Dança dos hospitais de campanha

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O governo de São Paulo anunciou na segunda-feira (15) a criação de mais um hospital de campanha na capital paulista, que deverá ter 180 leitos, sendo 50 de UTI.

Dessa forma, até o final de março, o Estado deve ter 12 novos hospitais de campanha para atender pacientes de Covid.

Eles serão montados nas cidades de Santo André, Andradina, Santos, Barretos, Botucatu, Campinas, Ourinhos, Tupã, Itapetininga, Fernandópolis e na capital paulista.

As unidades serão instaladas junto aos Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs) de cada uma das cidades, exceto à de Fernandópolis, que será montada junto à Unidade de Reabilitação Lucy Montoro, e uma da capital.

As unidades se juntam às quatro que o governo estadual já administra, em Franca, Bauru e Bebedouro, além do hospital de campanha de Heliópolis, na capital.

Essa retomada ocorre após o Estado de São Paulo atingir a maior taxa de ocupação de leitos de UTI desde o início da pandemia.

Diante do colapso do sistema de saúde e da volta dos hospitais de campanha, a primeira reação -- absolutamente compreensível -- é surpresa e questionamento: por que, então, foram fechados os que estavam montados no ano passado? Bem, a pergunta é válida, mas a resposta -- e o cenário de combate à pandemia -- é bastante complexa.

De sopetão, diríamos que foi um tremendo erro ter desativado as estruturas que existiam. Não totalmente. Na verdade, o que aconteceu foi o seguinte.

Naquele momento -- então o pico da pandemia -- e diante da urgência e do desespero de se ter mais leitos, cada região e Estado correu atrás para tentar resolver o próprio problema.

Até porque cada região tinha uma necessidade específica. Portanto, estratégias distintas foram adotadas pelos Estados. Nesse sentido, nem tudo estava errado, pelo contrário.

A epidemiologista Carolina Coutinho, pós-doutoranda em gestão de emergências em saúde pública da FGV-SP, avalia que em alguns locais os hospitais foram construídos rapidamente e atenderam muito bem a demanda.

Em outros, porém, só ficaram prontos depois do pico e tiveram pouca utilidade considerando o volume do investimento.

“A grande questão do hospital de campanha é que ele tem que estar pronto quando o número de casos subir, então a decisão precisa se antecipar à demanda. Por isso é importante sempre acompanhar os indicadores”, diz a especialista.

Uma das justificativas para que os hospitais de campanha de 2020 tenham sido desativados é o alto custo de sua manutenção no período em que não havia demanda nem funcionários para mantê-los. Sim, isso procede.

No segundo semestre, o número de casos não era suficiente para justificar toda a estrutura montada. E não apenas pela questão do custo, mas também pela justificativa aos órgãos de controle. Só que no meio disso tudo também tem a picaretagem.

O Rio de Janeiro é um (mau) exemplo. O governo do Estado chegou a prometer nove unidades, algumas em parceria com a iniciativa privada, mas só quatro foram abertas, todas com atraso.

Suspeitas de corrupção nos contratos da saúde levaram ao afastamento do governador Wilson Witzel (PSC) e à prisão de um ex-secretário, de outros membros da pasta e de empresários.

O Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) recebeu perto de R$ 1 bilhão, repassados pela União, e virou sinônimo de irregularidade.

O assunto ganha relevância no momento em que a subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, enviou ofício a todos os 27 governadores com questionamentos sobre os hospitais de campanha montados para aumentar a capacidade de atendimento a pacientes da Covid-19.

Com base em portaria do Ministério da Saúde que definiu critérios técnicos para estruturação de unidades de saúde temporárias, a subprocuradora-geral indaga aos gestores quantos e quais hospitais de campanha foram construídos em seus Estados.

Lindôra também pergunta: quais hospitais não entraram em funcionamento depois de já terem sido montados e quais unidades estão operando atualmente, sobre unidades desativadas, qual o motivo de seu fechamento e qual a destinação dada a insumos e equipamentos que foram usados nas estruturas fechadas? Ela pede que governadores respondam até sexta (19).

A questão principal é que todos os envolvidos cometeram erros. A culpa é de todos. Inicialmente do governo federal. Desde o primeiro momento da pandemia, nunca houve um plano de combate unificado. Quem era para liderar todo o processo se omitiu. Faltou coordenação federal.

Sem a definição de critérios técnicos para a implantação dos hospitais e a centralização da compra de insumos, os Estados viveram uma corrida que gerou desperdício de recursos e desabastecimento.

Os governos estaduais, por sua vez, pegaram uma dinheirama do governo federal e muitos deles desviaram ou fizeram mau uso das verbas. Os governos municipais ficaram à mercê das esferas superiores. E nessa equação não apenas os governantes têm culpa.

A população irresponsável, que lotou parques, bares, restaurantes, praias, que fez incontáveis festas clandestinas, que ignorou todos os avisos sobre distanciamento, para não aglomerar, para lavar as mãos e usar máscara, também tem enorme parcela de culpa.

Desprovido de educação, civilidade e descumpridor das normas, muitos brasileiros deram péssimo exemplo. O momento era para ser de união contra o vírus, e não o contrário, de desunião por motivos políticos, econômicos e pessoais.