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Vacinamos cada vez menos

03 de Julho de 2018 às 15:22

Pela primeira vez em muitos anos, o Ministério da Saúde (MS) admite que há um alto risco do retorno da poliomielite para o território brasileiro. Estão sujeitas a um surto da doença 312 cidades brasileiras, sendo 44 no Estado de São Paulo. O alerta foi feito nos últimos dias do mês de junho, em reunião em que compareceram secretários municipais e estaduais de saúde.

A coordenadoria nacional do Programa de Imunização do MS informa que a situação é gravíssima e estão na lista municípios que não atingiram nem 50% da cobertura vacinal. Uma cidade com essa cobertura deficiente cria condições para a transmissão a doença no País. A poliomielite, ou paralisia infantil, é uma doença contagiosa aguda que pode infectar crianças e adultos. A multiplicação do vírus começa na garganta ou nos intestinos, locais por onde penetra no organismo. Dali, alcança a corrente sanguínea e pode atingir o cérebro. O perigo da baixa cobertura vacinal foi tema do artigo do médico Edgard Steffen do último sábado, neste jornal.

A paralisia foi praticamente erradicada dos países desenvolvidos com a vacinação sistemática das crianças, mas o vírus ainda está ativo em países da África e Ásia. Colaborou para o êxito dessa campanha o empenho internacional do Rotary Club, com suas ações de incentivo à vacinação em massa.

É para evitar a reintrodução da doença que as campanhas de vacinação devem ser repetidas todos os anos, com boa cobertura vacinal, superior a 95%. O último caso registrado no Brasil ocorreu em 1990 e quatro anos depois, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a doença erradicada das Américas.

O quadro geral do Brasil é preocupante. Segundo o MS, 15% das cidades da Bahia imunizaram menos de 50% das crianças; no Maranhão, 14,29% dos municípios também não atingiram esse número. Pelo menos 22 Estados não alcançaram no ano passado a cobertura considerada ideal e no mesmo ano 800 mil crianças estavam sem o esquema completo de vacinação, que compreende as três doses da vacina. As autoridades da Saúde entraram em alerta quando surgiu a suspeita, não confirmada, de que uma criança poderia ter sido contaminada por uma mutação do vírus na Venezuela. E o fluxo de imigrantes daquele país aumenta dia a dia. É importante lembrar que quando a vacina em gotas é dada às crianças, o vírus atenuado contido no imunizante se espalha pelo meio ambiente, onde pode ficar por até seis semanas, criando o chamado efeito rebanho, protegendo o restante da população.

No caso da vacinação contra a gripe, destinada a determinados públicos-alvo, a campanha nacional não atingiu a meta, que era imunizar 90% desse contingente composto por 54,4 milhões de pessoas. Somente 86% compareceram aos postos de vacinação e, com isso, 6,8 milhões de brasileiros dos grupos prioritários deixaram de se vacinar. No caso da febre amarela, foi a mesma coisa. Quando a doença se aproximou de grandes centros houve correria em busca de vacinas. Assim que o governo colocou vacinas em número suficiente, a procura diminuiu e hoje estão encalhadas nos postos de saúde.

A Saúde no Brasil tem sérios problemas. Geralmente há filas nos postos de saúde, consultas com especialistas credenciados pelo SUS demoram uma eternidade e a espera para cirurgias nos hospitais públicos é desumana. Mas não se pode acusar o governo de negligenciar na questão das vacinas. Elas são oferecidas gratuitamente à população, obedecem a um calendário, e se não há cobertura vacinal há problemas na falta de incentivo à imunização nas pequenas comunidades, ou desleixo dos pais, que deixam de levar seus filhos para tomar as vacinas. Há vários estudos sobre essa questão em andamento. Alguns pesquisadores acham que por não ocorrerem casos de determinadas doenças nos últimos anos, muitos acreditam que vacinação é inútil. Outros entendem que, por ser obrigatório, desestimula as pessoas. Há ainda um movimento antivacina, atuante em países desenvolvidos, que abriu portas para surtos de doenças raras. Esse modismo de país rico se for adotado por aqui, tem potencial para fazer um grande estrago.