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Efeito colateral

30 de Maio de 2020 às 00:01

O novo coronavírus desencadeou uma série de problemas ao redor do mundo desde que foi identificado no final do ano passado e começou a fazer as primeiras vítimas no início deste ano em uma distante província chinesa. Em cinco meses já infectou 5,8 milhões de pessoas e tirou a vida de aproximadamente 360 mil seres humanos.

Uma verdadeira tragédia na área da saúde que levou praticamente todos os países a adotarem rigorosas medidas de isolamento, o que está provocando outra tragédia, uma forte crise econômica pela interrupção abrupta da atividade econômica.

Desde janeiro, a pandemia tornou-se tema recorrente nos veículos de comunicação, nas redes sociais e nas conversas ao redor do mundo. O medo da contaminação alterou hábitos, criou protocolos domésticos informais de descontaminação e adicionou à vida das pessoas novos práticas de proteção como o uso de máscaras e luvas em algumas situações.

Mas enquanto a Covid-19 é o foco das atenções, percebe-se que a pandemia também está causando problemas para o tratamento de outras doenças, fazendo com que as pessoas cancelem cirurgias eletivas, exames e até consultas médicas por medo de contaminação. Paradoxalmente além de deixar vazias as unidades públicas de emergência, o novo coronavírus está levando muitos hospitais particulares e clínicas a amargarem fortes prejuízos.

Como mostrou reportagem publicada na edição de ontem (29) deste jornal, os atendimentos médicos nas unidades de urgência e emergência da rede pública de Sorocaba - PAs e UPHs --, caíram mais de 55% desde o início da pandemia.

De acordo com a Secretaria da Saúde de Sorocaba, de 23 de março até 25 de maio a rede fez 67.603 atendimentos entre consultas de clínica médica e pediatria. Nos 60 dias anteriores, a população procurou a rede para consultas 151 mil vezes.

A queda na procura por atendimento médico se deve, segundo as autoridades sanitárias, ao medo de contaminação pelo novo coronavírus. As pessoas só recorrem ao atendimento nas unidades de saúde em último caso, ainda assim com muito receio de serem contaminadas.

Outro indicativo de que a pandemia afasta a população de serviços de saúde é a queda drástica no número de doadores de sangue do Hemonúcleo de Sorocaba. Segundo a direção da unidade, ela recebe mensalmente, em média, três mil candidatos a doadores, que resultam em 2,7, 2,8 mil doações de sangue.

Com a pandemia, o mês de maio foi o pior do ano, com somente 1,2 mil doadores, uma queda de 40%. A queda de doadores só não trouxe mais problemas porque o consumo de sangue nas unidades hospitalares também foi afetado pela pandemia, com redução entre 10% e 15%. Mesmo assim o problema é sério e faz com que o Hemonúcleo realize campanhas de conscientização para conseguir mais doadores.

Mas não é só a rede pública que está sofrendo com a queda na procura por atendimento. Hospitais privados e filantrópicos de todo o País registram queda de até 90% no movimento por conta do cancelamento de cirurgias eletivas e exames.

Entidades que representam os hospitais particulares ainda calculam os prejuízos, mas já há instituições dando férias coletivas e casos de dispensa de funcionários. Entidade que reúne 4 mil hospitais, a Federação Brasileira dos Hospitais (FBH), a maioria de pequeno e médio porte, informa que o impacto é severo entre seus associados, enquanto a Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), que reúne hospitais de ponta, tem avaliação parecida. No mês de abril, 520 cirurgias teriam sido canceladas somente no Hospital Israelita Albert Einstein.

Os hospitais ainda tiveram aumento de custos com necessidade de compra de grandes quantidades de equipamentos de proteção individual, que tiveram preços inflacionados por conta da pandemia. E hospitais privados de todo o País registraram queda de 27% nas internações no segundo bimestre (março e abril) em comparação ao mesmo período do ano passado.

Além dos problemas financeiros gerados pela ausência de pacientes, um problema por si só bastante grave, dirigentes de hospitais se preocupam com a redução da busca por tratamento para problemas de saúde que não podem esperar e não apresentaram redução de casos, mesmo com a quarentena.

Há pacientes por todo o País interrompendo tratamentos de doenças crônicas e até mesmo de problemas agudos que necessitam de pronto atendimento. Como se vê, além de todos os males que acompanham uma epidemia, a Covid-19 tem potencial também para causar sérios danos na estrutura hospitalar pública e privada do País.