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Em busca de alternativas

08 de Novembro de 2019 às 00:01

A Associação Comercial de Sorocaba (Acso) comunicou esta semana que assinou um contrato de locação com o Mosteiro de São Bento para ocupar parte do conjunto arquitetônico, que marca a fundação da cidade, onde funcionarão alguns setores da entidade.

A Acso ocupará a parte do conjunto de prédios que fica na esquina do largo de São Bento com a rua Arthur Martins, onde funcionaram décadas atrás um colégio e mais recentemente uma companhia de policiamento do 7º BPMI.

São algumas edificações levantadas em período muito posterior ao do Mosteiro propriamente dito e à Igreja de Santa’Anna, mas formam um único conjunto, com valor histórico e arquitetônico inestimável.

O contrato prevê a preservação das características da edificação que faz parte do conjunto arquitetônico histórico. O Mosteiro e seu entorno foram tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de Sorocaba (CMDP) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat).

Para assegurar que todas as características do prédio serão preservadas, o presidente da Acso, o empresário Sérgio Reze, tomou o cuidado de pedir orientação à Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Sorocaba para a ocupação do imóvel e inclusive compartilhar o novo endereço.

O contrato de locação é de nove anos e o aluguel será útil para que os beneditinos concluam a restauração do Mosteiro de São Bento, uma obra que vem sendo realizada há anos, em uma velocidade proporcional aos recursos financeiros. Trata-se de uma operação em que todos ganham.

A Acso pode instalar seu centro administrativo em um ponto central com alto valor histórico, o Mosteiro passará a ter acesso a mais recursos para as obras de restauração do patrimônio e toda a comunidade terá a certeza que parte importante de sua história será preservada.

Com a escolha do novo local de funcionamento da Acso fica descartada a proposta apresentada pela entidade aos governos municipal e estadual para a restauração do prédio do Fórum Velho, localizado na praça Frei Baraúna, onde antes funcionou a Oficina Cultural Grande Otelo.

Em agosto do ano passado a Acso propôs uma parceria com a Prefeitura de Sorocaba para recuperar o prédio do antigo fórum igualmente tombado pelo patrimônio histórico. O prédio, com 1.300 m2 de área construída em local privilegiado na área central da cidade, é propriedade do governo estadual.

A Acso propôs que ele fosse transferido para a Prefeitura e em seguida seria cedido em comodato para a entidade por um período de 30 anos, que investiria na sua restauração, uma obra que deveria custar algo em torno de R$ 4 milhões.

Com a nova escolha da Acso, que esperou mais de um ano por uma resposta do governo do Estado -- o próprio governador João Doria recebeu em mãos uma cópia da proposta da Associação Comercial durante uma de suas visitas à cidade --, cabe agora ao governo estadual e à Prefeitura de Sorocaba encontrar uma maneira de restaurar o prédio construído no final dos anos 1930 e dar uma destinação condizente àquela edificação.

Como foi noticiado inúmeras vezes, o Fórum Velho está em péssimas condições. Em abril de 2014, há mais de cinco anos, portanto, o prédio foi fechado para restauração. A Oficina Cultural passou a funcionar em imóvel alugado, com sérios prejuízos para suas atividades.

Durante a reforma foram identificados problemas sérios de infiltração e estruturais, situação não prevista no orçamento de restauração. O governo estadual alegou “indisponibilidade orçamentária” e paralisou a obra.

O prédio abandonado já foi palco de invasões por moradores em situação de rua, foi usado como local de consumo de drogas e está totalmente pichado. Com problemas em sua estrutura, corre sério risco se nada for feito rapidamente.

Com a desistência da Acso em restaurá-lo, talvez não seja uma boa ideia passar agora o imóvel para a Prefeitura de Sorocaba, que não prima pela preservação de seu patrimônio do município. Basta ver em que situação se encontra o prédio do antigo Matadouro, prestes a ruir por falta de manutenção e outros imóveis igualmente importantes.

Sorocaba tem um representante no governo estadual, Flavio Amary, secretário da Habitação, que goza da confiança do governador, e vários deputados estaduais atuantes. Tanto o secretário como os parlamentares precisam usar o prestígio que têm junto ao governador para tentar salvar o prédio.

É necessário cobrar de maneira firme uma maneira de preservar aquele patrimônio, de preferência destinando-o, depois de restaurado, evidentemente, para a área cultural. Sorocaba não pode perder esse patrimônio, um prédio de linhas elegantes e de valor histórico e arquitetônico localizado em um ponto nobre da cidade. Alguma medida precisa ser tomada, antes que o pior aconteça.