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Nuvens carregadas

11 de Abril de 2019 às 00:04

A operação Casa de Papel desencadeada pela Polícia Civil na manhã da última segunda-feira, com a apreensão de documentos e computadores em três secretarias da Prefeitura de Sorocaba, já fez a primeira vítima. O secretário de Cultura e Turismo, Werinton Kermes, pediu exoneração ao prefeito José Crespo (DEM) na terça-feira. Disse que com sua saída as autoridades terão mais liberdade para investigar supostas irregularidades e ele terá melhores condições de se defender de acusações.

No mesmo dia, a Câmara de Vereadores aprovou por unanimidade a formação da Comissão Especial de Acompanhamento da operação Casa de Papel e, na sequência, antes mesmo do pedido de afastamento de Kermes, protocolou na Prefeitura pedido de afastamento dos secretários envolvidos: Werinton Kermes, da Cultura; Eloy de Oliveira (Comunicação e Eventos) e Hudson Zuliani (Licitações e Contratos). Os vereadores acreditam que o afastamento é necessário para que os envolvidos não possam atrapalhar as investigações. A comissão de vereadores pediu também a suspensão dos contratos suspeitos.

Uma rápida corrida de olhos no inquérito da operação Casa de Papel, disponível no site do Tribunal de Justiça, mostra que os casos de corrupção denunciados nessa primeira fase da operação, envolvendo as duas secretarias, obedeceu ao padrão clássico de corrupção. O caso começou a ser investigado pela Polícia Civil há meses. Mais recentemente passou a contar com a colaboração do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público. Um denunciante, cuja identidade está sendo preservada, passou à polícia detalhes do esquema montado tanto na Secretaria de Cultura e Turismo como na de Comunicação e Eventos. No primeiro caso, de acordo com essa fonte, o que estava acontecendo é o velho esquema das licitações viciadas, em que uma única empresa vencia praticamente todas as concorrências, mesmo em atividades díspares. De acordo com um denunciante, parte do que era faturado pela empresa seria desviado para benefício do ex-secretário Kermes. No caso da Secretaria de Comunicação e Eventos, haveria envolvimento de um jornal recém-lançado que recebia publicidade em valores desproporcionais à sua circulação e uma agência de publicidade. Polícia e Gaeco estão agora examinando os documentos e computadores apreendidos nas secretarias e nas casas dos secretários, o que poderá comprovar se o que disse o denunciante é correto.

No dia em que a operação Casa de Papel saiu para as ruas, com a condução coercitiva de secretários e apreensão de documentos e computadores, uma autoridade confidenciou que os primeiros resultados seriam apenas a “ponta do iceberg”. Fontes da Polícia Civil que participam da força-tarefa garantem que o aprofundamento das investigações vai levar com certeza a outros contratos, inclusive de outras secretarias. É praticamente certo, diz a fonte, pelo volume de documentos apreendidos e pelas ligações entre os envolvidos, que se chegue a outros contratos suspeitos. Há um fato que chama a atenção dessas denúncias envolvendo a Prefeitura de Sorocaba. As duas secretarias envolvidas estão entre as que têm os menores orçamentos no município. A Secult tem um orçamento para 2019 de R$ 16,13 milhões e a de Comunicação, R$ 14,1 milhões, num orçamento total de R$ 3,3 bilhões.

Por outro lado, a fato de duas pessoas protocolarem na Câmara pedidos de formação de duas Comissões Processantes num mesmo dia, não pode ser coincidência. Uma proposta pede que se investigue a vice-prefeita Jaqueline Coutinho (PTB) e outra o prefeito Crespo. Foram apresentadas por cidadãos com ligações político-partidárias. Não se sabe se as propostas serão aceitas pelo Legislativo, o que deverá ocorrer nos próximos dias, mas não custa lembrar que essas comissões têm inclusive poder para cassar mandatos. É possível prever um período de chuvas e trovoadas num futuro próximo para o governo Crespo.