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Ponto fora da curva

11 de Julho de 2020 às 00:01

O combate à pandemia causada pelo novo coronavírus na região de Sorocaba, desde que surgiram os primeiros casos no Brasil, é completamente desencontrado. Mesmo quando o governo estadual centralizou as decisões e ações de combate à Covid-19 e os municípios começaram a se preparar para os casos que inevitavelmente surgiriam, houve muito desencontro entre as diferentes cidades.

Mesmo no início da quarentena, no mês de março, nenhum município atingiu a meta de 70% de isolamento, nem nos domingos e feriados, o que não foi de muita ajuda para evitar que a doença se espalhasse.

Apesar do comércio e serviços fechados, a imprensa cansou de noticiar a realização de bailes funk com centenas de pessoas, bares abertos na periferia e festas em chácaras reunindo centenas de pessoas.

É evidente que uma quarentena tão mal administrada resultaria no aumento considerável de casos em Sorocaba e região, lotando hospitais e obrigando o poder público a criar cada vez mais vagas de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

Tivemos de tudo na região. A Prefeitura de São Roque, por exemplo, recusou voltar à fase vermelha determinada pelo Plano São Paulo de Retomada das Atividades Econômicas. A administração municipal ganhou uma liminar para continuar abrindo estabelecimentos comerciais não essenciais, até que foi obrigada a cumprir o decreto estadual por decisão do Tribunal de Justiça do Estado.

A Prefeitura acatou a determinação judicial, mas recorreu para que o comércio pudesse voltar a funcionar com mais folga. Esse tipo de posicionamento de uma Prefeitura em nada ajuda o combate à pandemia. Como o exemplo vem de cima, os cidadãos acabam relaxando nas medidas de prevenção e distanciamento, o que só beneficia a propagação do vírus.

Votorantim também adotou uma política meio confusa de isolamento. Depois de permitir que o comércio não essencial funcionasse no município, em período que Sorocaba voltava a restrições mais fortes, teve de voltar atrás por conta do aumento de número de casos e óbitos, além da alta taxa de ocupação dos leitos hospitalares.

A partir de então, a Prefeitura de Votorantim adotou uma postura mais rígida e obrigou comércio e serviços a fechar às 19 horas nos dias de semana e às 14 horas aos sábados. A situação mais esdrúxula - e por isso mesmo foi notícia divulgada em nível nacional - foi a permissão para que um shopping center localizado na divisa entre Sorocaba e Votorantim abrisse as lojas localizadas neste último município e que permanecessem fechadas as que se encontravam dentro dos limites de Sorocaba. Ou seja, qualquer esforço para conter o avanço da doença naquela região da cidade foi para o brejo.

Mas há um município na Região Metropolitana de Sorocaba que pode ser considerado um ponto fora da curva. Em Porto Feliz, desde o início da pandemia, no mês de março, foram adotadas medidas rígidas de isolamento social e de fiscalização de atividades.

Desde o início do processo de isolamento, quem desrespeita as regras pode ser multado pela municipalidade caso realize festas, aglomerações, comemorações ou reuniões de qualquer tipo em casas, chácaras, sítios, apartamentos, fazendas e até áreas de uso comum em condomínios.

Pessoas em situação de rua são orientadas pela Guarda Civil Municipal a não ficarem aglomeradas. São comuns também, nas vias de acesso a Porto Feliz, blitze em que motoristas e passageiros recebem orientações e têm a temperatura corporal medida. Consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos está proibido desde o dia 1º de julho, para reforçar as medidas de distanciamento.

Com fiscalização mais rigorosa, as limitações nas atividades comerciais, como ocorreu nos demais municípios, impactaram a economia, mas muitos estão conscientes de que o impacto nas vendas é momentâneo e tem como objetivo o bem comum, que é desacelerar a transmissão do vírus.

O município teve 354 casos confirmados, 305 curados e apenas seis óbitos até a última quinta-feira. Mas a grande diferença entre aquele município e os demais é o protocolo profilático estabelecido pelo prefeito Cássio Prado (PTB), que é médico por formação.

Esse protocolo prevê o tratamento precoce da doença. Desde o final do mês de março, quando surgiu o primeiro caso confirmado, a Prefeitura distribui por meio da Secretaria da Saúde o “kit-Covid-19”, composto pelos medicamentos hidroxicloroquina, azitromicina, celecoxibe 200mg e metroclopramida e é distribuído gratuitamente para a população.

Em alguns casos, para profissionais da saúde, mediante receita médica, foi disponibilizado Ivermectina. Esse medicamento foi utilizado em moradores de um quarteirão que, por coincidência ou não, ninguém teve Covid, enquanto nas quadras ao redor, foram registrados casos.

Protocolo parecido já foi utilizado em Madri com sucesso e inspirou o prefeito a adotá-lo. É um tratamento polêmico, que encontra restrições em alguns organismos de saúde, mas que, ao que parece, vem dando bons resultados no município vizinho. O número de doentes recuperados e o baixo número de mortos jogam a favor do trabalho daquela prefeitura.