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Vírus contamina a economia

05 de Março de 2020 às 00:01

A propagação por um grande número de países do novo coronavírus, que o mundo ainda não se acostumou a chamar de Covid-19, é um fato irrefutável.

A doença se espalha rapidamente em um mundo globalizado e dentro de pouco tempo praticamente todos os países terão em seu território alguma vítima da doença.

O Brasil já tem três casos confirmados e o mesmo deverá ocorrer com outros países da América do Sul, continente que até pouco tempo não havia registrado casos da doença.

Com o avançar do Covid-19 e os estudos realizados pelos cientistas que se debruçaram sobre o vírus, surgiram algumas informações importantes, que revelam que a doença é menos letal do que se esperava.

Já sabemos que sua taxa de mortalidade é de 2,3%, taxa que sobe entre os idosos e chega a 14,8% em pessoas com mais de 80 anos, de acordo com o Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças.

Pesquisa realizada pela mesma instituição mostra que 80% das novas infecções por coronavírus são classificadas como leves, 13,8% como graves e apenas 4,7% como críticas. Também já se sabe que o vírus ataca mais homens que mulheres e uma porcentagem menor de crianças são infectadas.

Dessa forma, a Organização Mundial de Saúde sinalizou que o Covid-19 não é tão mortal quando comparada a outros coronavírus já registrados. Dessa forma, especialistas que estudam a doença acreditam que ela se espalhará por praticamente todo o mundo, certamente causará mortes, principalmente entre pacientes mais velhos e pessoas que já tinham outro tipo de doença, mas não será a tragédia projetada inicialmente, quando os primeiros casos começaram a surgir na cidade de Wuhan, na China, entre o final do ano passado e o início deste.

Se as notícias no campo da medicina não são tão ruins, o mesmo não se pode dizer na área econômica. O Covid-19 é potencialmente perigoso para a saúde econômica global, como já vem demonstrando nas últimas semanas. Assim que surgiram os primeiros casos da doença e as primeiras mortes, o governo chinês tratou de paralisar as atividades produtivas das regiões mais afetadas, como Wuhan, inclusive prolongando o feriado do ano novo chinês.

Essa primeira medida já teve impacto global, uma vez que a região onde o vírus surgiu é uma grande produtora de componentes para a indústria automobilística. A China está se especializando muito rapidamente na produção de veículos elétricos e essa região produz não só componentes para a indústria local como para exportação.

Essa queda de produção já afetou muitas indústrias ao redor do mundo e faz lembrar os efeitos do tsunami que em março de 2011 destruiu algumas regiões litorâneas do Japão. Naquela época começavam a fazer sucesso as telas multimídia sensíveis ao toque na indústria automobilística.

Todas as grandes montadoras mundiais que estavam projetando novos veículos queriam colocar uma tela dessas no painel de seus modelos. Ocorre que o único fabricante mundial das telas de grande porte ficava em área afetada pelo desastre natural.

A fábrica foi destruída e as montadoras tiveram de improvisar para desenvolver os novos modelos com telas menores. Na China, epicentro do surto, o novo coronavírus paralisou a economia desde o início do ano, com fábricas fechadas, empregados dispensados do trabalho e produção paralisada.

Países onde há grande número de casos, como a Itália e Coreia do Sul, e que estão ajudando na propagação da doença para o resto do mundo, os estragos também são grandes. Imagine a queda no turismo italiano nos próximos meses, uma de suas principais receitas. Já se fala na queda de mais de 1% no PIB italiano neste ano.

No Brasil, que tem na China seu maior parceiro comercial, o impacto já começa a ser sentido. Desde que notícias sobre a doença passaram a circular, começaram a causar impacto nos mercados financeiros internacionais. Por conta disso, os preços do petróleo, da soja e do minério de ferro que, juntos, representaram 78% das vendas externas brasileiras em 2019, recuaram de maneira significativa.

No ano passado, 30% das exportações brasileiras tiveram como destino final a China, que é o maior comprador de nossa soja, minério de ferro e petróleo. O impacto também será sentido nas importações, pois as linhas de produção são muito dependentes de matérias-primas, insumos e componentes de vários países.

Aqui começam a sentir o golpe os fabricantes de medicamentos, de eletroeletrônicos e a indústria automobilística. O impacto maior por aqui será sentido pelos fabricantes de celulares e de equipamentos de informática, altamente dependente de componentes chineses.

A China poderá ter PIB negativo no primeiro trimestre e com o gigante asiático crescendo menos, toda a economia mundial poderá ser afetada, notadamente a brasileira, onde a Bolsa de Valores tem sentido o baque. A epidemia, ao que tudo indica, vai passar dentro de pouco tempo, inclusive com o desenvolvimento de vacinas.

Mas o impacto na economia global ainda não dá para ser calculado. Espera-se que a exemplo do vírus, não seja tão letal como se pensava no início da epidemia.