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Teremos água no verão?

16 de Outubro de 2019 às 00:01

Moradores de alguns bairros de Sorocaba, principalmente nas regiões norte e oeste -- as áreas mais populosas da cidade, por sinal -- foram surpreendidos com falta de água no primeiro fim de semana com altas temperaturas da primavera.

Embora o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) tenha informado que o abastecimento teria sido normalizado na madrugada de domingo, eram muitas as reclamações de falta de água em pontos distintos da cidade durante a segunda-feira e ainda ontem.

Segundo informações da autarquia, além de problemas pontuais na rede de abastecimento da cidade, como o rompimento de um anel de distribuição na avenida Itavuvu, durante as obras do BRT e a queima de um transformador, foi necessário o desligamento na tarde de sábado do sistema de bombeamento de cinco reservatórios que abastecem bairros das zonas norte e oeste da cidade.

Em consequência, foi prejudicado o abastecimento das regiões mais altas diante da falta d’água na Estação de Tratamento de Água (ETA) do Cerrado, “por conta do consumo elevado devido ao calor”.

Se foi necessário desligar bombeamento para reservatórios e houve falta d’água na principal estação de tratamento da cidade, que recebe água diretamente da represa do Clemente/Itupararanga no primeiro final de semana com altas temperaturas depois de um inverno rigoroso, o que acontecerá quando chegar o verão, quando teremos certamente semanas e semanas seguidas com temperaturas elevadas?

Não há informação recente sobre o nível da represa de Itupararanga, de onde o Saae capta praticamente 80% da água da cidade.

Se estiver com nível baixo será uma exceção no Estado de São Paulo, onde os grandes reservatórios trabalhavam ontem com nível considerado “excelente”, de acordo com o site Nível de Água e São Paulo, que monitora o nível das principais represas.

Estavam com nível excelente os reservatórios de Alto Tietê, Guarapiranga, Alto Cotia, Rio Grande e Rio Claro. O reservatório de São Lourenço estava com nível considerado “bom” e Cantareira (44,5%) com nível considerado “normal” para esta época do ano.

O regime de chuvas não pode ser tão diferente em Itupararanga do restante do Estado a ponto de afetar somente esse reservatório.

O Saae tem outras represas, também locais de captação, mas com capacidade de armazenamento infinitamente menor. A represa do Ferraz, no Éden, é utilizada basicamente para atender a zona industrial e bairros próximos, e Ipaneminha, na zona oeste, que tem sua água tratada também na ETA do Cerrado.

No Éden, onde o sistema é mais precário e precisa receber auxílio da ETA Cerrado para dar conta do abastecimento em algumas épocas do ano, não faltou água nos últimos dias, pelo que se sabe.

Aumento de consumo de água em dias muito quentes é absolutamente previsível e o Saae deveria estar preparado para esse aumento de demanda, principalmente nos finais de semana.

Dessa maneira, a autarquia fica devendo uma explicação convincente do que está acontecendo com o serviço de captação e distribuição de água.

Há outro aspecto que precisa ser discutido com seriedade. Toda vez que há cortes no abastecimento nos bairros, cada vez mais frequentes nos últimos meses, quando a água retorna, além de muita pressão de ar na rede, a água que chega às residências é extremamente suja, escura, imprópria para consumo.

Como as residências utilizam a água de seus reservatórios durante o período de corte, as caixas d’água são completadas por esse líquido sujo, contaminando todo o reservatório e obrigando muitas vezes seu esgotamento, até que a água possa ser utilizada novamente.

Ou seja, o consumidor fica sem abastecimento e quando a água retorna ele paga por um líquido de péssima qualidade que não pode ser usado, nem para lavar roupa. Um grande desperdício de água.

O curioso é que periodicamente a autarquia realiza campanhas de esclarecimento pedindo que a população mantenha as caixas d’água limpas e higienizadas, uma condição praticamente impossível com os constantes cortes de abastecimento.