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A Lava Jato e o PSDB

08 de Julho de 2020 às 00:01

Na última sexta-feira, dia 3 de julho, a força-tarefa da Operação Lava Jato em São Paulo denunciou por lavagem de dinheiro o ex-governador e atual senador pelo PSDB José Serra e sua filha Verônica Allende Serra. Como sempre acontece nessas situações, a Polícia Federal fez buscas na casa do político, em São Paulo, onde apreendeu computadores, HDs e pen-drives. Serra, de 78 anos, é tucano de alta plumagem.

Foi governador do Estado de 2007 a 2010, quando renunciou ao mandato para concorrer à Presidência da República, mas não foi eleito. Em 2018 foi eleito senador por São Paulo. É um tucano de origem, como se diz, fez parte do grupo dissidente do então MDB que decidiu deixar a sigla e formar nova agremiação quando percebeu que estava sendo dominada pelo grupo do ex-governador Orestes Quércia.

A Operação Lava Jato é certamente a maior ação contra a corrupção já registrada no País e foi responsável por desmantelar um gigantesco esquema de corrupção montado pelo Partido dos Trabalhadores e partidos aliados. Foi por meio dela que representantes das maiores construtoras do País e políticos foram processados e presos.

O ex-presidente Lula, que responde há vários processos, foi condenado em segunda instância por dois deles e chegou a ficar preso na sede da Polícia Federal em Curitiba, assim como vários ex-ministros, ex-presidente da Câmara, entre outros.

A farra da corrupção que permeou o mundo político na década passada, como se sabe, não era exclusividade de um único partido e seus satélites, mas as investigações -- sabe-se lá por qual motivos -- nunca avançou na seara tucana.

A impressão era que havia uma espécie de blindagem em torno de seus políticos, apesar das evidências de corrupção em várias obras, principalmente no Rodoanel, construção milionária realizada durante as décadas em que o partido esteve à frente do governo paulista.

O motivo da operação de busca na casa de José Serra na semana passada está relacionado à denúncia do Ministério Público Federal de que a construtora Odebrecht pagou ao senador aproximadamente R$ 4,5 milhões entre 2006 e 2007, supostamente para pagar parte da campanha ao governo do Estado de São Paulo; e mais R$ 23 milhões entre 2009 e 2010, para a liberação de créditos com a Dersa, estatal paulista que foi extinta há um ano.

A denúncia diz que Serra e sua filha praticaram lavagem de dinheiro resultante de obras do Rodoanel Sul no exterior, de 2006 a 2014. A demora para que as investigações chegassem ao PSDB beneficiaram Serra, que não vai responder a crimes de corrupção atribuídos a ele até o ano de 2010.

Como o senador tem mais de 70 anos, o tempo para os crimes prescreverem cai pela metade. As investigações contra Serra -- e possivelmente contra outros políticos tucanos -- não devem parar por aí. O MPF-SP suspeita que quatro quadros do pintor Cândido Portinari, de alto valor no mercado internacional, podem ter sido utilizados para a lavagem de dinheiro.

Há muito tempo pessoas ligadas ao PSDB são alvos de suspeitas e investigações. Uma delas é o engenheiro e ex-diretor da Dersa, Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, que chegou a ser preso preventivamente. Também foi alvo de investigações o ex-senador pelo PSDB, Aloysio Nunes Ferreira.

Ferreira também foi ministro de Relações Exteriores do governo Michel Temer (MDB). Nesse trabalho, as investigações focaram principalmente em Paulo Preto, apontado pela Lava Jato como o grande operador de propinas do PSDB paulista.

A relação desse personagem com o partido é antiga, assim como não são de hoje as suspeitas de que intermediava pagamentos de propinas entre grandes empreiteiras e pessoas do governo. Seu nome foi envolvido na Operação Castelo de Areia, de 2007, quando a PF investigou suspeita de pagamentos de propina a políticos pela construtora Camargo Correa.

O caso só não foi adiante porque a Justiça anulou as provas. Com o avanço da Lava Jato, a partir de 2014, o nome de Paulo Vieira de Souza apareceu na delação premiada de vários empreiteiros, sempre sendo lembrado como operador de propinas, cujo destino seriam campanhas do PSDB.

A denúncia contra Serra causou enorme preocupação e desconforto nos líderes tucanos. Na avaliação de vários deles, a denúncia tem potencial destrutivo semelhante ao do caso de Aécio Neves, ex-presidente da sigla, hoje deputado federal, que foi gravado pedindo dinheiro para os donos do grupo JBS.

Há quem avalie que aquelas denúncias enfraqueceram a campanha de Geraldo Alckmin a presidente em 2018, quando o partido teve participação sofrível e sequer chegou ao segundo turno. O escândalo atual tem enorme poder destrutivo, não só para Serra, ex-prefeito paulistano, ex-governador de SP e que esteve à frente de vários ministérios. Deverá afetar sobretudo a imagem de um partido que já foi campeão de votos entre os paulistas e que elege governadores desde 1994.