A importância da reciclagem

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Sorocaba produz aproximadamente 500 toneladas de lixo por dia segundo informações da Prefeitura, uma quantidade que não tem se alterado muito nos últimos anos. Desse total, somente 3% passam pelo processo de reciclagem. O restante, basicamente tudo que é recolhido pelos caminhões de lixo junto aos contêineres, em residências e empresas, é encaminhado para um aterro sanitário particular localizado no município de Iperó como parte do contrato firmado entre a Prefeitura e a empresa que foi escolhida, por meio de licitação, para realizar esse trabalho.

Apenas alguns bairros da cidade das zonas leste e norte contam com serviço de coleta seletiva, bastante irregular segundo os moradores, o que explica o fato de a cidade, apesar de contar com três cooperativas de reciclagem, ter o volume de lixo reciclado tão pequeno. Pode-se dizer que há muitos anos o município patina nesse aspecto do saneamento. Passaram vários prefeitos pelo Palácio dos Tropeiros, alguns deles com dois mandatos e, definitivamente, o volume de lixo reciclado não aumenta. O aterro sanitário que o município mantinha na Vila São João esgotou sua capacidade de armazenamento, mesmo após várias ampliações, e a cidade não implantou a coleta seletiva, nem conseguiu alternativa para o destino final do lixo que não fosse a exportação para o município vizinho. Em outras palavras, continuamos a esconder todo lixo debaixo do tapete.

O município de Sorocaba, que se destaca em várias atividades e que só recicla 3% de seu lixo está na vala comum, ou seja, tem um índice igual à média nacional de reciclagem. Dos quase 5.600 municípios brasileiros, poucos conseguiram estender a coleta seletiva para a totalidade de seus moradores. Os que têm índices melhores que os de Sorocaba, em geral situados nas regiões Sul e Sudeste do país, certamente priorizaram essa área do saneamento destinando a ela maiores investimentos.

Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, a quantidade de lixo produzido no Brasil vem aumentando a cada ano, pois cresce a uma taxa cinco vezes superior ao da população. Essa quantidade de lixo cada vez maior vem esgotando os aterros sanitários e entulhando lixões. De acordo com dados do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), embora só 3% do lixo sejam reciclados, 30% do lixo descartado pela população tem potencial de reciclagem, o que revela que há um grande desperdício tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico e social. A reciclagem, além de reaproveitar materiais e com isso poupar matérias-primas, energia e diminuir a emissão de CO2, é uma fonte de renda para milhares de famílias, como mostrou a reportagem publicada pelo Cruzeiro.

O Plano Nacional de Resíduos Sólidos prevê a destinação adequada do lixo para minimizar danos ambientais e à saúde humana e propõe ainda, entre outros itens, a redução de resíduos gerados, de maneira a incentivar a reciclagem e reaproveitamento. Também prevê a responsabilidade dividida entre os diversos participantes da cadeia de produção e distribuição de diversos produtos. Muitas linhas de produtos já estão adotando a logística reversa, especialmente nos segmentos de agrotóxico, pilhas, baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes, lubrificantes e produtos eletrônicos, todos os itens problemáticos em termos ambientais. Essas medidas também devem se estender em um futuro próximo a produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou de vidro. Ou seja, as empresas deverão se preocupar com o destino final das embalagens, enquanto que o consumidor final deverá devolver as embalagens às empresas.

A atual administração municipal resolveu um problema sério com relação ao lixo que se arrastou durante o governo de seu antecessor: a reposição dos contêineres nas ruas. Eles foram repostos, os novos contêineres são maiores e, ao que parece, vêm atendendo a população. Mas peca pelo tímido apoio que dá à reciclagem. Durante a campanha política o prefeito José Crespo (DEM) prometeu em seu programa eleitoral de rádio do dia 24 de outubro que instalaria Unidade de Recuperação Energética (URE) para gerar energia por meio da queima e tratamento do lixo não aproveitado pela reciclagem. Nunca ninguém mais ouviu falar na tal URE e muito menos a reciclagem deslanchou no seu governo. Investir em reciclagem contribui para diminuir a poluição de maneira geral, serve para manter as cidades mais limpas, prolonga a vida dos aterros sanitários e ainda gera renda para muitas pessoas.