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O perigo dos eventos populares

09 de Junho de 2020 às 00:01

Na última quinta-feira, a Prefeitura de Sorocaba divulgou a informação de que a Feira da Barganha, evento extremamente popular realizado junto ao Horto Florestal, estaria liberado para o último domingo, uma decisão preocupante visto que as feiras ali realizadas atraem milhares de pessoas de todas as regiões da cidade e onde seria difícil manter o distanciamento e algumas regras previstas no Plano São Paulo de reabertura econômica.

A Feira da Barganha, assim como outros eventos promovidos pelo poder público municipal, foram suspensos no final do mês de março, acompanhando as determinações do governo do Estado para a quarentena. O recinto do evento foi fechado e sua reabertura só começou a ser discutida na semana passada, com a flexibilização das regras de distanciamento em todo o Estado, novamente obedecendo as diretrizes do governo estadual.

Um dia depois da divulgação da liberação da feira, o Ministério Público do Estado de São Paulo enviou um ofício à Prefeitura recomendando a não realização do evento, uma vez que o ato de liberação do comércio da feira se mostrava em descompasso com as normativas estaduais. A promotora encarregada do caso lembrou ainda que a Feira da Barganha é realizada em espaço público e de acordo com o plano do governo estadual a abertura de espaços públicos não está prevista na atual fase em que o município de Sorocaba está inserido.

Na mesma sexta-feira, a Prefeitura acatou a recomendação do Ministério Público e suspendeu a realização da feira por tempo indeterminado. No mesmo dia, a Justiça, também acionada pelo MP, determinou que o evento não poderia ocorrer. Julgou que o acordo feito entre a Prefeitura e a Associação dos Barganheiros para a realização da feira é ilegal e determinou a aplicação de multa de R$ 100 mil em caso de descumprimento. O magistrado que tomou a decisão lembrou que eventos dessa natureza apresentam riscos à saúde pública dado o potencial de contaminação de pessoas, ainda que sejam adotadas algumas medidas preventivas.

A Feira da Barganha, um evento que começou a ser realizado em Sorocaba no final da década de 70 do século passado, aproveitando uma antiga tradição dos sorocabanos tradicionais, sempre dispostos a trocar ou comprar objetos usados. Originalmente o encontro era realizado na praça Frei Baraúna, sempre foi bastante concorrido, e tornou-se uma opção de lazer e negócios. Depois de ser realizada em vários locais, encontrou seu local definitivo junto ao Horto Florestal, zona norte da cidade. São cadastrados 322 barganheiros fixos, sem contar as pessoas que levam objetos para troca ou venda. Acredita-se que em um domingo movimentado perto de dez mil pessoas circulem pelo local, um risco imenso em tempos de pandemia.

Em termos práticos, seria impossível a entidade que reúne os barganheiros manter o distanciamento entre vendedores e compradores no recinto onde é realizada a feira. Mesmo com um grande contingente de guardas municipais e policiais seria muito difícil manter afastadas milhares de pessoas em um tipo de comércio em que a conversa e a pechincha fazem parte do jogo.

A abertura controlada do comércio, com horário e ocupação limitados nem sempre dá bons resultados. O movimento registrado nos últimos dias na região central de Sorocaba mostrou que milhares de pessoas se expuseram à contaminação do novo coronavírus. Quem esteve nas ruas centrais comparou o movimento do último sábado ao de registrado na véspera do Natal, tamanho era o número de compradores se acotovelando pelas ruas e dentro dos estabelecimentos.

O período limitado que as lojas podem ficar abertas -- somente quatro horas -- e o reduzido número de clientes autorizados a permanecer no interior dos estabelecimentos, como exigem as normas ditadas pelo Estado, só favorecem a aglomeração de pessoas no Centro. Muitos comerciantes relatam que em alguns estabelecimentos formaram-se grupos de pessoas esperando a vez para entrar. É como reduzir o número de ônibus, pois ocorre a concentração de usuários nos poucos veículos disponíveis.

Essas aglomerações estão ocorrendo em péssima hora. O número de novos casos e de mortos têm aumentado consideravelmente no Estado de São Paulo e em Sorocaba. A notícia mais preocupante é que o crescimento de casos no município deixou a Santa Casa, hospital referência no combate à Covid-19, sem condições de receber novos pacientes.

Na manhã desta segunda-feira (8), 27 dos 30 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) estavam ocupados e 18 das 20 vagas de enfermaria tinham pacientes com suspeita ou confirmação da Covid-19. Um crescimento mais rápido no número de casos poderá causar o colapso na rede de hospitais públicos de Sorocaba. Se a Feira da Barganha tivesse acontecido, o problema de vagas daqui para frente seria muito maior.