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Retrato da família brasileira

05 de Outubro de 2019 às 00:01

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de publicar a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018. São dados atualizados e importantes para quem se interessa em conhecer -- em detalhes e em números -- a realidade da população brasileira no que diz respeito a suas fontes de rendimentos e hábitos de consumo.

A um ano das eleições municipais, conhecer pelo menos parte desses números representa uma boa imersão para os futuros candidatos na realidade brasileira. Aos eleitos no ano passado, uma oportunidade de conhecer o que é a vida real dos cidadãos, suas dificuldades e as razões de seus apertos financeiros.

A Pesquisa de Orçamentos Familiares levanta com detalhes a origem dos rendimentos das 69 milhões de famílias brasileiras e como esses recursos são gastos, quais as prioridades reais da população. A pesquisa divulgada nesta sexta-feira (4) mostra dados importantes.

Descobriu-se, por exemplo, que, pela primeira vez, os gastos das famílias com transporte superaram pela primeira vez os de alimentação. Os recursos destinados ao transporte passaram de 19,6% em 2008-2009 para 18,1% em 2017-2018. A porcentagem destinada à alimentação caiu de 19,8% para 17,5% no mesmo período.

A alimentação representa 22% dos gastos das famílias com rendimentos de até dois salários mínimos. Especialistas afirmam que à medida que a renda de uma família aumenta, diminui a participação do gasto com alimentação. Uma família que passa a ganhar o dobro não vai duplicar os gastos com alimentos, mas sim gastar em outras coisas.

E no caso dos alimentos, é possível substituir alguns produtos por outros mais baratos. No caso do transporte, isso é impossível, pois as pessoas estão reféns do que o poder público lhes oferece, geralmente um transporte precário, sucateado e que consome várias horas por dia em deslocamentos. As famílias também aumentaram a destinação de recursos para assistência à saúde e educação.

O levantamento mostra que as famílias gastaram, em média, R$ 4.649,03 por mês em 2018. As despesas de consumo representam 81% desse total e foi possível perceber que na última década aumentaram os gastos com habitação, saúde e educação, enquanto a fatia de recursos destinada a transporte e alimentação encolheu. De acordo com os dados da pesquisa, as despesas com habitação consumiram a maior parte dos orçamentos familiares: 36,6%.

Há outros dados importantes. A pesquisa mostra que 2,7% das famílias brasileiras concentram praticamente 20% da renda do País. São, ao todo, 1,8 milhão de famílias que têm rendimento superior a R$ 23.850 mensais.

No lado oposto, a pesquisa mostra que um quarto das famílias do Brasil (25%) recebe menos de dois salários mínimos por mês e apropriam-se de 5,47% da renda. Essa categoria engloba 44,8 milhões de pessoas, o equivalente à população do Estado de São Paulo.

A pesquisa revela que quase 25% da renda nos Estados do Nordeste vêm de aposentadoria e programas sociais e que, com a crise, cresceu entre as famílias brasileiras a dependência de aposentadorias e programas sociais.

Além das desigualdades regionais, infelizmente um problema histórico no País, há grande desigualdade entre as classes de renda.

Há ainda uma constatação muito oportuna nestes tempos em que a reforma da Previdência, uma das prioridades do atual governo, está sendo analisada no Senado. De acordo com a POF, as famílias com renda superior a 25 salários mínimos recebem, em média, R$ 4.276,02 com pensões e aposentadorias.

Já aquelas com renda inferior a dois salários mínimos recebem, em média, R$ 207,17. Do total recebido pelos mais pobres, R$ 197,32 vêm do INSS. No caso dos mais ricos, as aposentadorias públicas têm peso maior: R$ 3.037,24 por mês, ante R$ 1.238,78 dos benefícios do INSS.

O trabalho mostrou também que em uma década os brasileiros passaram a gastar mais com impostos e pagamento de dívidas, diminuindo o espaço no orçamento para investimentos em seu patrimônio, como a construção ou melhoramento de imóveis próprios.

As famílias gastaram 11,7% com impostos e contribuições trabalhistas e 3,2% no pagamento de dívidas. Para o aumento do patrimônio foram destinados, em média, apenas 4,1% do orçamento familiar. A Pesquisa de Orçamentos Familiares é rica em informações e fonte importante para o poder público inteirar-se sobre as receitas e as despesas das famílias brasileiras e com isso orientar melhor suas políticas de investimentos e programas sociais.