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Exposição negativa

08 de Agosto de 2019 às 00:01

Em entrevista concedida ao jornal Cruzeiro do Sul e publicada na última terça-feira, alguns dias após sua posse, a prefeita Jaqueline Coutinho (PDT) disse que não pretende fazer mudanças bruscas no plano de governo. Na entrevista, realizada após a inauguração de uma creche no bairro São Guilherme, na zona norte da cidade, a prefeita mostrou um tom bastante conciliador e informou que visitou o prefeito cassado José Crespo (DEM) no seu primeiro dia de mandato e que a relação entre os dois é “tranquila”, embora seja uma situação desconfortável. Lembrou ainda que o prefeito cassado pela Câmara está estudando alternativas jurídicas e que aguardará o resultado do recurso que apresentará à Justiça. Em 2017, quando assumiu o governo municipal pela primeira vez, a situação não era tão tranquila assim.

A prefeita Jaqueline Coutinho admitiu que está sendo mais cautelosa em relação a 2017 e foi enfática ao dizer que as pessoas amadurecem com os erros, não só com os próprios, mas com os dos outros também. A prefeita falou sobre o entrosamento com os servidores e que pretende se atualizar sobre a situação financeira do município.

De imediato não foram feitas alterações no secretariado e assessores diretos e pessoal de segundo escalão, mas nos dias subsequentes à posse elas começaram a ocorrer. Em 2017 ela praticamente exonerou todos os secretários e montou um secretariado novo, que a ajudou a dirigir a cidade por um período de 40 dias. Desta vez, ela começou as mudanças timidamente. Primeiro trocou a secretária de Assuntos Jurídicos e Patrimoniais e recebeu a carta de demissão do titular da pasta de Segurança e Defesa Civil. Em seguida exonerou dois secretários que estavam afastados (Marinho Marte e Hudson Zuliani), mas continuavam recebendo sem trabalhar. Na sequência, ela exonerou 13 funcionários que ocupavam cargos de confiança e ainda a assessora externa que a Prefeitura mantinha em Brasília, todos nomeados pelo prefeito cassado. A maioria dos afastados tinha função no sexto andar do Palácio dos Tropeiros, onde fica o gabinete do prefeito. Ela justificou as demissões afirmando que precisava de pessoas de sua confiança nesses cargos.

Ontem, as mudanças no secretariado se aceleraram e atingiram quatro secretarias e o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), alterando consideravelmente o primeiro escalão da Prefeitura. A edição de ontem do jornal Município de Sorocaba, órgão oficial da Prefeitura, oficializou as mudanças em quatro secretarias. Foram trocados os secretários da Educação; Conservação, Serviços Públicos e Obras; Cultura e Comunicação e Eventos, além do diretor do Saae.

Na última segunda-feira, a deputada estadual Maria Lúcia Amary (PSDB) que em 2018 foi reeleita para seu quinto mandato na Assembleia Legislativa, visitou este jornal e fez observações pertinentes à situação política do município. A vice-líder do PSDB e presidente da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Alesp observou que a cassação do prefeito Crespo pela segunda vez em um mesmo mandato -- um episódio inédito no Estado de São Paulo nos últimos 20 anos -- é preocupante. Segundo a parlamentar, essa situação expõe a cidade de forma bastante negativa e, na sua análise, essa situação é prejudicial para o desenvolvimento do município, pois empresas dificilmente investem em cidades com situação política conturbada, o que traz prejuízo para as próprias empresas, não cria empregos e ocorrem quedas nos investimentos e na arrecadação de impostos.

É evidente que, independente do conhecimento e intimidade com a área, os novos secretários levarão algum tempo até se entrosarem com o que vem sendo realizado em cada Pasta. Também é quase inevitável que os novos secretários alterem projetos e prioridades para dar um toque pessoal na administração de suas secretarias. Ocorre que o prefeito cassado vai entrar com recurso na Justiça contra seu afastamento e não é totalmente impossível que possa voltar ao cargo daqui um ou dois meses, começando novo e desgastante processo de troca de secretários. Não custa lembrar que a atual administração tem menos de um ano e meio pela frente e o ano que vem terá as características especiais dos anos eleitorais. Todas essas alterações e a insegurança que provocam mostram que as observações da deputada Maria Lúcia têm muito de verdade. E a população de Sorocaba será mais uma vez a maior prejudicada.

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