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Desespero

23 de Outubro de 2018 às 09:20

Estamos a cinco dias da eleição que, para eleitores de 13 Estados e do Distrito Federal, tem como objetivo a escolha dos futuros governadores e Presidente da República. Nas demais unidades da federação, onde a disputa estadual foi resolvida no primeiro turno, os eleitores comparecerão às sessões eleitorais somente para escolher o futuro presidente. Dos anos 1980, quando reconquistamos o direito de escolher nossos governadores e presidentes até agora, houve um sensível crescimento na animosidade entre as diferentes correntes políticas, culminando com a polarização extrema desta última campanha, turbinada por um fator novo, as mensagens despejadas por admiradores de um e outro candidato nas redes sociais.

Pelo que revelam as pesquisas de opinião pública até agora, somente algum fato de extrema relevância poderá alterar a trajetória do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, rumo à vitória. Enquanto a disputa pelo governo do Estado de São Paulo é bastante acirrada, com os dois candidatos Doria e França praticamente empatados a poucos dias do pleito, o mesmo não acontece com a eleição presidencial. A diferença apontada nas pesquisas de intenção de voto entre um e outro candidato vem se mantendo estável nos últimos levantamentos. A última pesquisa Datafolha mostra Bolsonaro com 59% e Haddad com 41%. As demais pesquisas não fogem muito dessa proporção o que significa que Haddad precisaria conquistar mais de 2 milhões de votos de Bolsonaro por dia para chegar à vitória. Não é uma tarefa fácil, para dizer o mínimo.

É diante desse quadro pouco promissor que a campanha do Partido dos Trabalhadores se apegou a uma reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo sobre suposto financiamento de empresários para o disparo de notícias falsas por meio do aplicativo WhatsApp. Apoiado em uma única reportagem em que não aparecem provas suficientes, o partido propõe cassar o registro da candidatura do adversário e a suspensão de seus direitos políticos por oito anos. No dia seguinte à publicação da reportagem, quando se esperava provas contundentes, o que se viu foi uma proposta de uma empresa especializada encaminhada à campanha de Geraldo Alckmin sugerindo, entre outras ações, disparos pagos por aplicativos.

Já que a vitória nas urnas parece muito distante, o objetivo agora é tirar o concorrente da disputa ou, no mínimo, tentar tirar a credibilidade do processo eleitoral, atribuindo a boa votação do candidato adversário no primeiro turno e posição privilegiada nas pesquisas a disparos financiados por empresários no WhatsApp. Psol, como força auxiliar, aderiu de pronto e também pede providências à Justiça e o PDT sugere que Bolsonaro seja banido do processo eleitoral e seu candidato, Ciro Gomes, dispute o segundo turno em seu lugar. Isso a cinco dias das eleições. Esqueceram de avaliar a gigantesca militância espontânea de seguidores de Bolsonaro que está fazendo a diferença nesta campanha.

É evidente que toda denúncia fundamentada de fraude no processo eleitoral precisa ser investigada. Divulgação de fake news, uma prática condenável e potencialmente perigosa diante da velocidade da internet, entretanto, não é privilégio de apenas um dos lados da contenda. A prática, do lado petista, tem antecedentes sérios e já atuaram com força na eleição de Dilma Rousseff. E por falar em eleições passadas, os leitores mais atentos certamente estão ainda aguardando manifestações de espanto, indignação ou tentativas de desmentidos com relação às denúncias recentes do ex-ministro Antonio Palocci. Nada se comenta sobre os custos de campanha da ex-presidente que custaram mais de R$ 1,4 bilhão: R$ 500 milhões em 2010 e R$ 800 milhões em 2014. O valor desta última campanha, segundo o ex-ministro, foi mais do que o dobro dos R$ 350 milhões de gastos declarados à Justiça Eleitoral.

O histórico de financiamentos obscuros às campanhas petistas não é coisa recente. Em sua delação à Polícia Federal, Palocci lembrou que já em 2002, o ex-ditador líbio Muamar Kadafi, morto em 2011 pela população enfurecida de seu país, enviou ilegalmente uma doação de R$ 1 milhão para a campanha de Lula. Tentar embaralhar o processo eleitoral nesta altura do campeonato, mais parece desespero diante de uma derrota inevitável.