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Sorocaba balança, mas não cai

14 de Abril de 2019 às 00:01

Nesta semana que passou, Sorocaba foi novamente sacudida por notícias envolvendo secretários, desvios de dinheiro e polícia. Numa ação que mexeu com os nervos da política local e a imaginação de muitos cidadãos que acompanharam o desenrolar da operação Casa de Papel, desde antes das sete horas da manhã da segunda-feira passada, secretários municipais foram trocados, outros se demitiram, centenas de suposições e desconfianças pairaram no ar da Manchester Paulista, que vem de tempos em tempos ocupando o noticiário nacional, como o caso Bendine -- ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras -- preso nesta cidade e agora em liberdade novamente. Outro caso muito famoso, de triste lembrança, foi o escândalo que ocorreu durante a administração municipal de Vitor Lippi (2012), agora deputado federal (PSDB), relacionado à Operação Pandora, que investigou um esquema que facilitava a liberação de funcionamento de postos de combustíveis e comércio mediante o pagamento de propinas. Foram envolvidos secretários municipais de sua gestão e, na mesma investigação, descobriram um outro escândalo que resultou na prisão de outro secretário acusado de pedofilia. Coisa muito feia. Houve também a Operação Águas Claras, que investigou esquemas de direcionamento de licitações e superfaturamento de contratos envolvendo o Saae e empresas do setor.

Os acontecimentos desta semana foram longe, com muita reverberação em Brasília, em especial pela quantidade de policiais civis envolvidos, mais de 60. Foram seis meses de investigações para numa manhã extremamente chuvosa, num xeque-mate, apreenderem toda a documentação necessária, sem algemas ou pessoas presas. O objetivo é concluir o inquérito para ser apresentado à Justiça, dando plena oportunidade para todos os acusados e delatores apresentarem seus pontos de vista. O que se sabe até agora, como explicou alta fonte da investigação, é apenas a pontinha do iceberg.

Se por um lado o remelexo acontecido na Prefeitura, que parece viver um voluntário “thriller” de suspense a cada semana, desde o tema com idas e vindas de processos de afastamentos entre prefeito e vice, por outro nos dá o alivio de saber que homens públicos estão sendo avaliados, investigados, acompanhados em suas atividades e, com muita frequência tendo que se explicar para a Justiça e à população suas decisões e projetos.

Há um lado muito positivo nisso tudo. O tempo de varrer para debaixo do tapete, se não desapareceu totalmente, mostra que ou falta tapete ou este encurtou a ponto de não ser possível varrer tudo. E se por um lado os desvios tendem, ainda, a serem encobertos, também há uma outra ação de varrê-los para fora da vida pública. Será que, finalmente, estamos considerando os custos dos impostos e taxas pagas com nosso trabalho nessa estrutura chamada Administração Pública?

Provavelmente o sorocabano está entendendo que não há nada que aconteça na cidade que antes não atinja primeiro o seu bolso, e somente o amadurecimento e a prática da política transparente darão confiança e certeza de progresso à cidade. Isso exige, também, que tenhamos paciência com as autoridades e delas recebamos, em contrapartida, gestos, ações de confiança que atuarão dentro da legalidade e da ética. A obrigação de provar confiança, como acontece no caso da culpa ou inocência, é do agente público. Suas decisões não são mais aceitas de modo tácito ou pacífico. Todas as ações dos mandatários e de seus secretários e assessores estão sob supervisão da população. Aos poucos vamos criando uma identidade dos direitos, uma força de povo e uma razão de Nação para expurgar o que for possível de corrupção e desvios das cidades mais isoladas ao planalto.

Por outro lado, não devemos viver um caça às bruxas, uma época de Torquemadas e Savonarola da Santa Inquisição. Somos melhores que isso, evoluímos. Toda e qualquer ação que possa resultar em julgamento político e que gere desconfiança, perda de mandato ou exoneração de cargos, não pode ser feito de modo afobado. Ou pior, oportunista. Não queremos mais, como sociedade e País, ficar presos às explicações oficiais. Juntos devemos investigar, compartilhar, discutir e interferir nas ações do Estado. O equilíbrio entre esses entendimentos precisa ser melhorado.

Não devemos ver como negativas as ações policiais e da Justiça e nem como panaceia de uma perseguição implacável aos maus. É obrigação das justiças e órgãos afins, controladorias, receita federal, zelar pela boa condução das práticas políticas e econômicas da cidade e nelas próprias.

Sorocaba mais ganha que perde com essas ações que tiram as pessoas do conforto e nos obrigam a raciocinar sobre os rumos da cidade que escolhemos para viver -- e pagar impostos e taxas. São ações que põem à mostra a administração municipal. É antes de tudo um momento de celebrar a participação popular e a atuação independente dos poderes.

Sorocaba balança, mas não cai.