Buscar no Cruzeiro

Buscar

Uma Semana Santa diferente

03 de Abril de 2020 às 00:01

Em uma decisão inédita, inimaginável algumas semanas atrás antes da pandemia do novo coronavírus, a Prefeitura de Sorocaba pediu apoio da Polícia Militar (PM) nas ações de fiscalização para evitar aglomerações como medidas de enfrentamento ao coronavírus.

A iniciativa tem amparo legal em decreto do governo estadual. Assim como a PM, a Guarda Civil Municipal (GCM) e a Defesa Civil também atuarão com esse objetivo para evitar aglomerações que continuam ocorrendo em alguns pontos da cidade.

Até as câmeras de monitoramento espalhadas pela cidade deverão ser usadas com o mesmo objetivo. Constatadas aglomerações pelo sistema eletrônico, uma guarnição da GCM será enviada ao local para dissolver o grupo.

Assim que tomou conhecimento da intenção da Prefeitura em solicitar apoio à Polícia Militar, a reportagem do Cruzeiro do Sul percorreu a região central e alguns bairros de Sorocaba para verificar se realmente o isolamento social tem falhas.

Constatou que embora a cidade esteja bastante vazia, são comuns aglomerações junto a agências bancárias. São geralmente idosos que necessitam de auxílio para operar caixas eletrônicos.

Casas lotéricas e alguns supermercados também causam pequenas aglomerações e foram constatadas também aglomerações em pontos tradicionais de encontro de idosos e em algumas praças, onde vivem pessoas em situação de rua.

O que certamente preocupa a Prefeitura e as autoridades municipais da área da saúde é a proximidade do dia 6 de abril, data que inicialmente marcaria o final da quarentena.

Como vem sendo divulgado, o governo estadual estuda os dados sobre o efeito do isolamento para decidir se mantém essa data ou prorroga a quarentena por mais um período. O certo é que as atividades sociais, trabalho, aulas, abertura do comércio, não retornarão de uma única vez.

Essa proximidade com o suposto fim do isolamento com certeza tem estimulado as pessoas a saírem do isolamento, o que prejudica o esforço e as medidas protetoras que vinham adotando.

A epidemia provocada pelo novo coronavírus é o maior desafio da nossa geração, nas palavras do presidente Jair Bolsonaro em um de seus últimos pronunciamentos, e assim deve ser encarada.

As pessoas precisam ficar atentas às orientações do Ministério da Saúde e das autoridades sanitárias locais, e por enquanto a ordem é o isolamento social.

Maior exemplo de mudança de hábitos e, no caso, uma tradição centenária, são as alterações que a Igreja Católica fará nas celebrações da Semana Santa deste ano, data que, ao lado do Natal, é a mais importante para os católicos de todo o mundo.

Algumas das celebrações tradicionais, que normalmente lotam a Catedral Metropolitana de Sorocaba, por exemplo, serão realizadas, mas a portas fechadas, para preservar a saúde dos fiéis. A determinação está em um documento assinado por dom Julio Endi Akamine, arcebispo de Sorocaba, e distribuído na última terça-feira para a Arquidiocese.

Para tomar essa decisão, dom Julio levou em consideração principalmente as restrições e impedimentos das autoridades sanitárias e as adaptou às celebrações da Semana Santa, que normalmente atraem um grande número de fiéis.

O líder religioso lembra que boa parte dos fiéis que acompanham as celebrações litúrgicas da Igreja pertence ao grupo de risco ou cuidam dessas pessoas e não seria possível controlar ou limitar o número de fiéis que tomariam parte das celebrações religiosas se estas fossem realizadas nas igrejas com as portas abertas.

A Missa da Ceia do Senhor, a Paixão do Senhor e a Vigília Pascal ocorrerão com a Igreja Catedral vazia. O Tríduo Pascal não pode ser transferido e, por isso, será celebrado nas igrejas sem a presença dos fiéis.

Também não será realizada a tradicional procissão do Senhor Morto, que atrai todos os anos milhares de fiéis para a região central da cidade. Apresentações da Paixão de Cristo realizada todos os anos em alguns bairros também estão suspensas.

Várias cerimônias como a Via Sacra, serão realizadas a portas fechadas serão transmitidas pela internet ao vivo. E o Sermão das Sete Palavras, um ponto importante na liturgia da Semana Santa, será gravado pelo arcebispo e divulgado nas redes sociais.

Para este domingo, o Domingo de Ramos no calendário das celebrações pascais dos católicos, dom Julio convoca a participação dos fiéis de forma diferente. Ele pede que celebrem a data em suas residências e exponham ramos na porta, janela ou portão, testemunhando assim, simbolicamente, a aclamação do Senhor que entra em Jerusalém.

Neste período de provações e isolamento, dom Julio afirma que nem todo o sofrimento é bom e nem todo o sofrimento nos torna melhores. “Mas nos unindo a Cristo, temos certeza de que todo o sofrimento que a pandemia provoca em nós terá proveito para a meditação, para o bem das pessoas”. Que assim seja.