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Hora de adiar o sonho um pouco

20 de Abril de 2021 às 00:01

Não é novidade para ninguém que engravidar e dar à luz é um sonho para muitas mulheres. Para essa parcela, a maternidade significa a complementação de tudo, praticamente o sentido da vida. Portanto, qualquer situação envolvendo a gravidez é de extrema sensibilidade para as mulheres. Nesse sentido, o pedido feito pelo governo federal causou um impacto ao menos emocional em muita gente.

Na última sexta (16), o secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Raphael Parente, pediu oficialmente que as mulheres adiem a gravidez até haver uma melhora da pandemia. Isso se for possível, claro. Afinal, como a idade é um fator importante em toda gravidez, pedir para uma mulher que está no limite de idade de uma gravidez mais segura adiar seus planos acaba sendo algo cruel.

O secretário, que é médico e tem doutorado em ginecologia, deixou isso bem claro e direcionou sua solicitação às mulheres mais jovens que podem escolher o momento de engravidar.

Além da questão dos sistemas de saúde estarem sobrecarregados, o pedido oficial do governo tem uma motivação específica. Segundo Parente, a gravidez é, por definição, uma condição que favorece as tromboses -- a formação de coágulos no sangue. Curiosamente, a Covid-19 também favorece a ocorrência de tromboses, o que pode tornar a doença ainda mais perigosa na gravidez. Outra razão para tal pedido é baseado em estatísticas.

O número de mortes de gestantes e de mães de recém-nascidos (puérperas) por Covid mais do que dobrou em 2021 em relação à média semanal de 2020, apontam dados do Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (OOBr Covid-19). De acordo com o levantamento, no ano passado foram registradas 453 mortes (10,5 óbitos na média semanal). Em 2021, até o último dia 7 de abril, foram 289 mortes (22,2 óbitos na média semanal).

Mas aqui vai um alento: apesar do aumento ser superior à média da população, os falecimentos de grávidas representam somente 0,23% das mortes ocorridas no ano, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

A falta de acesso a tratamentos adequados para o coronavírus é apontado como uma das principais causas do crescimento de mortes entre estes grupos. Os dados do OOBr mostram que uma em cada cinco gestantes e puérperas internadas com coronavírus não tiveram acesso a unidades de terapia intensiva (UTIs) e cerca de 34% não foram intubadas.

O painel usa dados do Sivep-Gripe. Segundo a atualização realizada em 7 de abril, desde o início da pandemia foram 9.479 casos de internações por Covid entre gestantes e puérperas, com 738 mortes. Existem também outros 9.784 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), com 250 óbitos. Na avaliação dos pesquisadores, esses casos também podem ser de Covid.

Por trás desses números, o que acontece é que a Covid afeta todas as outras “categorias” de pacientes. Diante de um sistema de saúde sobrecarregado, outras situações médicas são agravadas, já que não há pessoal e equipamento suficientes para dar conta de todas as demandas. No caso específico da gestante, ela precisa de cuidados especiais, como ficar isolada e ser atendida por intensivistas e obstetras em hospitais qualificados.

Enfim, a Covid é uma das doenças que tornam a gestação ainda mais de alto risco. No ano passado, por exemplo, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) já havia alertado que grávidas corriam mais risco de desenvolver formas graves da Covid. Portanto, se for possível retardar um pouco o sonho da maternidade, os envolvidos agradecem.