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Pouco para comemorar

02 de Maio de 2020 às 00:01

Os trabalhadores brasileiros tiveram muito pouco para celebrar no dia de ontem, 1º de Maio, data comemorativa dedicada aos trabalhadores. Todas as festividades tradicionais, geralmente eventos reunindo milhares de pessoas, foram canceladas por conta do isolamento social em vigor no País e a situação do mercado de trabalho não oferece motivos para comemorações.

Se até o mês de fevereiro assistíamos a um crescimento bastante modesto do número de empregos formais, a chegada do coronavírus e suas consequências atuaram como um tsunami no mercado de trabalho, derrubando todas as projeções de aumento de vagas e da atividade econômica.

A quarentena no Estado de São Paulo começou no dia 24 de março e desde então o maior parque industrial do País e certamente a maior estrutura comercial da federação fecharam suas portas temporariamente.

Continuaram funcionando apenas os considerados serviços essenciais, como supermercados, farmácias e mais alguns ramos do comércio. O impacto dessa freada na atividade econômica é muito grande e certamente será tema de estudos acadêmicos e teses nos próximos anos.

Mais de um mês depois do início da quarentena e sem atingir o pico da epidemia, segundo as autoridades da Saúde, há uma grande dúvida de quando as coisas começarão a voltar ao normal.

As grandes indústrias, geralmente bem organizadas, apelaram para uma série de recursos para manter funcionários, como antecipação de férias, entre outras medidas, mas muitas demissões ocorreram.

Embora as estatísticas que incluam todo o mês de abril, o mês em que praticamente o Brasil parou, ainda não tenham sido concluídas, já existem alguns dados para mostrar a tragédia. O movimento comercial, por exemplo, teve uma queda de 20% entre os dias 17 de março e 15 de abril em relação aos 30 dias anteriores.

E esses dados mostram só o início do impacto da quarentena imposta para combater o novo coronavírus. O segmento mais afetado pela quarentena foi o de móveis e eletrodomésticos, que registrou um declínio de mais de 56% nesse período.

Outro setor do comércio a sofrer grande queda foi o de combustíveis e lubrificantes, que amargou uma queda de quase 10% nesses 30 dias. O segmento que engloba supermercados, bebidas e alimentos foi o único a não sofrer perdas significativas, registrando uma retração de apenas 0,5% no mesmo período.

Todo esse baque nas vendas afeta diretamente o número de empregos, tanto de grandes empresas como de pequenos varejistas.

Levantamento divulgado pelo IBGE nesta semana, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) mostra que 1,218 milhão de pessoas ficaram desempregadas em um trimestre. Com isso, a taxa de desemprego passou de 11,0% no trimestre que terminou em dezembro de 2019, para 12,2% no trimestre que terminou em março deste ano. No último dia 30 o País somava 12,850 milhões de pessoas procurando emprego.

A taxa de informalidade atingiu 39,9% da população ocupada, o que representa quase 37 milhões de trabalhadores nessa condição.

Diante de todo esse quadro de desemprego esse é o setor que mais sentiu o baque. O levantamento do IBGE mostra que número de trabalhadores por conta própria chegou a 24,2 milhões. Mas uma pesquisa realizada por um instituto privado revela que metade dos brasileiros que atuava como autônomos antes das medidas de isolamento social foi obrigada a ficar sem trabalhar.

Segundo esse levantamento, 51% dos autônomos, incluindo profissionais liberais que atuam por conta própria ou donos de pequenos negócios, não estão trabalhando, enquanto que 36% continuam trabalhando mesmo isolados. O restante segue saindo de casa para exercer suas atividades, mesmo com o isolamento.

Parte dessas pessoas está se inscrevendo no programa de ajuda criado pelo governo que está distribuindo R$ 600 por três meses, mas muitos, principalmente os mais humildes, não conseguem sequer ter acesso a esse programa.

Além dessa ajuda de emergência, o governo federal tem trabalhado com programas de preservação de empregos que a cada dia têm se mostrado bastante úteis.

Uma delas é a medida que permite a suspensão dos contratos de trabalho e o outro é a que permite a redução da jornada de trabalho com diminuição proporcional do salário, com o governo compensando parte da perda salarial dos trabalhadores.

Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, esses programas já teriam preservado quase 5 milhões de vagas formais. Sem elas, o número de desempregados teria disparado já no mês de abril, acompanhando o que vem acontecendo em alguns países.

A maneira como a retomada da atividade econômica for conduzida após esse período crítico, com foco na recuperação do mercado de trabalho, mostrará se teremos motivos para comemorações no próximo dia 1º de Maio.