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Vacinação: as listas da discórdia

15 de Abril de 2021 às 00:01

Além de termos de lidar com as enormes dificuldades e tristezas impostas pela pandemia do novo coronavírus, que vão desde as milhares de mortes até as dificuldades econômicas decorrentes das restrições, nos últimos meses também passamos a assistir uma disputa triste e, em alguns casos, até mesmo constrangedora.

Trata-se da briga e gritaria para ser incluído em algum grupo prioritário e, assim, tentar encurtar o caminho para a imunização.

É triste pois retrata o desespero de pessoas ou grupos diante da morosidade da vacinação. É constrangedora quando pessoas querem apenas se aproveitar de uma situação para passar à frente das outras.

Anteontem, por exemplo, agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), da capital paulista, receberam a vacina contra a Covid-19 após um erro cometido por uma enfermeira da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo.

Os agentes de trânsito -- que não fazem parte do público alvo -- receberam, por engano, uma autorização para serem imunizados. Para isso, bastaria apenas a apresentação do crachá nos postos de vacinação.

O e-mail timbrado afirmava que a vacinação era contra a Covid. No entanto, a autorização era na verdade para a vacinação contra o vírus da gripe, o H1N1.

Após imagens de agentes sendo vacinados e de cartões de vacinação circularem em redes sociais, a Prefeitura de São Paulo percebeu o erro. No mesmo dia, um novo comunicado foi enviado avisando que os agentes poderiam receber apenas a vacina contra a gripe e não contra a Covid.

A pasta diz estar apurando o que aconteceu. Não foi informado quantos agentes acabaram sendo vacinados nessa lambança.

Bastou isso para o assunto virar polêmica, claro. Os defensores da vacinação dos agentes de trânsito alegam que eles fazem parte das forças públicas, como polícia, bombeiros e Guarda Civil e, portanto, merecem ser vacinados.

Os críticos rebatem, dizendo que os agentes não têm contato direto com o público, já que atuam a distância, observando e multando veículos. É discussão para mais de metro, como quase tudo que envolve pandemia e política no País.

A vacinação dos agentes de trânsito foi causada por um erro pontual. Já no campo do acerto, dois grupos foram incluídos recentemente entre os prioritários. São eles os profissionais das forças de segurança e também da educação.

Desde o último dia 5, cerca de 180 mil policiais civis, militares e técnicos-científicos, agentes penitenciários, bombeiros e guardas civis metropolitanos começam a ser vacinados no Estado de São Paulo.

A meta é vacinar todos os integrantes de forças de segurança que estão na ativa. Já no dia 12, cerca de 350 mil professores e demais funcionários de escolas estaduais, municipais e particulares com idade a partir de 47 anos também foram incluídos na campanha.

Para profissionais da rede privada, há necessidade de apresentação obrigatória dos dois últimos contracheques para evitar fraudes. Outros segmentos da sociedade tentam ser promovidos a prioritários.

Um deles é o de profissionais do sistema público de transporte, como motoristas e cobradores. Eles alegam, com razão, estarem expostos por horas a um ambiente fechado e com possibilidade de aglomeração.

Essa tal lista de prioritários já deu pano para a manga e seguirá dando o que falar, principalmente enquanto a vacinação seguir a passos de tartaruga. Basta lembrar dos inúmeros casos de fura-filas ocorridos no início da vacinação, envolvendo até mesmo entidades conceituadas como o Hospital das Clínicas da capital.

Independentemente do grupo a ser imunizado, o mais importante é haver o cumprimento das regras. Não dá para termos o famoso “jeitinho brasileiro” na hora da vacinação. Isso precisa ser denunciado e combatido insistentemente. Afinal, até o momento a vacinação significa, em muitos casos, a diferença entre viver e morrer.