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Maturidade democrática e autocrítica

08 de Outubro de 2018 às 09:15

Foi em clima de tranquilidade que boa parte dos 147 milhões brasileiros aptos a votar, o quarto maior colégio eleitoral do mundo, exerceu ontem seu direito de cidadania. Pequenos contratempos com as urnas eletrônicas trouxeram suspeitas, como sempre, e que devem ser investigadas. O Tribunal Superior Eleitoral divulgou no final da tarde que, no total, foram 1.695 urnas substituídas, 0,33% do total e em apenas um município, Três Coroas (RS), precisou adotar a votação manual.

Uma pesquisa realizada pelo instituto Datafolha divulgada na última quinta-feira, mostra que o apoio à democracia no Brasil atingiu seu nível mais alto desde 1989: quase 70% dos cidadãos acreditam que o regime democrático é a melhor forma de governo. Somente 12% dos entrevistados disseram que a ditadura seria a melhor opção para o País, mas em “certas circunstâncias”. Outros 13% informaram que “tanto faz” o tipo de governo. Foi um crescimento significativo no apoio ao regime democrático em relação à última pesquisa do instituto sobre o tema realizado no mês de junho, quando o regime democrático era preferido por 57% dos entrevistados. A aprovação da democracia é a mais alta desde 1989 quando começou esse levantamento, ano da primeira eleição presidencial após 21 anos de regime militar.

Abertas as urnas, muitas surpresas, que indicam que as pesquisas novamente passaram longe da realidade. Na disputa presidencial houve a confirmação dos dois principais protagonistas da campanha, mas a votação de Bolsonaro chegou a 46,04%, muito acima dos 35% de votos das pesquisas. Os institutos também erraram feio em algumas previsões. O atual vereador paulistano Eduardo Suplicy (PT), por exemplo, apareceu em todas as pesquisas como o favorito para o Senado no Estado de São Paulo, mas ficou de fora. O eleitorado preferiu o Major Olímpio (PSL) e Mara Gabrilli (PSDB). O mesmo aconteceu com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) que era apontada como principal candidata ao Senado por Minas Gerais e ficou em quarto lugar e fora do Senado. Figurões do Senado, em torno de 20, também não se reelegeram, como é o caso de Tião Viana (PT-AC), Eunício Andrade (MDB-CE) e Lindbergh Farias (PT-RJ), entre outros.

Se dependesse dos eleitores de Sorocaba, Jair Bolsonaro venceria no primeiro turno. Ele obteve 59% dos votos válidos, mais de 213 mil votos, enquanto Haddad não passou de 12,5% (pouco mais de 45 mil votos), uma prova efetiva que o Partido dos Trabalhadores cada vez mais perde influência no município. Prova disso é que nenhum dos candidatos da sigla à Assembleia Legislativa ou à Câmara Federal tiveram êxito. Ao final da noite de ontem, Vitor Lippi (PSDB) e Jefferson Campos (PSB) foram eleitos deputados federais, enquanto que Maria Lúcia Amary (PSDB), Carlos César (PSB) e Agente Federal Danilo Balas (PSL) conseguiram vaga na Assembleia Legislativa. O único parlamentar sorocabano que não conseguiu reeleição foi o deputado estadual Raul Marcelo (Psol).

Na realidade, o grande fato a ser ressaltado e que merece observação, senão uma autocrítica dos caciques políticos, é a grande rejeição da população por dois dos principais partidos que, primos em sua origem, perderam desastrosamente o apoio da população, o PSDB de Geraldo Alckmin e o PT. Apesar de todo tempo de TV, Alckmin conseguiu ficar apenas dois pontos acima do candidato que não teve nenhuma participação televisiva, não esteve em nenhum debate e ao menos tinha uma estrutura partidária montada, João Amoêdo, do Partido Novo. Geraldo Alckmin teve menos de 10% dos votos do primeiro lugar. Em Sorocaba, que teve por mais de 20 anos o reinado do PSDB, Alckmin obteve 8,18% dos votos, talvez pelo apoio que os dois representantes locais lhe proporcionaram.

Quem observou o último debate de sexta-feira na TV Globo pode notar a puxada de orelha que a candidata Marina, da Rede, ela mesma ex-integrante do PT -- que foi derretendo na preferência do eleitor até acabar entre os mais inexpressivos -- deu no candidato preposto do ex-presidente, ao observar que o partido não fazia autocrítica.

Essa é palavra que deve ser observada, autocrítica. Ao invés do discurso da discórdia, o antigo Partido dos Trabalhadores poderia procurar entender porque está definhando tanto, porque não tem apoio da população, a não ser em recantos de menor educação.

Ao PSDB, as batatas. Batatas quentes, porque deverão procurar uma reconstrução, em especial em seu foco, a que vieram, quem são, quem fala por eles. E quem sabe prestar atenção ao seu discurso oco, sem compromisso, de palavras ao léu.