia de Sorocaba -- IOS que há 25 anos se dedica aos estudos, pesquisas e tratamentos oncológicos, sendo um centro referência em toda região.

O médico é também reconhecido na sociedade como homem caridoso que de forma voluntária se dedica à Associação Beneficente Oncológica de Sorocaba -- Abos que há 32 anos já acolheu mais de 11.000 pacientes carentes em tratamento oncológico de toda a nossa região. Conheça um pouco da história do oncologista Gilson Luchezi Delgado, o nosso personagem da semana.

Como foi a sua infância? Onde o senhor nasceu? Tem quantos irmãos?

Eu nasci em Sorocaba, no ano de 1947, na rua Miranda Azevedo, sou filho de Wanda ( que tinha os seus pais italianos) e de Marciano Delgado (que era filho de espanhóis), fazendo uma mistura boa de genes (rsrs). Os meus pais tiveram três filhos; a primeira, Gilda, faleceu aos quatro anos de idade, quando eu estava completando o meu primeiro ano. Após cinco anos nasceu meu único irmão, Gilmar Thadeu Delgado, que é professor e orientador dos vestibulares no Colégio Objetivo Centro. Minha infância ocorreu em uma Sorocaba com cerca de 70.000 habitantes, meus pais com não tinham muito recursos financeiros, aos poucos me lembro que eles foram economizando para poder montar um pequeno comércio. Lembro que meus pais se mudaram para os fundos da Tabacaria da Sé, na rua São Bento, logo acima do Sorocaba Clube, ladeado pelo Recreativo e pelo Círculo Italiano. Perto de cinemas, e em frente à Catedral, foi nesse ambiente central que cresci e brinquei, nadei no Clube Atlético Scarpa e brinquei de futebol no “peladão” do Scarpa (onde hoje é o Shopping Sorocaba). Estudei no Grupo Escolar Visconde de Porto Seguro, e, o ginasial e científico, no Estadão, uma prestigiada escola nestes anos 1950, 1960.

O garoto Gilson já sonhava em ser médico?

Não. Sempre deixei para as escolhas de vida, para as decisões mais importantes, para o momento de elas acontecerem. Quando criança fantasiei em ser bombeiro, padre, fotógrafo, e tantas coisas que surgiram no meu dia a dia. A escolha ocorreu no meu 2º ano do curso Científico, quando, ao contato com as Ciências e pelos professores, senti-me iluminado por tantos conhecimentos, e isto influenciou-me de modo importante a escolha da área. Meus pais não tinham dinheiro suficiente para amparar-me em um cursinho, que só existia em São Paulo, e, então, dediquei-me com afinco para estudar e passar no vestibular na faculdade de Medicina de Sorocaba. À época havia poucas faculdades: USP, Paulista, Santa Casa de São Paulo, Botucatu e Ribeirão Preto, além de Sorocaba, e Santos. Todas fora da minha cidade, e isto limitava muito as escolhas pelas dificuldades dos recursos financeiros. Graças a Deus consegui entrar direto na nossa Faculdade de Medicina de Sorocaba, e iniciei o curso em 1967. A vocação foi rápida, assumindo a Medicina em minha alma, e tendo a certeza da escolha da profissão.

Como foi o período de faculdade? Quais lembranças o senhor tem da faculdade de Medicina daquela época?

Nosso curso foi de 1967 a 1972, em uma Sorocaba ainda bastante interiorana, contando com cerca de 110.000 habitantes. Mas foi um período muito rico para a vida acadêmica. Os acontecimentos ocorriam na escola e nas repúblicas. Eu morava em minha casa. Para poder pagar a faculdade e compras de livros e outros materiais ministrava aulas particulares para secundaristas, e aulas regulares no colégio Ciências e Letras e nos cursinhos que foram surgindo em nossa cidade. Na faculdade fui monitor de diversas disciplinas, ganhando a bolsa de estudos da faculdade e aprendendo mais profundamente. Aprendi o gosto pelo estudo sério e pelo trabalho. E conheci muitos professores ilustres, de quem devemos muito de nossa formação e informação. Alguns que moravam ou ainda moram em Sorocaba, e que sorocabanos, com certeza, conhecem ou conheceram, e peço desculpas por não poder citá-los todos. Dr. Newton de Oliveira, Dr. João de Campos Aguiar Filho, Dra. Diana Tannus, Dr Luiz Sebastião Prigenzi, Dr. Edgar Steffen, Dr. Gelson Kalil, Dr. Hudson Hubner França, Dr. Linneu Matos Silveira, Dr. Cássio Rosa, Dr. Gerônimo Stecca, e muitos outros que estão meu coração. A vida da época da faculdade está me voltando atualmente, com lembranças importantes e carinhosas, graças ao Whatsapp e o grupo da nossa XVII turma. Conversas diárias, risos diários, algumas tristezas por doenças ou mazelas comuns às pessoas com mais de 70 anos. Mas, saudades não doídas e muito edificantes.

