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Envergonhando a Nação

05 de Abril de 2019 às 00:48

Clara Becker, mãe do Zeca, disse tê-lo criado sozinha. Disse ainda, em vídeo, tê-lo orientado para ser honesto e respeitar os outros. Parece que ele preferiu as lições do pai. O desrespeito com que ele se comportou anteontem perante o ministro da Economia, Paulo Guedes, não envergonharia o pai, mas provavelmente envergonharia sua própria mãe e com certeza envergonhou a todos nós brasileiros.

Num momento importante de nossa história política, quando redesenhamos o pacto constitucional com a reforma da Previdência, discutindo alterações que interessam profundamente a todos os cidadãos, especialmente os mais humildes, o que se esperava de uma Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, que integra o Congresso Nacional, era um verdadeiro debate de ideias. O que se esperava era que dados apresentados como oficiais fossem contestados, não com discursos vazios, mas com apontamentos concretos, a fim de que todos que assistiam pela televisão e pela internet pudessem saber quais são os pontos críticos, qual é a real situação do sistema previdenciário brasileiro. Entretanto, o que assistimos foi o velho PT e o velho Psol fazendo mais do mesmo: oposição por oposição, baderna, gritaria e o pior, com muita falta de educação.

Nenhum dos oposicionistas inscritos para debater com o ministro parece ter feito a lição de casa, nenhum dos que gritavam e interrompiam trouxe dados objetivos para contrastar as propostas apresentadas. O que se via, ou pela ausência de argumentos ou pela falta de educação, é que a base oposicionista esbravejava e gritava num movimento orquestrado, enquanto o ministro tentava falar. A única nítida intenção era a de irritá-lo. Organizados como quem assume antecipadamente não ter argumentos, estavam decididos: vamos tumultuar...

O jovem presidente da Comissão de Justiça, Felipe Francischini (PSL-PR) até tentou pôr ordem na casa: “Deputados, isso aqui não é briga de rua”. Sozinho em sua trincheira, o ministro sim estava bem preparado. Nem precisou do esperado apoio da base governista (que no fim das contas não veio, mas também não lhe fez falta).

Em mais de seis horas de exposição técnica, bem preparado, como já se esperava dele, discorreu Paulo Guedes sobre a proposta. Foram dele as melhores sacadas: “O governo gasta dez vezes mais com a Previdência do que com educação”. Dirigindo-se à oposição que o vaiava emendou: “Vocês estão há 18 anos no poder. Por que não botaram imposto sobre dividendo? Por que é que deram benefícios para bilionários? Por que é que deram dinheiro para a JBS? Por que é que deram dinheiro para o BNDES? Todos sabem quem dobrou os subsídios no Brasil. Convive com o drama quem não aprende com a própria experiência”.

A sessão se encaminhava para o final quando o filho da Dona Clara e de Zé Dirceu resolveu chamar o Ministro de “tchutchuca”. Apesar de radicado no Paraná, trouxe o termo dos bailes funk do Rio de Janeiro. Foi a gota d’água. Tal como na semifinal da Copa do Mundo de 70, quando jogavam Brasil e Uruguai e os jogadores uruguaios caçavam Pelé pelo campo, batendo deslealmente, aconteceu o lance magistral. Pelé, antes mesmo de ser atingido novamente, revidou acertando uma violenta cotovelada na boca do jogador Dagoberto Fontes. A nação brasileira foi ao delírio, sentiu-se vingada. A imprensa brasileira e os críticos da época aplaudiram. Ontem, o ministro também teve que revidar: “tchutchuca é sua mãe!”. Dona Clara Becker, se tivesse sido ouvida pelo filho, hoje deputado, poderia muito bem ter ficado sem essa.