Vacina é uma luz no fim do túnel

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Finalmente o primeiro cidadão brasileiro foi vacinado contra o novo coronavírus em solo nacional. No caso, uma cidadã, a enfermeira Mônica Calazans, 54 anos, que trabalha na linha de frente do combate à pandemia, atuando na UTI do Hospital Emílio Ribas, na capital paulista.

Ela faz parte do grupo de risco por ser obesa, hipertensa e diabética. Mônica recebeu a vacina no domingo (17), logo após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso emergencial de dois imunizantes: Coronavac, da chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e a vacina desenvolvida pela universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca, a ser fabricada no Brasil pela Fiocruz. “Estou sentindo muita emoção”, afirmou a profissional da saúde após receber a primeira dose.

A emoção de Mônica foi compartilhada por muitos brasileiros que assistiram, ao vivo, esse momento histórico do País no combate à pandemia provocada pela Covid-19.

A alegria e a emoção tomaram conta das transmissões das TVs e inundaram as redes sociais com mensagens de alívio e felicidade. É compreensível e justificável. Afinal, a vacina é uma luz no fim do túnel na luta contra essa traiçoeira e mortal doença que vem assolando o mundo desde o início de 2019.

Mas, mais importante do que festejar a chegada da vacinação, é ter consciência de que se trata apenas do primeiro passo dessa trajetória que promete ser árdua e longa para todos os envolvidos. Não é hora de afrouxar os cuidados, não é hora de afrouxar o isolamento social. Pelo contrário.

É preciso seguir com as precauções, usando máscara, álcool em gel e evitando aglomerações. Isso porque os efeitos práticos positivos da vacinação ainda vão demorar um bom tempo a serem sentidos. E até lá a ordem é se cuidar ao máximo.

Em todo esse processo, é preciso salientar o papel da Anvisa, que aprovou o uso emergencial das vacinas produzidas pelo Instituto Butantan e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Apesar de ter suspendido os testes da Coronavac sem motivo aparente em novembro, a Anvisa agiu com coerência ao não adiar ainda mais o início da vacinação no Brasil, já atrasado em relação a vários outros países do mundo.

Na decisão proferida domingo, porém, houve excesso de zelo ao estipular que os vacinados terão de assinar um termo de compromisso, alegando que a vacina ainda é experimental. Mas se tal medida pode inibir a vacinação de alguém, por outro lado acerta ao apontar as limitações das vacinas e exigir esclarecimentos futuros como duração da imunidade etc. A segurança de ambos os imunizantes, único fator que justificaria o consentimento, já foi comprovada em testes clínicos.

No caso da Coronavac, segundo estudos, das pessoas que acabarem contaminadas mesmo após tomarem a vacina, 50% será assintomática. Dos que apresentarem sintomas, 78% terão sintomas leves. Por fim, 100% não terão casos graves. Ou seja, independentemente do percentual de eficácia, a vacina é muito importante para a proteção pessoal e sobretudo para diminuir o ritmo de contágio. Dessa maneira ela também ajuda a aliviar o excesso de internações e diminuir a pressão nas redes de saúde.

A partir de agora, cabe portanto ao Ministério da Saúde e aos governos federal, estadual e municipal trabalharem incansavelmente para garantir as centenas de milhões de doses necessárias a uma campanha de vacinação em massa, que se estenda a todos os cantos do país com a maior urgência possível. Será preciso cuidar da logística, garantindo insumos e pessoal necessários à imunização.

Pelo lado negativo, infelizmente, mesmo em meio a toda a festa pelo início do vacinação, não deixa de ser triste e deplorável o uso político do assunto. Enquanto milhares de brasileiros seguem sofrendo e morrendo por conta da doença, fomos obrigados a assistir bate-bocas desnecessários entre políticos, com acusações mútuas, provocações e enfrentamentos.

A politização da questão vem desde o início dos planos sobre vacinação e das compras e escolhas dos imunizantes. Também fomos obrigados a tomar conhecimento da absurda falta de logística por parte de alguns governantes, que sequer tinham garantido seringas e agulhas suficientes para a vacinação em massa. Também assistimos, impotentes, à tragédia humana ocorrida no Amazonas devido à falta de oxigênio. Que tais situações não se repitam!

Mas nesse momento, o importante é vacinar. Para a população, tanto faz quem são os primeiros a serem imunizados, de que gênero, cor, lugar etc. Tudo isso torna-se irrelevante diante da pandemia e do enorme desafio que tem sido enfrentá-la.

O que realmente importa é que as vacinas cheguem logo e que todos os brasileiros tenham acesso a elas, até que o último brasileiro seja vacinado. Só assim poderemos deixar para trás esses tempos tão tristes, preocupantes e sombrios que temos vivido desde março do ano passado.