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Epidemias e a história

28 de Novembro de 2018 às 09:24

O Caderno Mix, suplemento semanal publicado aos sábados por este jornal nos trouxe na última edição uma reportagem de grande interesse sobre a epidemia de gripe espanhola que atingiu Sorocaba quando esta tentava se recuperar dos danos causados por epidemia anterior, de febre amarela que, além de causar inúmeras mortes, apressou o fim das feiras de muares que se realizava em Sorocaba desde 1733. A gripe espanhola, que não tinha qualquer relação com a Espanha, diga-se de passagem, foi a maior epidemia que se tem notícia e, entre 1918 e 1919, matou em todo o mundo de 50 a 100 milhões de pessoas. No Brasil foram registradas aproximadamente 35 mil mortes, entre elas a do presidente da época, Rodrigues Alves.

O vírus por trás da pandemia que começou em um campo de treinamento militar dos Estados Unidos é o conhecido Influenza H1N1, que ainda circula pelo mundo. Na nossa região ele chegou quando a cidade se transformava de polo comercial das feiras anuais de muares em cidade industrial, com concentração de indústrias têxteis. A reportagem de Carlos Araújo traz informações do trabalho de dois pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP, João Paulo Dall’Ava e André Mota. Mais de 8 mil pessoas teriam contraído a doença e em torno de 300 pessoas podem ter morrido, um número bastante significativo para uma população de 39 mil habitantes.

A gripe espanhola atingiu praticamente todo o mundo, se espalhou rapidamente em um período em que não havia vacina para evitá-la. Um século depois, a Influenza ainda provoca vítimas e o vírus H1N1 circula forte e rijo entre nós. Este ano mesmo, segundo dados da Secretaria de Saúde de Sorocaba, foram confirmados até o início de agosto 29 casos de Influenza A na cidade, sendo 17 moradores do município e 12 de outras cidades e desse total, 12 pessoas morreram. É evidente que não houve uma epidemia com resultados terríveis como no início do século passado, mas o vírus continua agindo e, em muitos casos, pode levar à morte.

A circulação desse e de outros vírus da gripe levaram o Ministério da Saúde a promover mais uma campanha de vacinação da população para atender principalmente grupos prioritários formados por idosos, trabalhadores da saúde, indígenas, crianças de 6 meses a 9 anos, puérperas, professores e população carcerária. Boletim do Ministério da Saúde divulgado em 16 de junho, próximo ao final da campanha, revelou que foram registrados 3.122 casos de influenza em todo o país, com 535 mortes. Mesmo com as mortes e os casos da doença, este ano, como em ocasiões anteriores, a campanha de vacinação não atingiu totalmente seu público-alvo e precisou ser prorrogada.

O médico Maurício Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), comentou em entrevista que a vacinação de adultos é um problema crônico no País. Segundo ele, a vacinação infantil é exemplar, mas o Brasil não sabe vacinar adulto. Ele lembra que sobraram vacinas contra gripe este ano novamente, possivelmente por uma falta de percepção do risco. E não é somente contra a gripe. No auge da epidemia de febre amarela, no verão do ano passado, as pessoas ficavam horas na fila. Algumas semanas depois, com a distribuição regular da vacina, as filas acabaram, sobraram vacinas e pessoas não imunizadas.

Estamos nos aproximando do verão, período de chuvas abundantes, ambiente propício para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, um inimigo mortal dos brasileiros pois consegue transmitir a dengue, chikungunya, zika e febre amarela. Mesmo assim encontramos em várias regiões da cidade criadouros do inseto, sem que as pessoas se deem conta do risco que correm. A Secretaria da Saúde de Sorocaba está em plena Semana de Mobilização contra o Aedes aegypti que tem uma série de atividades de prevenção e controle do mosquito, mas a proposta principal é fazer uma varredura para a eliminação de criadouros e orientar a população para que se dedique a eliminar recipientes com água parada em suas casas. É quase inacreditável que muita gente, por preguiça ou desinformação, não se importe com o combate ao mosquito. Uma atitude simples, que não exige grande esforço, mas que é vital para a saúde da população.