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O gigante da cultura

09 de Agosto de 2020 às 00:01
Manuel Garcia [email protected]

O gigante da cultura José Rubens Incao. Crédito da foto: Fábio Rogério / Arquivo JCS

Com 1,98 de altura o sorocabano José Rubens Incao é uma das figuras mais simples e generosas que esta terra de Baltazar Fernandes tem. Filho de um ferroviario e uma costureira, José é um apaixonado por história, cultura e mitologia. Em 1985, Incao foi convidado para administrar a Biblioteca Infantil Municipal Renato Sêneca de Sá Fleury. A biblioteca foi inaugurada em 1986. Quando ele ainda estava catalogando os livros, começaram a aparecer as crianças. Como não podia deixar de atendê-las, começou a fazer dobraduras e a contar histórias. Incao adora o que faz e faz com amor, e por isto que ele é o nosso personagem da semana.

Onde você nasceu? Como foi sua infância?

Sou filho de Teresa Zala Incao, e Anibal Incao, minha mãe era costureira e meu pai era ferroviário, sou o mais novo de cinco irmãos. Minha infância foi na região do Além Linha, minha casa era sempre muito cheia de pessoas principalmente os mais idosos, eu sempre gostei de conversar com eles, adorava ouvir os causos, os contos e as histórias que eles me contavam. Meu pai era muito culto estudou no colégio das madres, ele era um grande contador de histórias, contava muitas e eu ficava fascinado. Quando saia para visitar minha avó, na Vila Hortênsia, ele colocava os cinco filhos empendurados no Palacete Scarpa e fazia brincadeiras, ele conseguia com histórias controlas os cinco filhos. Tudo para ele tinha um história. Meu processo escolar foi difícil, eu nunca gostei muito pois achava muito chato, mas consegui me formar. Meu avô me ensinou a mexer com horta e consertar coisas, ele amava mexer com um serrote, e eu amava o som e ficava imitando o serrote na sala de aula.

Como foi o primeiro emprego?

Eu tive uma professora maravilha, um anjo. Deus sempre coloca lindas pessoas em nossa vida, Marta Faustine professora de música foi uma delas. Ela me colocou para trabalhar na biblioteca da Escola Prof. Júlio Bierrenbach Lima eu achava uma chatice, mas fui pegando gosto pela coisa, a biblioteca me abriu um horizonte lindo e descobri o quanto bom e criativo pode ser um livro. Lá eu aprendi a trabalhar com teatro, com circo, com crianças especiais. A Marta Faustine foi o anjo que fez eu me apaixonar por livros e bibliotecas.

Você trabalhou também no Jornal Cruzeiro do Sul, como foi?

O Estado cortou a verba que ele destinava às bibliotecas escolares, então eu fui chamado pelo meu tio Álvaro Zala, que era diretor de artes do Cruzeiro. Ele me contratou. Eu comecei a trabalhar como redator de publicidade, eu não gostava do estilo da publicidade da época e comecei a criar coisas novas e a diretoria e os anunciantes gostavam muito. Quando fui trabalhar no jornal era um Alto da Boa Vista completamente diferente do que nos vemos hoje. Só existia o Jornal, a Prefeitura e o Teatro Municipal, o resto era tudo mato. Fiquei alguns anos no Cruzeiro do Sul trabalhando com muito carinho a paixão.

Como a Biblioteca Municipal Infantil apareceu na sua vida?

Estava ainda no Cruzeiro do Sul cumprindo as minhas funções, fui fazer Magistério, até que um dia a Mariza Pelegrini me ligou no jornal falando que iria ser criada a biblioteca infantil, ela me falou “você vai ganhar metade e trabalhar o dobro você topa?” Eu logo falei sim, na mesma hora levantei e fui no RH pedir minhas contas, amava meu trabalho no jornal, mas a paixão pelos livros e uma biblioteca era muito maior.

E como foi o começo a Biblioteca Infantil em Sorocaba?

Em 1985 a Biblioteca começou no Fórum Velho, mas foi inaugurada mesmo em 1986 em uma sala pequena com um acervo de pouco mais de 300 livros, uma máquina de escrever velha e só eu de funcionário, a biblioteca desde seu primeiro dia funcionando sempre teve esta característica de teatro, circo, curso de dobraduras, teatro de fantoches. Em 1990 a biblioteca veio para o prédio, da rua da Penha, que já foi uma residência e também um banco.

E você também acabou formando uma família?

Sim, em 1986 eu conheci a Luciana, mãe dos meus filhos, o João Pedro, hoje com 15 e o Fernando com 13, lá na biblioteca quando ainda era no Fórum Velho. Lembro que veio um grupo de meninas e eu estava ouvindo a música Tristão e Volta de Wagner, e ela comentou que achou a linda, eu falei “nossa você gosta, é musica clássica”, daí ela me contou que tocava piano e começamos ali uma relação que durou 20 anos, tem 4 anos que nos divorciamos, porém a amizade e carinho continuam o mesmo. Amo meus filhos e temos o compromisso de criá-los e educá-los juntos, ser pai é muito bom.

Este ano você completa 35 anos de funcionalismo público que você espera para o futuro?

Eu já entrei com o meu pedido de aposentadoria, eu sinto que já cumpri o meu compromisso, porém não quero deixar de contribuir para Sorocaba. Quero poder continuar sendo voluntário na biblioteca infantil, se me permitirem, ou em alguma outra instituição.Quero continuar com os meus passeios mitológicos e quero continuar estando em contato com pessoas. Vejo a aposentadoria com algo muito bom, porém, não quero ficar trancado em casa, vou continuar contribuindo sim com aquilo que Deus me permitir, até quando Ele desejar.

Quando falamos em Sorocaba, o que este nome representa para você?

Eu não sou historiador formado, mas me orgulho em poder contribuir com o pouco que eu sei para a cidade. Meu pai me ensinou muito sobre história, também me ensinou a ser generoso. Amo a cidade de Sorocaba, amo as coisas desta terra e da sua gente, adoro poder andar pelo Centro e ficar ouvindo as pessoas conversarem, seu sotaque, suas histórias. Sorocaba é muito grande e muito nova, a cidade recebe pessoas do Brasil todo, essas pessoas vêm com as suas culturas, com as suas tradições e as misturam com a cultura e a tradição local. Acho que nossa cidade está sempre mudando, sempre em transformação. Eu sou um contador de história, gosto de pegar os livros de Aluisio de Almeida, de Antônio Francisco Gaspar e transformá-los em algo lúdico e fácil das pessoas, e principalmente as crianças entenderem.

Bate-Bola

Família: Compartilhar

História: A minha, a sua, a nossa.

Uma saudade: Dos amigos que já se foram.

Tem medo de morrer: Nenhum.

Biblioteca Infantil de Sorocaba: Uma festa cheia de conhecimento

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