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De coadjuvante a protagonista

23 de Setembro de 2020 às 00:01

A indústria automobilística, desde que começou a ser implantada no Brasil no final dos anos 1950, sempre provocou crescimento nos locais onde se instalou.

Planejada pelo Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) criada pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek, em 1956, esse tipo de indústria, pela grande cadeia produtiva que cria, acabou provocando uma explosão de crescimento no País.

A proximidade com o maior centro de consumo do Brasil e do porto de Santos, por onde inicialmente chegava a maior parte dos componentes, fez da região do Grande ABC, principalmente São Bernardo do Campo, às margens da rodovia Anchieta, o local preferido para a implantação das indústrias.

Ali se instalaram quase que ao mesmo tempo a Volkswagen, a Wyllis Overland do Brasil, fábrica mais tarde adquirida pela Ford, Mercedes-Benz, General Motors, DKW-Vemag, Simca do Brasil, Karmann-Ghia e a Toyota entre outras e uma infinidade de fabricantes de autopeças que começaram a produzir componentes para substituir o que era importado.

Participar dessa cadeia produtiva em rápido crescimento, geradora de impostos e grande absorvedora de mão de obra sempre foi o sonho de qualquer prefeitura.

Mas ao menos nas primeiras décadas, as montadoras se instalaram preferencialmente naquela região, ciclo só quebrado em meados da década de 70 quando a Fiat construiu sua fábrica em Betim, Região Metropolitana de Belo Horizonte, e foi acompanhada mais tarde por várias outras marcas, que acabaram espalhando fábricas por alguns Estados brasileiros.

Sorocaba começou a participar da indústria automobilística a partir da década de 1970, quando foi criada a zona industrial e se instalaram vários fabricantes de componentes automotivos.

A presença efetiva de um braço de fabricante de automóveis só ocorreria em março de 1996 quando a General Motors inauguraria seu Centro Nacional de Distribuição de Peças na cidade, um gigantesco depósito que abastece toda a rede de concessionários da marca.

A vinda de uma fábrica da Toyota em Sorocaba, inaugurada em 2012, foi um marco na história industrial da cidade, pois pela primeira vez começaram a ser produzidos veículos na cidade, atraindo, além da fábrica em si, mais de uma dezena de sistemistas para abastecer com peças e equipamentos a linha de montagem.

A Toyota se adaptou bem em Sorocaba, construiu uma boa imagem junto à comunidade e trabalhadores. O ex-CEO para a América Latina e Caribe, Steve St.Angelo, um norte-americano de Detroit que trabalhou no chão de fábrica enquanto estudava engenharia e hoje está aposentado em Miami, disse que os trabalhadores de Sorocaba eram os melhores que já tinha visto em sua longa experiência no setor.

Diz ele ter percebido que os funcionários trabalhavam com amor, o que reflete na qualidade do produto. Garantia que essa qualidade poderia levar a marca a ampliar cada vez mais sua produção em Sorocaba.

A expansão da fábrica não veio, mesmo porque tivemos no meio do caminho uma grave crise econômica seguida de uma crise sanitária que parou o País por seis meses e fez despencar a produção de veículos.

Mas a Toyota informou, por meio de um comunicado interno distribuído na última sexta-feira, assinado pelo seu presidente no Brasil, Rafael Chang, que todo o centro administrativo da empresa passará a funcionar junto à fábrica de Sorocaba.

São aproximadamente 800 funcionários nessa área que serão transferidos aos poucos a partir de janeiro do ano que vem. A empresa auxiliará a adaptação em Sorocaba, inclusive para localização de imóveis.

Os que não quiserem se mudar para Sorocaba e se manter na empresa terão ônibus fretados entre São Bernardo e Sorocaba diariamente.

Com isso, o município ganha novo status em relação à indústria automobilística. De coadjuvante passa a ser protagonista, pois será a sede da Toyota no Brasil, com fábricas do grupo muito próximas, em Porto feliz e Indaiatuba. Também é a única planta, no momento, que dispõe de área para expansão.

Esse movimento em direção ao interior não é recente. Muitas empresas, sobretudo de autopeças, têm se transferido para cidades do interior paulista ou outros Estados.

A concentração de indústrias no ABC que começou em meados do século passado não foi planejada e com isso vieram sérios problemas resultantes do crescimento desordenado que hoje atrapalham as empresas que lá ficaram. Sorocaba, como se viu em reportagem recente publicada por este jornal, tem crescido mais que a média do País justamente por ser um polo de atração de força de trabalho.

Por isso é importante que o futuro prefeito (a) a ser eleito nas próximas eleições, tome cuidado especial em disciplinar o crescimento da cidade, em dotá-la de infraestrutura eficiente, se preocupe com o meio ambiente, em resumo, que mantenha e avance na qualidade de vida.

Essa será uma maneira de preservar inclusive os empregos e as oportunidades que a cidade oferece.