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Não perdoam nem a Igreja!

06 de Abril de 2021 às 00:01

Que os criminosos não respeitam ninguém, sobretudo no Brasil, é redundante falar. Virou uma obviedade em um país onde a Justiça é falha e lenta, sobretudo pelo fato de ser baseada em um Código Penal obsoleto e ultrapassado.

São inúmeros exemplos de crimes e infrações sem as devidas punições. E quando há uma punição, o réu consegue brechas para driblá-la ou diminuí-la de forma vergonhosa e execrável.

Apesar de tudo isso, acabamos de ser “brindados” com algo com o qual não estamos muito acostumados, mesmo vivendo sob um eterno manto de impunidade.

Aqui em Sorocaba aconteceu um fato insólito: na última sexta-feira (2), a igreja São Lucas foi invadida. Ou seja, além de não poupar nem mesmo a Igreja, os ladrões cometeram o ato em plena Sexta-feira Santa! Sim, isso mesmo!

Parece brincadeira, mas não é, infelizmente. A ação, em um dia tão especial para a Igreja, repercutiu na comunidade católica de Sorocaba. Um boletim de ocorrência foi registrado para apurar o caso, mas até agora os autores não foram identificados.

A lamentável invasão e profanação do sacrário mostra a que ponto chegamos em termos de falta de respeito, falta de empatia, descaramento.

O assunto só se tornou público pois o arcebispo de Sorocaba, dom Julio Endi Akamine, divulgou um documento endereçado ao pároco José Sérgio de Lima e aos fiéis.

Nele, Akamine lembra o simbolismo religioso e histórico dessa data e diz se unir à dor “que essa grave ofensa aos sagrados mistérios provoca em seus paroquianos e em todos os fiéis de nossa Arquidiocese”.

O arcebispo também pediu orações e que os responsáveis pela invasão da capela reencontrem a vida de graça. Talvez seja pedir demais para quem escolheu o caminho errado, mas nunca é tarde para mudar. Há sempre uma esperança.

Na nota, a igreja não informou se a capela foi furtada. Testemunhas relataram que os criminosos teriam separado peças de metal para que pudessem furtá-las em outro momento e que alguns objetos foram danificados.

Agora, segundo Akamine, “é preciso, antes de voltar a celebrar os sacramentos no templo violado, realizar um rito penitencial a fim de reparar essa grave injúria à sacralidade do lugar e à santidade das celebrações”.

A celebração de desagravo é um ritual tradicional da Igreja Católica em caso de profanação em seus templos. Serve, entre outras coisas, para pedir perdão por quem cometeu o ato.

“Peço que sejam tomadas providências nesse sentido e que toda a Arquidiocese seja informada do dia e horário da celebração de desagravo. Dessa maneira, exorto todos os fiéis de nossa Arquidiocese a tomarem parte espiritualmente no rito de reparação através da oração e da penitência pessoal. Não é somente a comunidade local, mas toda nossa Arquidiocese que sofre com a violação de igreja. Por isso, todos nós devemos nos unir espiritualmente ao rito penitencial. Além de suplicar ao Senhor o perdão para todos nós pecadores, rezemos pelos autores deste grave delito a fim de que reencontrem a vida da graça”, pede o arcebispo.

O padre José Sérgio de Lima, responsável pela Paróquia São Lucas, informou que o local permanece fechado para qualquer tipo de celebração e que ainda não há data para reabertura.

Ou seja, se para alguns faltam honestidade e respeito, para outros sobram dignidade, empatia e amor ao próximo. O perdão religioso do ato revela toda a bondade e a compreensão que poucos possuem. Por outro lado, não exime os criminosos das medidas da Justiça.