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Investigações necessárias

11 de Setembro de 2020 às 00:01

Uma operação iniciada pelo Comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo e pela Corregedoria da corporação, com apoio da Polícia Civil, identificou e prendeu preventivamente dez policiais militares lotados no 7º Batalhão de Polícia Militar do Interior.

São seis cabos e quatro soldados que atuam na região de Sorocaba e são investigados por serem suspeitos de prevaricação e peculato.

Como informou a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, chegou à Polícia Militar a denúncia de que os investigados estariam envolvidos com civis que por sua vez se passavam por policiais, usando inclusive fardamento, para extorquir traficantes e outros criminosos.

O mais grave é que, conforme as denúncias, os suspeitos estariam aproveitando da estrutura da corporação para obter informações privilegiadas e, dessa maneira, beneficiar os criminosos.

Compartilhar informações sigilosas da polícia, além de ser crime pois alerta os bandidos de operações em serão realizadas ou em andamento, coloca em risco a vida dos policiais que estão trabalhando nessas ações, pois ficam vulneráveis à ação dos bandidos.

A descoberta desse esquema que mescla a ação de civis e policiais com marginais, sobretudo traficantes de entorpecentes, começou a ser investigada há pelo menos dois anos.

Em setembro de 2018 foram presos pela antiga Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise) dois homens que utilizavam uniformes da Polícia Militar e outros itens de vestuário da corporação para extorquir traficantes.

O trabalho policial chegou à conclusão de que eles recebiam em torno de R$ 300 mil por mês de traficantes que agiam na zona norte da cidade, mais especificamente no Jardim Itapemirim.

Em esconderijo desses homens foram encontrados fardas, coletes balísticos, armas e munições. A partir desse momento, o Comando de Policiamento do Interior-7, com sede em Sorocaba, passou a investigar o caso, com interesse especial em como os bandidos tinham acesso a esse material da Polícia Militar.

Foram emitidos mandados de prisão preventiva contra os dez policiais, além de mandados de busca e apreensão em suas residências. Com o apoio da Deic, três civis também foram alvos da operação.

Como ocorre nessas situações, quando as investigações ainda estão em curso, poucas informações foram divulgadas à imprensa.

Mas a dinâmica das investigações e a prisão dos suspeitos mostra que a corporação está realmente empenhada em esclarecer o caso e tem o maior interesse em separar os maus policiais -- muito poucos, felizmente -- dos policiais que honram sua farda.

Em nota emitida pela Polícia Militar, o coronel corregedor José do Carmo Garcia confirmou a apuração das denúncias e disse que condutas como essas são dissonantes dos valores institucionais e demandam medidas enérgicas para diferenciá-los da esmagadora maioria de policiais militares que cumprem seu dever.

O oficial tem razão. Situações como essa envergonham a imensa maioria de policiais honestos que se dedicam ao seu objetivo de levar segurança à população.

A população do Estado de São Paulo tem uma grande dívida com a Polícia Militar. E esse serviço oferecido à comunidade nem sempre é reconhecido na forma de salários, por exemplo.

Levantamento divulgado no início deste ano elaborado pela Associação de Assistência Social dos Policiais Militares do Estado (Aspomil) informava que a remuneração dos policiais militares de São Paulo é uma das menores do País.

Dos 27 Estados brasileiros, 23 pagam melhor seus policiais militares que o Estado mais rico da federação. Além de todo risco inerente à atividade, os policiais trabalham em constante estado de alerta.

Situações de crise afetam particularmente os policiais em sua vida pessoal, tanto no aspecto financeiro quanto na questão social, com o aumento da criminalidade.

E esse estado de estresse muitas vezes chega a afetar a saúde mental dos PMs. Um estudo recente mostra que de janeiro a setembro do ano passado, dois policiais em média foram afastados do trabalho por dia em decorrência de distúrbios psiquiátricos.

A conclusão de especialistas é que a vida profissional do policial militar é desgastante e pode interferir na sua saúde, com um nível de estresse muito grande, e ele ainda precisa fazer bicos durante os períodos de folga para completar a renda.

Por mais constrangedor que seja, é preciso que as investigações sobre a eventual participação de policiais em extorsões prossigam até que todos os envolvidos em possíveis irregularidades sejam identificados e, se for o caso, punidos na forma da lei.