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Novela interminável

13 de Julho de 2019 às 00:01

Os sorocabanos podem reclamar de vários aspectos da atual administração municipal. Afinal, boa parte das promessas de campanha do prefeito José Crespo (DEM), passados dois anos e meio de governo, ainda não foi cumprida. Das obras de vulto prometidas, possivelmente só uma parcela do sistema BRT será entregue até o final do mandato.

Mas se por um lado faltaram obras de grande porte ou medidas administrativas criativas ou arrojadas, não faltou agitação política. Desde o primeiro ano de governo, uma disputa entre prefeito e sua vice, por motivos que pouco interessam à coletividade, tem monopolizado os debates políticos, inclusive na Câmara de Vereadores, provocando um grande prejuízo ao município. Ainda nos primeiros meses do atual governo, durante uma viagem ao exterior do prefeito, sua vice, Jaqueline Coutinho, resolveu apurar uma denúncia de que uma funcionária do gabinete havia apresentado documentos falsos sobre sua escolaridade. Foi como mexer em um vespeiro de proporções gigantescas, cujos efeitos a cidade vem sentindo até agora. Ao reassumir o cargo, o prefeito não só desautorizou sua vice, como tomou uma série de medidas consideradas irregulares pelos vereadores que em sessão do dia 24 de agosto daquele mesmo ano, cassou o seu mandato. Crespo ficou afastado por 40 dias. Ao reassumir o cargo, as escaramuças continuaram com maior ou menor intensidade e por meio de denúncias, soube-se que a mesma funcionária comissionada que havia sido o pivô das desavenças, exercia atividades na Prefeitura, desta vez na condição de voluntária, o estopim de uma nova crise.

Em abril deste ano, por iniciativa de dois cidadãos, foram formadas duas Comissões Processantes na Câmara de Vereadores. A primeira, que investigava a vice-prefeita Jaqueline Coutinho por uso para fins particulares dos serviços de um funcionário comissionado do Saae, terminou na última quarta-feira. A Comissão Processante que investigou a vice-prefeita havia decidido pela procedência da denúncia e que ela deveria ter seu mandato cassado. Mas em votação realizada na última quarta-feira, o pedido de cassação não conseguiu os 14 votos necessários e por 13 votos a 7, Jaqueline manteve-se no cargo.

Outra Comissão Processante foi formada, igualmente atendendo solicitação de outro munícipe, para investigar a questão do voluntariado na Prefeitura, uma situação que teve outros desdobramentos, inclusive uma operação policial em que material e computadores foram apreendidos e dois secretários municipais perderam o cargo em meio a uma série de denúncias que continuam sendo investigadas. Essa Comissão Processante vem trabalhando há algum tempo e já ouviu várias testemunhas, mas ainda não conseguiu ouvir o prefeito. A última tentativa de ouvi-lo ocorreu no último dia 3 de julho, mas o prefeito não compareceu alegando problemas de saúde, resultado de uma intervenção cirúrgica a que havia se submetido dias antes. Foi agendada nova data para a oitiva, dia 11, mas o prefeito apresentou um atestado médico e se afastou das atividades da Prefeitura por 14 dias. Para não perder prazos, os vereadores se propuseram a ouvir o prefeito em sua residência ou mesmo em uma unidade de saúde, mas até agora isso não foi possível. A preocupação dos vereadores é não prejudicar os trabalhos da Comissão que tem prazos muito curtos a cumprir e ouvir o acusado é parte fundamental do trabalho. Ontem, diante das notícias divulgadas pelas redes sociais dando conta de que o prefeito teria sido visto em Montevidéu, no Uruguai, no último dia 7, a Comissão Processante está pedindo esclarecimentos ao chefe do Executivo. Os vereadores querem comprovar se ele viajou mesmo para o exterior durante seu afastamento médico. A Polícia Civil, por seu lado, vê indícios de possíveis infrações político-administrativas. E o Partido dos Trabalhadores pede que o Ministério Público do Estado investigue o caso. Reunião emergencial da Comissão Processante deu um prazo de 24 horas para que Crespo se explique.

Em resumo, essa situação tende a se estender e azedar ainda mais o relacionamento entre o Executivo e o Legislativo. É um bom momento para se discutir o que toda essa confusão, que começou lá atrás por um motivo de menor importância, já custou aos cofres públicos, com processos, cassação, reuniões de vereadores e a energia e o tempo perdidos em discussões intermináveis. Sem contar o estrago que a situação causa na credibilidade do Executivo e do Legislativo. A população está cansada dessa novela interminável.