Nas ondas do rádio
Desde 2013, quando foi assinado um decreto presidencial, as emissoras de rádio que operam em AM (amplitude modulada) iniciaram a migração para a faixa FM (frequência modulada). O objetivo do decreto é modernizar as emissoras que ainda utilizam tecnologia obsoleta.
As emissoras AM já foram as de maior audiência e têm um forte vínculo com a história da implantação desse veículo de comunicação no Brasil. Elas apresentam um grande alcance, mas foram afetadas pelo progresso, uma vez que operam em frequência muito baixa e, com isso, sofrem interferência provocada por equipamentos eletrônicos. Mas não é apenas a qualidade das transmissões que ficou comprometida.
Por suas características, as rádios AM não conseguem estar presentes nos celulares, que já representam uma parte considerável da audiência. O espectro da onda média regional e nacional continuará existindo, mas as emissoras têm que fazer a migração, que tem um custo diferente, dependendo da emissora.
Algumas emissoras bem-conceituadas, como a Globo AM do Rio e de São Paulo, preferiram encerrar suas atividades. O futuro das emissoras de rádio está na digitalização, dizem os especialistas, mas o custo é alto, impraticável na atualidade. A alternativa encontrada foi a migração para a faixa FM, o que muitas emissoras já realizaram.
Em Sorocaba ainda temos três emissoras atuando como AM, mas que com o tempo deverão passar a transmitir em FM estendido, uma faixa ainda inexistente na maioria dos aparelhos entre 76 e 87,9 mHz. São emissoras tradicionais e que têm um público fiel.
O rádio já foi o veículo de comunicação mais importante do País, principalmente em meados do século passado, antes da chegada da televisão. Era um fator de integração nacional, em uma época em que o Rio de Janeiro era a Capital Federal. Oficialmente, o rádio nasceu no Brasil no dia 7 de setembro de 1922, durante as comemorações do centenário da Independência.
Um misto de anseio por novidades e pesquisa tecnológica levou a Academia Brasileira de Ciências a patrocinar a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a PRA-2. Mas a emissora só começou a funcionar regularmente em 30 de abril de 1923, com um transmissor doado por uma empresa argentina.
As primeiras emissoras brasileiras, com prefixo PR eram fruto do trabalho de apaixonados pelo novo veículo e levavam o nome de clubes ou sociedades de amigos. Era comum a população se “associar” às emissoras, muitas vezes pagando uma pequena mensalidade para que ela funcionasse, antes que a publicidade passasse a cobrir os custos das emissoras.
Sorocaba foi pioneira na radiodifusão. Em 1933, quando muitas capitais ainda não dispunham de estações de rádio, a cidade tinha duas. A pioneira Radio Sociedade Sorocaba criada por Raphael de Cunto, o Bizuzi, seguida pela Rádio Clube de Sorocaba, hoje Boa Nova AM, fundada por Orlando da Silva Freitas, que iniciou as transmissões apenas alguns meses depois.
A radiodifusão, nos seus primeiros anos, era uma atividade de diletantes, pessoas interessadas amadoristicamente ao novo veículo de comunicação. Foi somente em 1931 que Getúlio Vargas publicou decreto que adotava integralmente o modelo de radiodifusão norte-americano, com a concessão de canais a particulares e a legalização da propaganda comercial. Foi pelo rádio que o Brasil acompanhou o desenrolar da Segunda Guerra Mundial.
A chamada Era de Ouro do rádio no Brasil começa nos anos 1930 e prossegue até o final dos anos 1950, período em que ainda convive com o início da televisão, introduzida no Brasil no início dessa década. Nesse período o rádio se tornou um difusor de cultura, de eventos sociais e políticos.
Há quem atribua a esse veículo de comunicação o fortalecimento do sentido de nação e a consolidação da própria língua portuguesa falada no País, tornando mais homogênea a pronúncia, sem destruir sotaques regionais, como observou o jornalista Ethevaldo Siqueira.
O período foi de efervescência cultural no novo meio com o surgimento de grandes intérpretes, compositores e humoristas que influenciaram a vida cultural do País nas décadas seguintes. Também foi nesse período que surgiram as radionovelas com seus patrocínios e uma estrutura de veiculação de publicidade que, de certa forma, dura até os dias de hoje.
É por isso que a rádio AM tem tantos admiradores, pessoas que tomaram conhecimento da realidade nacional por meio de programas radiofônicos. Que ouviram partidas de seus times nos mais diferentes campeonatos e acompanharam várias Copas do Mundo pelas ondas do rádio.
Para sobreviver, as rádios que ainda operam em AM terão que se adaptar à nova realidade. Se a nova realidade não traz o glamour do passado, ao menos oferecerá um som mais limpo, de melhor qualidade.