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Motos barulhentas

14 de Agosto de 2020 às 00:01

A política de quarentena adotada pelas autoridades brasileiras como método de diminuir a velocidade de contaminação do novo coronavírus, forçando as pessoas a ficarem em casa e fechando os estabelecimentos comerciais para atividades presenciais, provocou um aumento no serviço de entregas em todo o País.

Muitas pessoas que pouco utilizavam o sistema, talvez eventualmente quando pediam uma pizza, passaram a usar o delivery para várias atividades.

Açougues, lojas de roupas, restaurantes, farmácias e principalmente lanchonetes encontraram no serviço de entregas uma maneira de sobreviver ao período em que seus estabelecimentos não podem abrir fisicamente.

Uma empresa de pesquisa especializada em mobilidade constatou que no primeiro semestre deste ano as vendas por delivery cresceram 100% no Estado de São Paulo em relação ao ano passado.

Nos últimos meses, esse crescimento deve ter sido maior, uma vez que muitas pessoas que nunca haviam comprado nada para entrega em domicílio aderiram ao sistema que é muito prático e evita que o consumidor se exponha em filas ou estabelecimento com muita gente.

Todo tipo de motocicleta, se não estiver com o sistema de escapamento original, isto é, dentro dos padrões legais, fazem muito barulho.

Desde as superesportivas até as custom, como as Harley Davidson, fazem barulho irritante. Ocorre que são minoria. Motos caras e pesadas são poucas e são usadas geralmente por seus proprietários para passeios nos finais de semana.

O que circula no dia a dia e empregadas nos serviços de entrega são as motos de baixa cilindrada, entre 125 e 160 cilindradas que, com o escapamento aberto, fazem um barulho infernal.

Com o aumento do sistema de entregas, o barulho das motos tem incomodado muita gente. Pessoas de mais idade, mais sensíveis, reclamam e com razão dos decibéis em excesso.

Mas o ruído prejudica a todos, também crianças e pessoas enfermas, causando desconforto e estresse. Como o serviço de entregas de determinados estabelecimentos funcionam até tarde, o barulho das motos pode ser percebido altas horas da noite.

É evidente que não se quer aqui condenar esse tipo de atividade a que muitos jovens se dedicam, muitos por falta de oportunidade de ocupação melhor remunerada e com menos risco.

Afinal, esse tipo de emprego é uma maneira honesta de ganhar a vida, com tantas outras profissões. Os entregadores têm contribuído para que pessoas de grupos de risco permaneçam em casa, em segurança.

A reportagem publicada pelo Cruzeiro em sua edição desta quinta-feira (13) iniciou quando leitores do jornal começaram a enviar cartas para a Redação reclamando do problema.

Uma carta atraía outro missivista e, durante uma semana, foi o assunto dominante naquele espaço do jornal. Vários dos leitores foram ouvidos pela reportagem.

Alguns informaram que quando pedem algo pelo sistema delivery informam ao fornecedor que só receberão a encomenda se a moto utilizada na entrega não seja barulhenta, ou seja, que não tenha o sistema de escape adulterado.

Outros foram além. Sugeriram, por exemplo, que os responsáveis pelas empresas de entrega -- e são várias, crescendo muito durante a pandemia -- que só contratem os serviços de motoboys que estejam com as motos em dia no que diz respeito à emissão de ruídos.

Mas há o poder público que tem que exercer seu papel de coibir os abusos em benefício do bem comum. Há leis criadas justamente para combater essas situações.

Conforme o artigo 230 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), conduzir motos com o escapamento defeituoso ou inoperante está sujeito a multa de R$ 195,13 e perda de cinco pontos na CNH.

A infração ainda prevê a retenção do veículo para regularização. Em Sorocaba, motos com ruído excessivo podem receber multa ambiental no valor de R$ 2.489,85, de acordo com a legislação municipal.

A Polícia Militar informa que tem intensificado as ações para coibir esse tipo de infração, enquanto a Urbes diz que as blitze foram suspensas no mês de março por conta da pandemia e estão sendo retomadas agora.

Algumas pessoas ouvidas pela reportagem recordam que quando os comandos de trânsito com o objetivo de coibir as motos barulhentas são realizados, o problema diminui por algum período, resultado do “efeito pedagógico” de algumas multas e a apreensão de motos.

Na realidade, o problema da barulheira de motos com escapamento aberto circulando pelas ruas só vai diminuir quando houver fiscalização mais rigorosa e frequente, tanto da Urbes como da Polícia Militar, e as empresas de delivery adotarem uma postura firme de não permitir que seus motoboys trabalhem com veículos que não obedeçam a legislação.