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Patrimônio do crime

24 de Novembro de 2020 às 00:01

A Polícia Federal iniciou nesta segunda-feira (23) a operação Enterprise, que a própria instituição chama de “maior operação do ano” no combate ao narcotráfico e à lavagem do dinheiro resultante dessas operações criminosas, sobretudo em milionárias transações internacionais.

O comando da operação ficou com a Polícia Federal de Curitiba que trabalha junto com a Receita Federal nessa megaoperação.

Informações iniciais divulgadas na manhã desta segunda-feira (23) mostram que aproximadamente 670 policiais e mais 30 servidores da Receita Federal saíram a campo para cumprir 149 mandados de busca e 66 mandados de prisão em dez Estados brasileiros.

A Interpol também foi acionada e está trabalhando em conjunto. Para se ter uma ideia da envergadura da operação, o bloqueio de bens do narcotráfico que atingiu R$ 1 bilhão entre imóveis, veículos de luxo e aeronaves. É o maior montante do ano em sequestro patrimonial.

Entre as apreensões estão 37 aeronaves, uma delas avaliada em 20 milhões de dólares, imóveis, carros de luxo, passaportes falsos e mais de 11 milhões de euros escondidos em uma van em Lisboa, Portugal, onde funcionava um braço da organização.

A facção criminosa usava laranjas e empresas de fachada no Brasil e no exterior, em diversas etapas do tráfico, mas principalmente para a lavagem de dinheiro.

Descobriu-se também que o dinheiro era injetado em transações imobiliárias, compra e venda de veículos e empresas em recuperação judicial.

A operação começou a ser planejada em setembro de 2017, quando uma grande quantidade de cocaína foi apreendida no porto de Paranaguá, o que explica a coordenação da operação estar no Paraná.

Não foram divulgadas as cidades onde as investigações estão sendo realizadas, nem detalhes da operação que movimentou a PF nesta segunda-feira (23).

O que se pode dizer é que operações dessa envergadura são necessárias e urgentes, uma vez que se percebe a expansão do tráfico a parâmetros inimagináveis e movimentando quantias milionárias. O narcotráfico tem estendido seus tentáculos a todos os Estados da federação e cada vez mais é possível ver sua presença na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS).

Para mencionar apenas algumas ocorrências, vale lembrar que no final de setembro a Polícia Federal apreendeu em Araçariguama, na RMS, pouco mais de 673 quilos de cocaína.

Pela manhã do mesmo dia, outros 705 quilos foram apreendidos pela Polícia Rodoviária de São Paulo na rodovia dos Imigrantes. No mês de julho, novamente a Polícia Rodoviária apreendeu entre 300 e 400 kg de cocaína na rodovia Castelo Branco escondidas em um fundo falso de uma carreta.

Um pouco antes, no mês de março, a Polícia Militar localizou uma propriedade entre Votorantim e Piedade onde havia mais de 50 quilos de cocaína e um laboratório montado para o refino dessa droga. É um indício muito forte de que quadrilhas têm agido na região.

E não podemos esquecer que dois helicópteros foram apreendidos em cidades vizinhas a Sorocaba carregados com pasta base de coca. Em setembro, um piloto de helicóptero teve que fazer um pouso forçado no município de Ibiúna. A aeronave foi abandonada no local.

Momentos antes, a mesma aeronave havia pousado em área de mata de Piedade onde foi descartada uma carga com 250 kg de pasta base de coca. Situação semelhante ocorreu no mês de julho. Um helicóptero semelhante caiu na área rural de Ibiúna. O piloto e o acompanhante conseguiram fugir, mas em seu interior foram encontrados 230 kg de pasta base.

Para se ter ideia da quantidade de drogas que têm sido apreendidas, é possível recorrer a um filme policial dos anos 1980 que se tornou clássico do gênero, Scarface, dirigido por Brian De Palma e escrito por Oliver Stone.

Em determinado momento da fita, o personagem interpretado por Al Pacino, antes da guerra aberta com um cartel colombiano, comenta que a transação gigantesca de drogas que havia assumido envolvia 150 quilos de cocaína, uma quantidade estratosférica para a época.

A quantidade de cocaína e mesmo de pasta base de coca apreendida na Região Metropolitana de Sorocaba somente neste ano ultrapassa várias vezes essa referência.

A operação iniciada ontem deve prosseguir. A identificação de laranjas e empresas fantasmas que movimentam quantidades gigantescas de dinheiro é sinal de que a PF está no caminho certo. Identificar todo o bando e conseguir descapitalizar o grupo, será uma vitória a ser comemorada.