Crescem as abstenções
Em muitos municípios brasileiros, incluindo Sorocaba -- assim que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que centralizou dados de apuração e atrasou sua divulgação por várias horas, divulgou os resultados oficiais do primeiro turno das eleições -- equipes daqueles candidatos que chegaram ao segundo turno nas cidades com mais de 200 mil eleitores já começaram a ser convocados para a batalha que será disputada nas próximas duas semanas.
Com os resultados ainda frescos da Justiça Eleitoral, os candidatos e assessores iniciaram o previsível trabalho de localizar novos aliados, iniciar novos acordos e composições políticas, enfim, aquele tipo de trabalho necessário a todos que pretendem conseguir mais votos no próximo pleito.
Existem alguns dados oficiais, disponíveis a todos os candidatos, entretanto, que precisam ser muito bem analisados. É o caso do grande número de abstenções na eleição deste domingo e do gigantesco número de votos brancos e nulos. É importante considerar que as eleições deste ano são atípicas, uma vez que realizadas durante uma pandemia de doença grave e altamente transmissível. Não foi por outro motivo que tanto as datas do primeiro como do segundo turno foram alteradas. O Congresso Nacional aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que alterou o calendário eleitoral deste ano em razão da pandemia. O calendário inicial do TSE, definido em dezembro do ano passado previa o primeiro turno em 4 de outubro e o segundo, em 25 de outubro.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso, divulgou ontem que a abstenção na votação do último domingo ficou em 23,1%. É um número alto, evidentemente, mas que está apenas um pouco acima da média dos últimos anos, fato comemorado por ele pelo fato de o pleito ter sido realizado no meio de uma pandemia. Esperava-se que a abstenção fosse ainda maior, disse o ministro, pois muita gente, compreensivelmente, ainda evita aglomerações. Nos últimos 12 anos, a abstenção mais alta foi registrada em 2018, na eleição geral que elegeu o presidente da República, com 20,33%. Nas eleições municipais anteriores, percebe-se um contínuo crescimento de eleitores que deixaram de votar. O índice de abstenção em 2016 foi de 17,58%; em 2012 foi de 16,41% e em 2008 foi de 13%.
No maior colégio eleitoral do País, a cidade de São Paulo, a abstenção no último domingo chegou a 29,29% segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral e no Rio de Janeiro, o índice foi um dos maiores do Brasil: 32,79%.
Este ano, os interessados puderam se cadastrar e utilizar o aplicativo e-Título, do TSE, para poder justificar a falta na sessão eleitoral até 60 dias após a eleição, com o objetivo de reduzir aglomerações nas sessões eleitorais onde tradicionalmente a justificativa era feita. A tecnologia de geolocalização impede que o eleitor justifique sua ausência estando na sua cidade de votação. Especialistas acreditam que essa nova tecnologia, que teve grande procura nos últimos dias e apresentou alguma demora no cadastramento, é um incentivo a mais para aqueles que não estão dispostos a participar da eleição. Mesmo quem não comparece e não justifica a ausência, a multa para quem deixa de votar é de apenas R$ 3,50.
Este ano, o total de abstenções (129.485) foi superior aos votos obtidos pelo candidato Rodrigo Manga (Republicanos), o mais bem votado entre os candidatos no primeiro turno. Manga teve 116.020 votos, 39,42% dos votos válidos. O número de votos brancos e nulos também foram significativos. Foram 40.258 votos nulos e 21.874 votos em branco.
A tendência natural, nos primeiros dias após o primeiro turno é a de conversas entre os candidatos que seguiram na eleição e aqueles que não passaram pelo primeiro turno. É evidente que qualquer tipo de apoio é positivo neste momento decisivo, mas fazer um trabalho para atrair aqueles que se mostraram desinteressados pela eleição ou votaram em branco ou anularam seus votos pode fazer a diferença e sem que seja necessário oferecer algo em troca. Resultados mais positivos terão ainda o candidato que conseguir reverter a curva crescente daqueles que não compareceram às sessões eleitorais para cumprir seu dever cívico. São milhares e milhares de votos que poderão ser conquistados e talvez sejam decisivos nos próximos dias.