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Contra o abuso e ineficiência

21 de Outubro de 2018 às 09:31

Tarifa de energia elétrica sobe dia 23. Crédito da foto: Emídio Marques

Enquanto chegam ao Cruzeiro do Sul manifestações de repúdio ao excessivo, injustificável aumento do valor da energia elétrica, anunciada para a próxima semana pela CPFL Piratininga, o Jornal continua em sua missão de ouvir a população, incluindo o setor industrial e do comércio.

A primeira reação que se observa é a surpresa da sociedade pega pelo “timing” do quase-indecente aumento da energia: um final de festa de um governo federal do qual pode-se esperar tudo, incluindo resoluções geradas em porões. Sem clareza alguma. Sem discussões que gerou um abusivo porcentual do valor, ao redor de 20% entre setor industrial e consumidor. Consumidor também conhecido como cidadão, leitor, eleitor.

Protestos na Câmara Municipal de Sorocaba como fez o vereador Wanderley Diogo (PRP), oficialmente mostra a posição de pelo menos um eleito pelo povo na defesa dos interesses da população. É uma atitude que merece destaque e apoio. Uma pena que seus colegas estivessem mais interessados em assuntos de poder como as articulações de quem vai ser o próximo presidente da Casa e assim exigir uma secretaria para chamar de sua. Atender aos reais interesses de quem vota pode ser deixado para depois.

Isso nos traz aos leitores que nos têm perguntado. O que pode o cidadão fazer, seja ele um aposentado ou um estudante que ainda vive na casa dos pais e consome uma boa energia elétrica com sua tevê e banhos demorados (sem contar aqueles que exigem ar-condicionado)? Que pode fazer um industrial que tem no item energia 20% em sua planilha de custos, ou o empregado que teve uma irrisória atualização de valor em seu salário ou uma prefeitura que tem que arcar com a iluminação pública? Mais, onde sentem esse vergonhoso e desmedido aumento nossos representantes eleitos na esfera estadual e federal? No bolso certamente que não, uma vez que os altos salários e penduricalhos que recebem para nos representar pouco afetarão seu modus vivendi que, diga-se, vai muito bem obrigado. Seriam eles sensíveis às manifestações dos eleitores diretamente aos seus escritórios, quem sabe com cartas à redação do jornal ou cobranças na mídia social?

Espera-se que os representantes oficiais do comércio e das indústrias através de suas associações se manifestem em breve, apontando soluções que possam ir além do protesto.

Os sindicatos de inúmeros trabalhadores, cada um a seu modo, não parecem se preocupar com este escabroso aumento. O que afetaria em 19% na conta de luz de alguém que já paga muito caro por gás para cozinha? O que afetariam 19% na casa de um cidadão que há vários anos tem trocado suas lâmpadas por fluorescentes e depois por LED, eletrodomésticos mais econômicos, chuveiros mais eficientes e banhos mais curtos? Há quem imagine que parte desse aumento escrachado da CPFL é para recompor também perdas por consumo porque o cidadão fez a sua lição de casa, economizou e tenha afetado o crescimento de faturamento da empresa. A eleição presidencial e estadual parece ser mais importante que a defesa dos legítimos interesses da classe trabalhadora.

Fica aqui mais uma pergunta, cuidadosamente dirigida ao governador -- e não ao candidato -- do mais importante Estado do Brasil: como o senhor permitiu esse aumento? Poderia ele dizer que está fora de seu escopo, que isso corre na esfera federal, entre as agências reguladoras. Ora, perdeu São Paulo sua influência histórica?

Restam como recursos o Ministério Público e o próprio Procon -- e associações de defesa do consumidor. Poucas ações neste ano em que vivemos perigosamente (apud o filme de Peter Weir), à beira do descarrilamento, merecem atenção. É preciso defender e ganhar juridicamente a causa, estar ao lado do cidadão.

Os serviços da CPFL Piratininga, empresa de controle acionário chinês, continuam pobres e pouco eficientes. Apagões em Sorocaba e região. Culpa a CPFL os acidentes de motoristas contra postes com duas manchetes idênticas em seu site: “Jundiaí, Sorocaba e Indaiatuba lideram lista de colisões contra postes da CPFL Piratininga” (20/5/2018), “Campinas, Piracicaba e Ribeirão Preto lideram lista de colisões contra postes da CPFL Paulista” (20/5/2018). Numa posição de pouca maturidade, a empresa prefere culpar os outros pelos problemas apresentados.

Chegam a demorar mais de dez horas para levantar um simples fusível (“banana”) desarmado de um transformador como ocorreu há duas noites na região rural de Araçoiaba da Serra. São poucos exemplos entre os inúmeros que não são relatados que exemplificam a qualidade dos serviços pelo qual já pagamos muito. E vamos pagar muito mais.

Enquanto ocorre a distração da população para a aguerrida corrida presidencial, ficam os serviços de alto custo na escuridão da ineficiência, com um caso em comum que relega o consumidor-cidadão ao seu papel indigno, à luz do dia: pagar a conta de todas a mazelas.