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Pandemia e saúde mental

21 de Maio de 2020 às 00:01

A Organização das Nações Unidas apontou em um relatório divulgado na semana passada que a pandemia do novo coronavírus pode desencadear sérios problemas psicológicos em muitas pessoas, sempre associados ao luto, ao medo de contrair a doença e ao medo do desemprego.

O impacto da pandemia na mente das pessoas e, principalmente, consequências do isolamento social adotado em praticamente todos os países em diferentes graus, passa a ser alvo de estudos de especialistas que temem o surgimento de muitos problemas psicológicos durante e após a pandemia.

A situação é tão preocupante que o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, declarou que o esforço global para combater o coronavírus esconde a disseminação dos problemas de saúde mental. Segundo ele, é inegável que a pandemia está afetando famílias e comunidades, causando estresse.

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Guterres lembra que mesmo quando a pandemia está sob controle, a dor, a ansiedade e a depressão continuam afetando as pessoas e comunidades. O relatório da ONU aponta como altamente preocupante o estresse relacionado ao medo de contaminação ou que a doença, que já matou quase 400 mil pessoas em todo o mundo desde que surgiu na China no final do ano passado, contamine membros de sua família.

Também aponta o forte impacto psicológico nas pessoas que perderam ou podem perder suas fontes de renda e naquelas que foram separadas de seus parentes ou passaram por longos períodos de confinamento.

Estudos da Organização Mundial da Saúde constatam que os profissionais que atuam na linha de frente do combate à doença trabalham em condições imensamente estressantes e se tornam vulneráveis a problemas psicológicos.

Também vem sendo bastante investigado o impacto causado em crianças e mulheres forçadas a ficar em casa, que acabam ficando mais expostas a violências domésticas. Há ainda as aflições que atingem os idosos e pessoas que têm doenças crônicas, que fazem parte dos grupos de alto risco para a Covid-19. Essas pessoas podem desenvolver ansiedade por medo de se contaminar e ter a doença de forma grave.

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Os reflexos da pandemia na saúde mental dos adolescentes e jovens também preocupa. Uma pesquisa realizada pelo instituto YoungMinds, organização não-governamental especializada na saúde mental dos jovens, mostra que o coronavírus e suas consequências, principalmente o isolamento social, está tendo um efeito profundo na vida das pessoas dessa faixa etária.

Em geral, diz o estudo, os jovens entendem a necessidade das medidas de distanciamento social, mas isso não diminui o impacto na sua saúde mental. Muitos dos que participaram da pesquisa relataram problemas para dormir, ansiedade, ataques de pânico e até desejo de se automutilar.

Para fazer frente a esses problemas criados pela pandemia, vários municípios criaram serviços para dar apoio emocional a quem precisa e Sorocaba foi um deles. Há uma semana está funcionando o Programa Escuta Acolhedora, ligado à Secretaria de Saúde do município, conforme revela reportagem publicada na edição de hoje deste jornal.

O programa conta com o trabalho de terapeutas e psicólogos que conversam por telefone com quem procura pelo serviço em busca de ajuda. Ele é destinado a pessoas com mais de 18 anos e quatro ramais telefônicos ficam livres de 8h às 18h de segunda a sexta-feira.

Na primeira semana de funcionamento foram registradas 80 ligações de pessoas em busca de auxílio e segundo os responsáveis pelo programa, o luto, a solidão causada pelo isolamento e dificuldades financeiras são os principais fatores relatados nos telefonemas.

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O atendimento feito pelos especialistas, conforme mostra a reportagem, tem duração média de 30 minutos, tempo necessário para a formação de vínculo entre a pessoa que ligou e o especialista, e para abordagem dos problemas. De acordo com a coordenadora do serviço, o contato telefônico tem como foco a diminuição de danos psíquicos e auxiliar as pessoas a lidar melhor com a questão da epidemia e do isolamento social.

E é importante que as pessoas saibam que mesmo após o fim do distanciamento social decretado pelas autoridades, as coisas vão demorar um tempo para voltarem ao normal. Certo isolamento, cuidados de higiene específicos e distanciamento físico das pessoas, hábitos adquiridos nos últimos dois meses, deverão permanecer por algum tempo. Pelo menos até que seja descoberta uma vacina que impeça o contágio pelo novo coronavírus.