O poder do WhatsApp

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Crédito da foto: Arte Lucas Araújo

Crédito da foto: Arte Lucas Araújo

Carlos Araújo - carlos.araujo@jornalcruzeiro.com.br

Sustos de grande impacto habitualmente acontecem pela manhã. Foi assim com o Dia D, a bomba de Hiroshima, o atentado às Torres Gêmeas. Também foi dessa maneira que, certa manhã, enviei uma mensagem via WhatsApp para destino errado. Era uma mensagem de esperança para um amigo amargurado com problemas de saúde e desemprego. O envio foi direto para um grupo de trabalho com mais de 50 pessoas.

Imediatamente, entrei em pânico. Num único clic, acabei de cometer um erro de comunicação com dezenas de pessoas. Vieram as primeiras reações. Uma delas, com seguidos pontos de interrogação, queria saber o sentido da mensagem. Uma amiga do grupo alertou: “O que é isso? Apague a mensagem.” Outro me deu uma bronca: “Você ficou louco?”

Nesse instante, eu já tinha enviado mais duas mensagens nesse grupo com pedidos de desculpas. Em seguida, apaguei as três mensagens, a original e os escusas. Quem viu, viu, quem não viu, não viria mais.

Pensei na contradição: o WhatsApp é uma maravilha, mas pode se tornar uma areia movediça. Um clic indevido e eis o que basta para confundir um grupo de pessoas, invadir a tranquilidade alheia, levar mistério a corações indefesos. E se for mensagem erótica, crítica ácida, confissão de um crime, fake news? Um clic e a reputação construída em uma vida inteira vai pro brejo em questão de segundos.

Se a internet é uma revolução, o WhatsApp é a contra-revolução em todos os sentidos. Comunicação gratuita, roubou espaço de todas as outras ferramentas de conexão entre as pessoas. Antigamente o seu uso era proibido em locais de trabalho pelo potencial de distração e de ocupação de tempo. Hoje, em muitas atividades, tornou-se ferramenta indispensável de trabalho, de negócios, de laços afetivos, de aprendizagem, de cura para o tédio e a solidão. Confesso que todas essas utilidades evitaram que eu saísse do grupo para o qual enviei a mensagem com destino errado. É um grupo de trabalho e, por motivos óbvios, eu não posso me autoexcluir. Mas, por precaução, não enviei a mensagem para o destino correto. Preferi ligar para o amigo, no dia seguinte, e conversar com ele. Mais seguro.

Daqui para a frente vou ter mais cuidado com o envio de mensagens. Não custa conferir antes. Ligar o automático e clicar a função de enviar, sem a devida conferência, é atitude irresponsável. Ninguém merece. Nem você nem as pessoas que possam receber uma mensagem indevidamente. Até porque, as palavras não são inocentes. Podem fazer rir, mas também podem despertar preocupações.

Tudo isso dá a medida do poder do WhatsApp. O aplicativo de mensagem é hoje um concorrente forte da publicidade, do jornalismo, da literatura, do cinema, da televisão, do rádio, da própria internet. Ao ponto de nenhum desses canais de comunicação conseguir viver sem ele. O WhatsApp é o aplicativo central da política, do poder, da imaginação. É a verdadeira pós-modernidade.