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"A vergonha é a maior herança que meu pai me deixou" *

15 de Julho de 2018 às 10:24

Com o final da Copa do Mundo em clima de confraternização, o resgate dos garotos na Tailândia e a visita de Malala -- a jovem que sobreviveu a um ataque do Talibã porque queria estudar, e isso contrariava as leis daquele grupo -- sugerem dias melhores. E é isso que buscamos a cada momento: uma notícia boa. Um bom sinal. Um bom exemplo. Que guie a nós ou aqueles ao nosso redor.

Chico Buarque refere-se numa de suas mais belas músicas sobre o "tempo da delicadeza". É esta delicadeza que nos falta, aquela que, exercitada sem esforço e com sinceridade, nos leva a dizer frases quase esquecidas como: bom dia; como vai? por favor; obrigado.

Graças ao noticiário político/policial assistimos ao endurecimento dos sentimentos e o nascimento do descaramento; da perda da vergonha e dos escrúpulos. Quanto ansiamos por ações tão nobres quanto a de Malala, que transformou sua quase tragédia em um edificante trabalho de resgate de direitos, tendo como instrumento a palavra e o exemplo de vida. Mostra-nos como é possível combater o terror e a intolerância com a palavra de conciliação e paz.

E o que encontramos em nosso País? Muitos poucos exemplos dessa grandeza de que é capaz o ser humano. Assistimos perplexos às ações de um grupo de deputados, auxiliados por um desembargador, com claro ativismo político, tentar soltar um ex-presidente numa ação nunca antes vista na história deste País. Movimentos semelhantes no STF, com juízes que mesmo diante de decisões colegiadas, soltam condenados envolvidos na Lava Jato e até dos membros do tráfico Internacional de drogas.

Enquanto pessoas confraternizam em estádios de futebol, num aceno à comunhão dos povos, no Congresso brasileiro, nossos representantes aprovam projetos e leis que só fazem jogar o País num abismo da dívida pública, indiferentes com o destino dos brasileiros nos próximos anos e até mesmo com suas próprias reeleição. Com certeza ignoram eleições e eleitores. Não bastassem os escândalos da "corte", com empresários tendo conversas pouco republicanas com o presidente, e filhas tendo suas casas reformadas por amigos, prática muito comum -- afinal quase todo mundo tem amigos para pagar reformas, sítios, apartamentos tríplex, pensão para ex-amantes e mulheres. E claro, não se deveria manter isso... porém, se mantém. Mas quem se importa? Mesmo com a operação Lava Jato em curso, continuam uns delinquindo e outros soltando presos.

Se em Brasília tudo se resolve com recursos e acordos e desconsideração ao bem comum, na nossa região as questões políticas desceram os degraus da mais baixa baixaria: de vereador tentando escapar da cadeia, esporte mais praticado por nossos políticos, a escândalos envolvendo gravações e linguagem chula para tratar auxiliares e colegas. É o fim da delicadeza; da educação; do respeito; do tal decoro.

Provavelmente só estamos assistindo aos resultados da ação verdadeira dessa gente que prometeu nos representar e só se presta a cuidar de seus interesses e de se envolver em escândalos e em assuntos em nada republicanos. E muito menos decentes.

Este jornal sempre se alinhou à decência, ao respeito, aos compromissos. Felizmente ainda existe uma Malala que acredita na Educação como a Mantenedora, a Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), acreditam. Durante décadas o Cruzeiro do Sul investiu em educação, criando escolas e cuidando de pessoas vulneráveis. O exemplo de Malala é a única saída do obscurantismo, seja esse obscurantismo a repressão armada, seja ele a opressão familiar, seja o obscurantismo da falta de pudor que trata a vida pública como algo banal, sem escrúpulos -- uma palavra em desuso --, sem consequências. O obscurantismo do sem vergonha.

O exemplo, acima de tudo, é o que incentiva uma nação, gerações, uma cidade.

O exemplo guia.

(*) Da canção "Vingança", de Lupicínio Rodrigues.