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Estoque vital

06 de Agosto de 2019 às 00:01

Nos dias de hoje, é de conhecimento geral que o leite materno é o alimento mais completo que uma criança pode receber desde seu nascimento. A amamentação é benéfica tanto para o recém-nascido, como para a mãe. Estudos mostram que a amamentação nos primeiros seis meses de vida da criança previne várias doenças, melhora a digestão e minimiza as cólicas do bebê, previne contra doenças como a diarreia, além de estimular a formação correta da arcada dentária e fortalece o contato entre mãe e filho. É um alimento completo e equilibrado e atende a todas as necessidades de nutrientes da criança. É de fácil digestão e colabora para a formação do sistema imunológico, prevenindo alergias, obesidade e intolerância ao glúten, entre outros benefícios. Pesquisa realizada por uma universidade norte-americana, depois de analisar 140 mil mulheres no período pós-menopausa, com média de 63 anos, mostrou que aquelas que amamentaram tiveram 10% menos risco de ter doenças cardiovasculares, se comparado com aquelas que nunca amamentaram.

Com o objetivo de incentivar a amamentação foi criada no Brasil a Semana Mundial de Aleitamento Materno, que começou na última quinta-feira. Devido à importância do tema, vários eventos estão sendo realizados em Sorocaba, entre palestras e cursos e até um “Mamaço” foi programado, uma forma de promover a amamentação, dar apoio e entrosar mães que passam por esse período da vida, além de conscientizar a sociedade de que quem decide a hora de mamar é a criança e não a mãe ou a sociedade.

Ocorre que muitas mães, mesmo estando dispostas a amamentar seus bebês, por problemas de saúde ou outro motivo, ficam incapacitadas temporariamente. Para suprir essas necessidades é que foram criados os Bancos de Leite que fazem um trabalho inestimável para atender as crianças que precisam de leite materno, indo inclusive até a residência das doadoras para fazer a coleta. O Banco de Leite de Sorocaba tem atualmente cadastradas, como revelou reportagem publicada por este jornal, em torno de 50 doadoras, um número insuficiente. O leite recolhido atende somente 40% da demanda existente no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) e em outros hospitais. O ideal, segundo a direção do Banco de Leite, seria que pelo menos 150 mães contribuíssem, pois o leite vai para a UTI Pediátrica, UTI Neonatal, pediatria e pronto-socorro pediátrico do CHS, além de outros hospitais. Na atualidade, cerca de 60 crianças mensalmente dependem das doações de leite materno, mas não há estoque suficiente.

A importância da amamentação e do uso de leite materno para a alimentação de recém-nascidos é reconhecida desde a Antiguidade. Amas de leite fazem parte da história. Os europeus trouxeram esta herança para o Brasil onde a figura da ama de leite é presença marcante desde o período Colonial. Tanto que em 1923, um decreto federal regulamentou a existência das amas de leite, desde que observadas algumas exigências. Os primeiros bancos de leite, então chamados de lactários, surgiram no Brasil no final da década de 1930, uma experiência trazida da França. Na época, as puérperas em geral e as amas de leite, após exames clínicos e laboratoriais, vendiam seu leite excedente em troca de pagamento. O uso de amas de leite diminuiu na medida em que começaram a ser difundidos os benefícios da amamentação e surgiram os “substitutos” do leite materno, a mamadeira e o leite de vaca em pó.

O hábito da amamentação diminuiu bastante no período do pós-guerra, quando houve acelerada urbanização, a mulher começou a participar do mercado de trabalho e assimilou as mudanças culturais da época. O avanço tecnológico com a popularização do leite de vaca em pó, influenciada pela propaganda das indústrias do setor, contribuíram definitivamente para o decréscimo do aleitamento materno exclusivo. A retomada da valorização do leite materno começa em meados dos anos 1970 e na década seguinte, quando a comunidade científica nacional e internacional passa a divulgar trabalhos mostrando a superioridade do leite materno e reafirma que esse é alimento ideal para o lactente.

Hoje, a importância da amamentação é praticamente um consenso, mas como mostram os minguados estoques do Banco de Leite Materno, amamentar e dividir o leite excedente com quem precisa é uma prática que necessita ser mais incentivada.

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