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O crescimento da dengue

20 de Outubro de 2020 às 00:01

Nunca se falou tanto em saúde e epidemias como em 2020. O ano que começou tranquilo transformou-se em um pesadelo a partir de fevereiro quando o novo coronavírus, até então desconhecido, iniciou sua expansão pelo mundo a partir da China.

Em tempos de viagens intercontinentais rápidas e grandes deslocamentos populacionais, no mês seguinte o vírus causador da Covid-19 já fazia vítimas na Europa, América do Norte e Brasil.

Em março o País começava a contabilizar os primeiros casos, estruturas emergenciais de saúde começaram a ser montadas e infelizmente também começara as primeiras mortes.

Oito meses depois, a conta da tragédia para o Brasil é grande: mais de 5,2 milhões de contaminados e 154 mil mortes, o que dá a essa doença o título de epidemia mais letal dos últimos 100 anos. Uma tragédia, em todos os sentidos.

Ainda estamos na pandemia. Felizmente indicadores como número de novos casos e de mortes têm caído em todo o País, e até com mais vigor no Estado de São Paulo.

Mais de 70% dos paulistas vivem em cidades que alcançaram a faixa verde do Plano São Paulo de retomada da economia, o que dá a sensação de quase normalidade, pois praticamente todos os tipos de estabelecimentos, apesar de algumas restrições, estão funcionando.

Mas ainda é preciso muita cautela, evitar aglomerações e o uso constante de máscaras de proteção. Passada a pior fase dessa tragédia, outras informações relacionadas à saúde da população ganham corpo e trazem preocupações suplementares.

Uma delas é o aumento dos casos de dengue em Sorocaba e em cidades próximas. Ou seja, a pandemia que levou a população a tomar medidas extremas de cuidado não convenceu todos a cuidarem de seus quintais, dos terrenos e áreas públicas onde persistiram os criadouros do mosquito transmissor que podem desencadear uma nova epidemia na cidade e região.

Depois de um inverno sem muito frio, mas extremamente seco, começam as primeiras chuvas da primavera que, com temperaturas mais altas, vão criando o ambiente ideal para a proliferação do Aedes aegypti, a praga que há mais de um século causa doenças no País e que não conseguimos eliminar.

Um levantamento divulgado na semana passada pela Secretaria de Saúde de Sorocaba mostra que a cidade conta com 1.825 casos confirmados de dengue este ano, o que supera em 72% o total de casos de 2019. São 786 casos a mais que no ano anterior e uma pessoa morreu vítima da doença, segundo dados oficiais da Prefeitura.

Mas o que assusta é que em 2018, há dois anos, portanto, a cidade registrou apenas 46 casos da doença. O que as autoridades sanitárias temem é que, a partir do aumento de casos neste ano, a aceleração leve a uma situação semelhante à registrada em 2015, quando Sorocaba teve uma epidemia de dengue, com mais de 50 mil casos e pelo menos 37 pessoas perderam a vida.

O aumento dos casos de dengue está se tornando comum na Região Metropolitana de Sorocaba. Em Tatuí, por exemplo, um levantamento realizado no final do mês de setembro indicava um crescimento de mais de seis vezes o número de casos.

A cidade tinha 312 casos confirmados nos primeiros oito meses do ano, ante 54 casos registrados em todo o ano anterior, o que levou a prefeitura daquele município a aumentar as ações de limpezas de terrenos e evitar o acúmulo de lixo em algumas áreas da cidade.

A situação de Iperó é ainda mais preocupante. Este ano já foram confirmados, até o mês de julho, mais de 1.400 casos, um crescimento de quase 500% em relação ao ano passado.

A maioria dos casos está concentrada no bairro George Oeterer, que faz divisa com Sorocaba, onde boa parte da população desse bairro trabalha ou estuda.

Como os números da prefeitura são até julho, é bem possível que os casos tenham aumentado ainda mais nos últimos meses.

Em Votorantim também foi registrado pequeno aumento de casos este ano, o que mostra que várias cidades da região sofrem do mesmo problema.

Com a chegada de dias mais quentes e úmidos da primavera, ideais para a rápida proliferação do mosquito, é importante que a população tome consciência de que é preciso combater também esse inimigo.

Máscaras de proteção e álcool em gel não evitam o contágio. Consegue-se evitar a dengue mantendo casas, quintais e terrenos sem lixo ou recipientes que possam armazenar água.

São atitudes simples que podem evitar mais um período duro nos próximos meses, com o aumento de doentes em postos de saúde em busca de auxílio contra essa outra doença igualmente perigosa.