Como o senhor a conheceu sua esposa, Sônia?

Eu estava no Científico, e ela no Colégio. Conhecemo-nos em bailinhos de garagem, passeios em cinema e clubes. Ambientes da época. Sônia Maria Oliveira Delgado, filha do Sr. Francisco de Paula (o Chiquinho “Centenário”), agente do INPS de Votorantim, e da professora do Grupo Antônio Padilha, Eucáris Marcondes de Oliveira. Namoramos 7 anos, e estamos casados há 49 anos. Uma família com quatro filhos, três noras e cinco netos e muito amor.

O senhor é um dos oncologistas mais queridos e respeitados de Sorocaba, sempre quis tratar pacientes de câncer?

Obrigado pelas palavras, mas nem sei se posso merecê-las. Ao atingir os meus conhecimentos de Clínica e o contato com a embrionária Oncologia da época, decidi que poderia usar meus conhecimentos para auxiliar pacientes oncológicos tão sofredores e em uma área muito sofrida. Na ocasião dos anos 1970, o índice de cura de todos os canceres conhecidos atingia algo próximo a 10% apenas. Contra os 70% de hoje. Iniciamos, então, estudos aprofundados, residência, visitas a centros mais avançados no exterior, desenvolvimento de áreas de estudo e pesquisas, formação de profissionais em Oncologia, sou fundador da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, fundador da Sociedade Paulista de Oncologia Clínica, Membro titular de várias sociedades internacionais na especialidade. Auxiliei no desenvolvimento dos Cuidados Paliativos em Oncologia no nosso Brasil. Iniciei a vida acadêmica em 1975, defendemos mestrado e doutorado, e cheguei a ser Professor Titular da Oncologia em nossa escola de Medicina, da qual muito me orgulho, e continuo sendo professor, mesmo a distância. De Sorocaba, junto aos pobres e doentes, há 32 anos fundei, junto com voluntários dedicadíssimos, a Associação Beneficente Oncológica de Sorocaba (ABOS), que já acolheu mais de 11.000 pacientes carentes em tratamento oncológico em nossa cidade. Aos poucos fui aprendendo que o médico deve deixar de ser centrado em si próprio e voltar-se aos pacientes, principalmente os mais sofredores e mais pobres. E segui muito uma confissão de um grande médico do século XIX, um dos meus favoritos, (William Osler) que, ao final de sua vida, declara que “seus erros foram desvios da mente, e não do coração”.

Como surgiu o Instituto de Oncologia de Sorocaba -- IOS?

Para a assistência oncológica especializada uma união com três sócios (Dr. Carlos Eduardo Ribeiro de Moura, Dra Leticia Andrade Nader e Dr. Luís Antônio Pires) fundamos uma pequena clínica assistencial. O tempo passa rápido, mas conseguiu-se imprimir os conceitos fundamentais do Instituto de Oncologia de Sorocaba, não um conjunto de consultórios médicos, mas uma instituição real, sempre evoluindo, baseada na assistência médica oncológica, no ensino e na pesquisa clínica. Fundamos, para isso, o Centro de Estudos e Pesquisa Oncológicas de Sorocaba (CEPOS), e, além das pesquisas locais e desenvolvimento, conseguimos atingir mais de 50 pesquisas nacionais e internacionais, auxiliando na introdução de mais de 10 medicações na prática oncológica nacional e internacional. Completamos 25 anos de vida neste 2019-2020, firmes no lema: “Ciência, Tecnologia e Qualidade de Vida”.

Enfrentamos uma pandemia, em todos estes anos de vida e medicina o senhor imaginava passar por algo igual?

Igual a esta, com certeza foi a primeira e triste experiência. Medo, esperança, isolamento social, ausência de tratamentos específicos, tudo é novo. Modificaremos nossos valores e sociedade? Com certeza, como muitos proclamam. O como será, só a realidade após o controle de tudo isso. Já passamos por várias epidemias nestes 48 anos de medicina, incluindo as mais recentes da gripe suína, da dengue, zika e chicunkunya. Mas nenhuma na dimensão social e médica como este coronavírus.

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