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A volta dos ‘pancadões’

27 de Dezembro de 2019 às 01:12

Na madrugada do dia 25, Dia de Natal, um jovem de 21 anos foi baleado enquanto participava de um baile funk realizado no bairro Paineiras, zona norte de Sorocaba, em um daqueles eventos que atormentam a vida dos moradores que não conseguem dormir, muitas vezes têm dificuldades de chegar em casa, têm seus carros danificados, suas ruas cobertas de lixo e muitas vezes têm medo até de chamar a polícia, tal a violência com que os participantes desses encontros agem.

Não se sabe exatamente como o jovem foi baleado.

Segundo a Polícia Militar, o fato ocorreu durante uma briga generalizada, comum nesse tipo de encontro.

Com ferimentos graves o rapaz foi levado por familiares à UPH Zona Norte onde polícia foi acionada pelos funcionários da unidade que atenderam o ferido.

Aliás, chamar de baile funk talvez seja impróprio.

Um baile pressupõe um local para que casais dancem, se divirtam, em área delimitada e com volume de som que não incomode os quarteirões vizinhos.

O que se convencionou chamar de baile funk, na realidade, é uma concentração de pessoas com carros e motos barulhentos, com o som no último volume tocando músicas de gosto duvidoso e onde vale tudo, menos regras civilizadas de comportamento.

Sem qualquer tipo de controle e longe da lei, transforma-se em mercado aberto para o tráfico de drogas onde não só são vendidas as mercadorias ilícitas como também são aliciados os futuros vendedores de drogas.

No dia 6 de outubro, durante uma operação integrada com a PM e Urbes, para coibir a realização desses bailes funk no mesmo Paineiras, a Guarda Civil Municipal prendeu um homem com 100 porções de crack, o mesmo número de porções de cocaína e maconha.

A droga seria vendida no baile a ser realizado naquele bairro.

Um mês antes, a mesma GCM prendeu um suspeito na Vila Barão com 4 mil porções de drogas que seriam distribuídas nos bailes do bairro Ana Paula Eleutério, o Habiteto.

No ano passado, para combater os abusos dos frequentadores dos chamados “pancadões” em alguns bairros foi montada a Operação Saturação, uma ação conjunta entre a Polícia Militar, a Guarda Civil Municipal, e o setor de Fiscalização da Prefeitura de Sorocaba que atuava nos finais de semana.

Essas ações ostensivas, realizadas antes que a bagunça fosse estabelecida nos bairros deu bons resultados e trouxe um pouco de sossego aos moradores que não aguentavam mais o barulho infernal e o desrespeito à lei durante toda a madrugada em frente a suas casas.

Esse tipo de ação preventiva precisa ser retomada para que os “pancadões” não avancem em mais bairros levando insegurança e problemas para os moradores.

E essas ações precisam ser bem planejadas para se evitar o que aconteceu na favela de Paraisópolis em São Paulo há menos de um mês e que deixou nove jovens mortos por pisoteamento após uma ação da Polícia Militar, uma operação que juntou provocação por parte de alguns motoqueiros que participavam da festa com uma intervenção com métodos questionáveis por parte dos policiais.

Algumas perguntas sobre a tragédia ficaram sem resposta.

Seria muito importante saber quem patrocina tais encontros e quem domina a região onde ocorrem os bailes.

Será que alguma vez a Prefeitura de São Paulo tentou impedir que fossem realizadas essas festas ocupando espaço público sem qualquer tipo de autorização?

Fato é que ocorreu uma tragédia, que poderia ter sido evitada, em um ambiente em que todos os participantes, muitos deles menores de idade, estavam expostos à venda indiscriminada de bebidas alcoólicas e drogas de todos os tipos.

Há algumas situações comuns nos chamados bailes funk realizados aqui, em São Paulo e em outras cidades brasileiras.

Esses eventos são, muitas vezes, as únicas formas de diversão acessíveis à população dessas comunidades formadas, em sua maioria, por gente trabalhadora.

A escassez de atividades de lazer para essa parte da população pode ser constatada pelo local de moradia das vítimas da tragédia, alguns menores de idade, e que atravessavam a cidade ou vinham de outros municípios para passar a madrugada no pancadão de Paraisópolis, um megaevento que reúne até 5 mil pessoas, começa na quinta-feira e termina no domingo.

O governador João Doria afastou 32 policiais envolvidos no caso e recebeu uma comissão de moradores que pediram para o poder público organizar a festa.

Duas semanas depois, o governo estadual lançou um festival para revelar talentos musicais das comunidades de todo o Estado, o FavelaFest, uma maneira de mobilizar as comunidades do Estado valorizando seus artistas.

É claro que essa é uma iniciativa ainda tímida de levar lazer e recreação para o público dos bailes funk, mas é um primeiro passo.

Outras iniciativas, inclusive em Sorocaba, precisam se juntar a essa para atender essa faixa de público que, por não ter outras opções, é jogada nos braços dos traficantes de drogas, os grandes beneficiados por esses eventos.