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Depois do furacão

11 de Outubro de 2018 às 08:31

Apuradas todas as urnas da eleição do último domingo, quando uma avalanche de votos para o deputado Jair Bolsonaro (PSL) mudou a geografia política do País, os partidos políticos começaram a contar suas perdas, seus prejuízos. Como diz o antigo ditado “Em casa que falta pão (no caso, votos), todos brigam e ninguém tem razão”, as escaramuças, as dissidências e as acusações de traição já começaram. Nada como um mau desempenho eleitoral para lançar a semente da discórdia.

Alguns dos grandes partidos saíram destroçados do pleito. PT e PSDB precisam urgentemente rever suas estratégias para voltar a entender o que querem os eleitores, embora o primeiro ainda mantenha-se em pé por ter conseguido levar seu candidato para o segundo turno das eleições presidenciais. O Tribunal Superior Eleitoral ainda não tinha divulgado o resultado final do pleito e o confronto já havia se instalado entre os tucanos. A peleja mais feia teve como palco o Estado de São Paulo, unidade da federação que foi governada por mais de 20 anos pelo partido. O candidato a governador pela sigla, João Doria, cria do ex-governador Geraldo Alckmin, candidato derrotado na disputa presidencial, abriu sua caixa de ferramentas e distribuiu acusações. Acusou correligionários de fazer jogo duplo e tenta expulsar figurões do partido, entre eles assessores diretos de Alckmin e o ex-deputado e ex-governador Alberto Goldman. Nesse fogo cruzado, Doria foi acusado de não ter trabalhado como se esperava pela candidatura de Alckmin e ter, nos últimos dias da eleição, se “bolsonarizado” para tentar surfar na onda do candidato do PSL. Curioso é que os dois candidatos do segundo turno na eleição paulista são “crias” do ex-governador.

Assim como o PT, o PSDB sai alquebrado das eleições. Além da votação pífia de Alckmin, sua representação no Senado, na Câmara Federal e nas Assembleias Legislativas caiu bruscamente. A esperança agora será um bom desempenho no segundo turno em Estados importantes, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Fato é que Jair Bolsonaro conseguiu atrair o eleitor de centro e de direita do Estado de São Paulo que até a penúltima eleição apoiava os candidatos do PSDB.

O pleito do último domingo também teve efeito de arrasa quarteirão nos pequenos partidos. Nada menos que 14 dos 35 partidos registrados no TSE não atingiram a cláusula de desempenho prevista pela legislação e vão perder, a partir de 2019, o direito de receber recursos do Fundo Partidário e participação no horário gratuito de rádio e televisão, que já foi moeda de troca valiosa para os pequenos partidos, mas que perde importância a partir de agora, na era das redes sociais. Entre os partidos atingidos estão o PCdoB, da candidata a vice de Haddad Manuela d’Ávila, o PRTB do General Mourão, candidato a vice de Bolsonaro, e ainda Rede (de Marina Silva), Patri, PHS, DC, PCB, PCO, PMB, PSTU e PTC. Esses partidos não conseguiram número de votos e parlamentares eleitos em todo o Brasil, como exige a Constituição. Em 2018 o Fundo Partidário distribuiu R$ 888,7 milhões e como estamos em ano eleitoral, há ainda o Fundo Especial de Financiamento de Campanha, que este ano foi de R$ 1,7 bilhão. Para se adaptarem à nova situação, vários partidos enquadrados partem para fusões e atração de parlamentares. O primeiro caso é o da Rede, que pretende se fundir com o PV por necessidade de sobrevivência.

Fato é que, goste-se ou não dele, Bolsonaro provocou um furacão que alterou o modo de fazer campanha, fato reconhecido até por seus adversários. Sem ter um partido organizado, o PSL era praticamente desconhecido antes da eleição, sem tempo de TV, sem estrutura de campanha dos grandes partidos, sem apoio da grande mídia, com poucos recursos e sem participar diretamente da campanha durante o último e decisivo mês depois do atentado de Juiz de Fora, o candidato conseguiu 46% dos votos válidos no primeiro turno. Só uma virada histórica, nunca registrada na história recente do País, poderá reverter essa situação no segundo turno.