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Ação e reação

20 de Outubro de 2019 às 00:01

Uma quadrilha com alto poder de fogo tentou realizar um ousado assalto na última quinta-feira no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas. Os ladrões tentaram interceptar um carregamento de dinheiro quando uma transportadora de valores levava sacos com dólares para serem embarcados para a Inglaterra. Ao contrário do que aconteceu no início de 2018, quando em ataque semelhante os bandidos conseguiram levar da pista do mesmo aeroporto 5 milhões de dólares em espécie, desta vez o ataque não foi bem sucedido. Houve reação dos funcionários da empresa de segurança, troca de tiros ainda no aeroporto e o assalto deixou, horas depois, um saldo de três criminosos mortos e cinco pessoas feridas, uma mulher que estava sendo mantida como refém, e quatro agentes de segurança, entre vigilantes e policiais foram atingidos durante os confrontos que duraram várias horas. O ataque, na área de cargas do aeroporto, levou ao cancelamento de voos, bloqueio da rodovia Santos Dumont pelos bandidos nos dois sentidos com caminhões incendiados e perseguições pelas ruas de Campinas.

Com a morte de três dos assaltantes, a polícia poderá identificá-los e levantar informações sobre a quadrilha. O que se sabe agora é que o assalto foi muito bem planejado. Os bandidos sabiam exatamente os horários da transferência dos malotes de dinheiro, o local onde o dinheiro seria transferido para a aeronave, entre outras informações, o que indica um longo período de planejamento e fontes de informações internas, ou no próprio aeroporto ou na empresa de transferência de valores. Foram usados vários veículos, um deles camuflado e armamento que surpreendeu até a polícia. A Polícia Federal acredita que pelo menos 20 homens participaram da ação. Foram apreendidos dois fuzis AK 47, um fuzil calibre 5.56, um rifle calibre .50, três pistolas Glock calibre .50, dois revólveres, capacete balístico e uma grande quantidade de carregadores e munição. Os ladrões que conseguiram fugir certamente portavam mais armas e munições. Na fuga, um policial que trabalha no aeroporto foi amarrado ao capô de um dos carros usados na fuga, formando uma espécie de escudo humano.

Não é qualquer grupo de bandidos que consegue planejar e colocar em prática uma tentativa de assalto dessa envergadura. Há necessidade de muito planejamento, inteligência, recursos, e principalmente pessoas infiltradas em diversos ambientes com acesso a informações privilegiadas. Também é necessário contatos no exterior, com expertise na movimentação de altas quantidades de moeda estrangeira. Só as investigações dirão se a recente tentativa de assalto tem relação com o assalto -- este bem sucedido -- no mesmo aeroporto de Campinas, no início do ano passado quando uma quadrilha, que entrou na pista do aeroporto com veículos semelhantes aos oficiais, e conseguiu roubar 5 milhões de dólares além de quantias menores de libras e reais que seriam entregues na Suíça. Até hoje não se sabe quem praticou o assalto nem onde foi parar essa grande quantidade de dinheiro. Em 25 de julho deste ano, uma quadrilha roubou uma carga de 720 quilos de ouro de dentro do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, no momento que o carregamento era embarcado em uma aeronave. Os ladrões igualmente usaram veículos clonados com identificação da Polícia Federal para entrar no local, causando um prejuízo estimado de R$ 123 milhões.

O que impediu a concretização do roubo da última quinta-feira foi a reação de seguranças da empresa transportadora, em primeiro momento, e ação rápida da polícia na sequência, com a mobilização de policiais civis, batalhões especializados da Polícia Militar, Polícia Federal e até da Guarda Municipal de Campinas. A partir das investigações com a identificação dos assaltantes mortos será possível obter mais informações sobre a quadrilha e saber se há relação entre essa tentativa de assalto e os outros roubos realizados em aeroportos. Mas mostra principalmente a importância da existência de um policiamento integrado e bem aparelhado. Teve papel de destaque no embate com os criminosos os PMs do Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep) de Campinas. O sniper que alvejou um dos criminosos que mantinha uma mulher e uma criança como reféns faz parte desse grupo de elite. Sorocaba reivindica a instalação rápida de um Baep na cidade, justamente para ter poder de resposta a ataques ousados como o de Campinas. Os bandidos estão cada vez mais organizados e armados e é preciso que tenhamos policiais muito bem preparados para dar combate a essa onda crescente de crimes ousados.

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