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O fim do museu

25 de Setembro de 2018 às 08:08

Oficializada extinção do Museu de Arte Sacra Entre as peças do acervo estão 181 imagens sacras nacionais e europeias dos séculos 17 a 19. Crédito da foto: Divulgação

Sem ter um local para funcionar e sem perspectiva de ter uma nova sede nos próximos anos, na prática, foi extinto o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Sorocaba Comendador Luiz Almeida

Marins (Madas-Lam). Todo o acervo do museu será transformado em uma espécie de reserva técnica, como é chamado o acervo que não fica permanentemente exposto. A ideia é usar essas peças que não são vistas pelo público há bastante tempo em exposições itinerantes em vários espaços da cidade, principalmente igrejas.

A extinção do museu ou sua transformação em um acervo itinerante não afeta muito a vida cultural da cidade, uma vez que as peças do museu, consideradas bastante representativas, não são vistas pelo público em sua totalidade há mais de 15 anos por conta do difícil acesso do local onde estão dispostas, em uma espécie de mezanino da Catedral Metropolitana de Sorocaba. Para chegar ao local, é preciso enfrentar uma escada estreita em caracol bastante difícil, perigosa e impossível de ser transposta, por exemplo, por pessoas com deficiência e cadeirantes. Embora fechado ao público, nesses 15 anos o local ficou aberto a pesquisadores e estudantes, mas nem esse tipo de visita foi liberado nos últimos meses. Dessa maneira, não se sabe em que condições estão as peças, se estão bem preservadas ou necessitando de algum tipo de restauração. O acesso às peças para que fossem fotografadas pela reportagem foi negado e as fotos publicadas foram distribuídas pela igreja.

O Museu de Arte Sacra de Sorocaba surgiu devido à dedicação do professor Luiz Almeida Marins, que após sua morte lhe emprestou o nome. Marins, pesquisador de nossa história, fotógrafo nas horas vagas, fez parte do círculo de amigos mais chegados do padre Luiz Castanho de Almeida, que como historiador e pesquisador assinada suas obras como Aluísio de Almeida. Foi membro do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba e durante suas pesquisas, além do rico material fotográfico, conseguiu inúmeras doações para dar início ao acervo, em geral imagens e objetos que pertenceram a pequenas capelas particulares da zona rural de Sorocaba e cidades da região.

Com o tempo, o museu passou a contar com mais de três mil fotos e 350 itens, dos quais 181 seriam imagens sacras nacionais e europeias dos séculos 17 ao 19, bem como livros, partituras e objetos de valor histórico, como móveis usados por Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, no período de 11 meses que morou em Sorocaba, auxiliando na construção do Mosteiro de Santa Clara.

Museus de arte sacra de várias cidades brasileiras e mesmo igrejas com acervo valioso espalhadas pelo País têm sido alvo constante dos ladrões. É com certa frequência que vemos notícias sobre o sumiço de peças valiosas de igrejas mineiras e museus conceituados. O Mosteiro de São Bento, em São Paulo, há dois anos foi palco de um inédito roubo praticado por homens armados que fizeram funcionários reféns e levaram mais de 400 livros e 20 peças valiosas. O crime não foi solucionado e as peças nunca foram localizadas. Especialistas em arte afirmam que o Brasil tem um vasto acervo de arte sacra, principalmente com peças dos séculos 17, 18 e 19, em centenas de igrejas, muitas delas sem qualquer tipo de proteção.

Esse cenário levou museus e igrejas a investir em vigilância e, principalmente em tecnologia para tentar evitar novos ataques, monitorando os locais de exposição com câmeras e alarmes. Não custa lembrar que praticamente todo o acervo do Museu do Tropeirismo de Sorocaba, que estava guardado em um prédio municipal enquanto o Casarão de Brigadeiro Tobias passava por reforma, foi furtado há alguns anos e nada foi recuperado.

Tornar o acervo do que já foi nosso Museu de Arte Sacra em uma reserva técnica, para a realização de exposições em igrejas e locais diversos, requer cuidados tanto no transporte das peças, muitas delas bastante delicadas, mas principalmente na proteção contra ladrões especializados nesse tipo de arte. Além de serem peças de reconhecido valor artístico, fazem parte da história e da cultura regional.