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Crescer na adversidade

04 de Novembro de 2018 às 08:54

Palácio do Planalto, Em Brasília. Crédito da foto: Roberto Stuckert Filho/PR.

Brasil em toda sua história viveu aos solavancos na trajetória republicana, ora por conta das condições econômicas do mundo, onde está inserido, ora por questões internas próprias de um país que se agarrou aos valores transferidos por seus colonizadores e com grande dificuldade para encontrar sua identidade própria. Fomos sendo moldados pelos tropeços ao longo da nossa trajetória. Empenhamos nossos votos livres, quando a democracia retornou com o fim do regime militar, em vários homens e ideias, algumas com sucesso e outras em retumbante e até patético fracasso como o “sequestro da poupança” do governo Collor.

Outros presidentes vieram, atrelados a grandes economistas carregando suas teorias, pensadores e ideólogos de primeira viagem junto com gênios nas últimas viagens. De todo modo, o País sobreviveu a essas mudanças que mais sugeriam soluções na base de tentativas e erros do que metas a serem alcançadas com inteligência e determinação, pois sempre estiveram contaminados por interesses políticos e pessoais, alguns regionalizados, como famílias de políticos profissionais, a partidos fisiológicos e sem ideologia. Essas distorções nos levaram à marca mundial de maior corrupção de todos os tempos, além do fato inusitado de termos um ex-presidente de grande popularidade, preso por corrupção e aguardando julgamento de outros processos que podem mantê-lo na cadeia por muito tempo.

Nem por isso o País desistiu de sua proposta de ser igual ou superior aos chamados países de primeiro mundo. Lançamo-nos numa eleição divididos, muito mais ancorados em nossos medos do que cada candidato poderia causar ao já fragilizado País do que, realmente, crentes em suas mensagens salvadoras. De resto tínhamos um cenário de um povo saturado de promessas, de discursos empolados e dirigidos para convertidos e que só resultaram em corrupção, obras abandonadas às centenas país afora, o dinheiro sendo escandalosamente gasto em obras de uma forma nunca antes vista e muitos menos acabadas em todo território nacional. Esqueletos de promessas feitas de concreto e ferro se espalham Brasil afora denunciando o desperdício e o descaso com o dinheiro público e a insensibilidade de governantes enclausurados em Brasília e sustentados pelo mesmo povo que muitas vezes engana. O único sucesso era pessoal de alguns caciques e de partidos de fachada que lavavam o dinheiro em paraísos ficais, contas no exterior e malas cheias de dinheiro, toda sorte de horrores só encontrados na ficção e nas comédias bufas, mas real para nossa miséria no Brasil.

O candidato improvável captou de algum modo esta vontade da maioria dos eleitores e elegeu-se Presidente da República de todos os brasileiros que nele votaram e que não votaram. Suas primeiras indicações e ações, antes mesmo da posse oficial, demonstram que não só o presidente eleito soube ler as ruas como começa a entregar, através de indicações de ministros e propostas de mudanças nas áreas da previdência, segurança, dívida pública medidas sérias pelas quais ansiava a sociedade. Não temos mais a ilusão, nem paixões com soluções mágicas. Serão dias duros, certamente surgirão muitas dificuldades para aprovar mudanças, tanto na sociedade como no parlamento, mas esta é a nossa sina. Esta é a característica do povo brasileiro, levantar-se a cada queda, bater a poeira das roupas, limpar o suor da testa e recomeçar.

Desejamos ao novo governo serenidade e ouvidos atentos ao povo. Esperamos de nosso Congresso sensibilidade para trabalhar pelo interesse nacional e dos partidos o compromisso de se esforçarem para tratar dos méritos das propostas e não somente dar apoio incondicional sem crítica ou fazer oposição sem bom senso. Aprendemos a crescer na adversidade, não devemos vê-la como inimiga, mas como um desafio a ser enfrentado. Muitas vezes é nesta condição que encontramos as oportunidades e que um povo se fortalece.