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Avanços na luta antifumo

04 de Junho de 2019 às 00:01

Poucas campanhas de utilidade pública e em benefício da saúde da população obtiveram tanto êxito em curto período de tempo como as campanhas antitabagistas e as leis antifumo no Brasil. Na última sexta-feira (31) foi celebrado o Dia Mundial sem Tabaco e o Brasil tem boas razões para comemorar, embora ainda conte com um número expressivo de fumantes. Várias pesquisas com metodologias distintas, entre elas a Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição do Ministério da Saúde, mostram que, em 1989, 34,8% dos brasileiros adultos eram fumantes. Graças a uma política agressiva contra o vício do fumo -- a principal causa evitável de morte no mundo e que contribui diretamente para pelo menos 20% de todos os óbitos -- o País vem diminuindo o número de fumantes. Levantamento recente mostra que no ano passado o número de fumantes chegou a 9,3% da população adulta. A queda tem sido registrada ano a ano, com notável avanço. Em 2017, por exemplo, 10,1% da população fumava e a queda entre esse ano e 2018 foi de 8,6%.

O tabaco, o lado milho, o tomate e a batata foram os produtos naturais das Américas espalhados pelo mundo por espanhóis e portugueses a partir do século 16. Enquanto os produtos alimentícios mudaram a culinária mundial ou livraram muitos países da fome em períodos de crise -- como é o caso da batata --, o tabaco, por conta da nicotina, criou milhões de dependentes ao longo dos séculos. O hábito de fumar, infelizmente, nem sempre foi visto com maus olhos. Qualquer filme norte-americano ou europeu até os anos 1970 “vendia” o hábito como uma atitude charmosa, glamourização que ajudou a espalhar ainda mais o mau hábito. Somente a partir dos anos 1950 é que pesquisadores começaram a relacionar determinadas doenças, sobretudo câncer de pulmão, com o tabagismo, mas diante das gigantescas campanhas publicitárias do produto, receberam pouca atenção.

A campanha antitabaco no Brasil atuou em várias frentes. Primeiramente foi proibido qualquer tipo de publicidade de cigarros, acompanhando uma tendência mundial. Há que se lembrar que a direção do jornal Cruzeiro do Sul, ciente dos males provocados pelo tabaco e pelo álcool, desde o início dos anos 1980 baniu de suas páginas todos os anúncios relacionados a cigarros e bebidas. O Brasil foi um dos primeiros países a obrigar a alteração das embalagens de cigarro e inserir frases e imagens de alerta para os consumidores. Na sequência foram criadas as leis proibindo o ato de fumar em locais fechados, inclusive bares e restaurantes. Pouca gente se lembra, mas até em aviões de carreira era permitido fumar, contaminando evidentemente todo ar da aeronave que os passageiros respiravam.

Embora com número reduzido de fumantes -- menos de 10% da população -- a situação no Brasil ainda é preocupante. Apesar da alta carga tributária (mais de 76%), o País ainda possui um dos cigarros mais baratos do mundo. Devido a diferentes taxas de impostos na América Latina, o Brasil é invadido por cigarros contrabandeados do Paraguai onde os tributos não ultrapassam 13%. Acredita-se que 35% dos cigarros consumidos no Brasil, sobretudo pela população de menor renda, sejam contrabandeados. Mesmo assim, os avanços da luta contra o tabagismo têm resultados positivos. Nos dias atuais, praticamente não se encontram pessoas fumando em ambientes fechados e os malefícios que a fumaça provoca nas demais pessoas que estão em um mesmo ambiente esfumaçado são reconhecidos por todos. É um êxito, em termos de campanha institucional aliada a uma legislação rigorosa só comparável à obrigatoriedade do uso do cinto de segurança em automóveis e capacete para motociclistas.

Está mais que provado que o hábito de fumar é extremamente prejudicial à saúde e está relacionado a doenças cardiovasculares e respiratórias, cânceres e várias outras enfermidades. Os gastos que o governo tem com internações e tratamentos de doenças relacionadas ao fumo são gigantescos. Calcula-se que no Brasil temos cerca de 200 mil mortes anuais causadas por doenças associadas ao consumo de tabaco. Felizmente, ações eficazes resultaram em uma tendência nacional de queda desse hábito extremamente nocivo à saúde.