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Mais um hospital?

30 de Abril de 2019 às 00:01

O prefeito José Crespo (DEM) publicou no último dia 23 decreto no jornal Município de Sorocaba, órgão oficial da Prefeitura, que declara como de utilidade pública uma área de 40 mil metros quadrados, localizada às margens da rodovia Raposo Tavares, altura do km 106, para a construção de um hospital municipal. A área fica em frente ao novo Hospital Regional construído pelo governo do Estado.

O decreto assinado pelo prefeito foi uma surpresa. Há alguns meses, ele havia designado a Santa Casa, que ficou sob intervenção municipal durante um período, como hospital municipal, descartando a construção de um prédio próprio para essa finalidade. A área desse futuro hospital é, segundo informações da Secretaria de Comunicação, parte de uma área maior, de 300 mil m2, já pertencente à municipalidade. Nada foi divulgado se o prefeito tem intenção de iniciar a construção de um hospital municipal, ideia sempre criticada por ele, muito menos agora, quando tem pela frente pouco mais de um ano de mandato e uma grave crise política que inclusive ameaça o seu mandato. Desde que assumiu a Prefeitura, Crespo enfrenta problemas e reclamações na área da saúde. A morosidade no atendimento nas unidades de emergência e a demora nas consultas com especialistas sempre foram motivo de reclamação. Com muito custo e depois de enfrentar opositores e interesses corporativos, conseguiu colocar a gestão de duas Unidades Pré-Hospitalares (UPHs) na mão de entidades particulares, assim como a Policlínica Municipal, onde são realizados exames com especialistas. A justificativa para colocar organizações sociais de saúde na administração das unidades sempre foi falta de recursos. Crespo sempre alegou que não poderia abrir novos concursos para contratar pessoal da saúde -- e também da educação -- para não ser enquadrado na lei de responsabilidade fiscal. Como se sabe, não é barato construir um hospital, com todas as suas especificidades técnicas e ambientes especiais, mas mantê-lo funcionando, com equipamentos e pessoal especializado, custa muito mais.

A construção de um hospital municipal foi um sonho acalentado por vários prefeitos. Na década de 1990, o ex-prefeito Paulo Mendes (então no PMDB) tinha essa intenção. Achou uma alternativa menos dispendiosa ao fazer com que a Prefeitura de Sorocaba assumisse o antigo Hospital São Severino, no Jardim Santa Rosália que, mais tarde, passou a abrigar a Policlínica Municipal. O hospital que já havia pertencido ao Grupo Cianê estava fechado. Passou por reformas e recebeu o nome de Edward Maluf, ex-vice-prefeito de Sorocaba e ex-secretário da Saúde do município. O prefeito Antonio Carlos Pannunzio (PSDB) na sua última gestão, também queria construir um hospital e para isso desapropriou a antiga área da empresa de ônibus TCS, na avenida Ipanema. Atingido em cheio pela crise econômica, seu governo não conseguiu ir adiante na proposta. O prefeito Crespo, que pretende implantar até o fim de seu governo ao menos um trecho do BRT (ônibus rápido), quer destinar a área desapropriada na zona norte da cidade para a garagem do novo sistema de ônibus, mas encontra resistência na Câmara de Vereadores, que rejeitou a alteração de finalidade.

É possível que ao desapropriar uma nova área destinando-a especificamente para um hospital municipal, o prefeito Crespo tenha como objetivo ganhar aprovação dos vereadores para finalmente poder construir a garagem do BRT na área desapropriada e destinada ao hospital por Pannunzio. O corredor do BRT em obras, e que poderá ser concluído até o ano que vem, fica exatamente no eixo da avenida Itavuvu, onde está o imóvel da discórdia. Adaptar construções que já serviram como garagem de empresa de ônibus para o BRT é muito mais fácil que encontrar outro terreno e começar tudo do zero. Tudo dependerá, entretanto, de como Crespo vai se sair dos seus embates com a Câmara de Vereadores. Como se sabe, os vereadores aprovaram duas Comissões Processantes para investigar atos do prefeito e de sua vice, que terão 90 dias para concluir os trabalhos, o que despenderá tempo, paciência e jogo de cintura do chefe do Executivo por um bom período. Construir um novo hospital parece miragem distante.