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A ameaça da febre amarela

25 de Janeiro de 2019 às 09:20

Em menos de um mês, ou seja, do início do ano até agora, seis pessoas morreram vítimas da febre amarela no Vale do Ribeira e litoral sul do Estado de São Paulo, segundo a Vigilância Epidemiológica. Somente no último final de semana três pessoas que estavam internadas com a doença vieram a óbito. Naquela região, não tão distante de Sorocaba, pelo menos 20 macacos foram encontrados mortos vítimas da doença. O município com maior concentração de casos naquela região é Eldorado, com pelo menos nove confirmados e várias pessoas estão sendo monitoradas por suspeita de estarem com a doença.

A febre amarela durante um bom tempo esteve restrita a algumas regiões do Brasil, principalmente no Norte e Centro-Oeste. Cientistas mapearam o avanço da doença em sua forma silvestre e calculam que em meados de 2016 o vírus da doença saltou da floresta Amazônica para a região Sudeste levado por macacos infectados e mosquitos que os picavam. Chegou à periferia das maiores cidades do país onde não circulava havia décadas e se transformou na pior epidemia de febre amarela vista no País em 100 anos, com 676 mortes. A febre amarela também trouxe preocupação para a Região Metropolitana de Sorocaba no ano passado. A morte de primatas também ocorreu em municípios como Ibiúna (28), Sarapuí (10), Pilar do sul (9), entre outros. Vários macacos do Parque do Matão, em Votorantim, foram encontrados mortos, embora nenhum humano tenha sido infectado. Ibiúna, onde houve maior mortandade de macacos também foi a cidade da RMS com mais casos registrados da doença, com 15 pessoas infectadas e dez mortes confirmadas. A febre amarela causou mortes também em Piedade (três mortes) além de São Roque, São Miguel Arcanjo e Tapiraí, que registraram uma morte cada.

Neste início de ano, período de férias e veraneio no litoral, é preciso que as pessoas fiquem atentas, principalmente se viajarem para áreas consideradas de risco para o contágio da doença. O vírus da febre amarela pode ser transmitido para os humanos pelo nosso conhecido Aedes aegypti, abundante nos centros urbanos do Brasil, e também responsável pela transmissão da dengue, zika e chikungunya. Um estudo interessante desenvolvido por cientistas da Universidade de Oxford em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que neste último surto, o vírus foi levado às pessoas por mosquitos selvagens, o Haemagogus e o Sabethes, que haviam picado macacos infectados na floresta e não pelo Aedes aegypti. As primeiras vítimas foram infectadas principalmente porque estiveram ou viveram perto dos hábitats dos primatas. Reconstruindo a propagação geográfica do vírus, perceberam que os casos de contágio em macacos antecederam em apenas quatro dias os casos em humanos. O que surpreendeu os pesquisadores foi que vírus deslocou-se mais rápido que a velocidade normal em primatas, o que pode indicar que foram pessoas que transportaram a doença, ou pelo comércio ilegal de macacos ou levando mosquitos infectados em veículos.

O surgimento de casos no litoral paulista, uma situação prevista desde o ano passado pelas autoridades que acompanhavam o deslocamento do vírus pelo País, mostra a importância da vacinação. Quem vai passar férias no litoral ou em outras regiões onde o vírus está presente precisa tomar a vacina. E a constatação de que foram mosquitos selvagens que propagaram o último surto da febre amarela não deve interferir no combate constante contra criadouros do Aedes aegypti, presente em praticamente todas as cidades brasileiras e que se reproduz com rapidez neste período de chuvas abundantes.

No ano passado tivemos alguns casos das chamadas arboviroses, com maior número de casos de chikungunya, dengue e febre amarela. Foram poucos casos, nada que se compare à epidemia de dengue registrada em 2015, mas não deixa de ser preocupante, pois os vírus estão circulando pela região. Para reforçar o combate ao mosquito a Prefeitura de Sorocaba realizará várias ações concentradas no dia 2 de fevereiro, o chamado Dia D de combate ao Aedes aegypti. O objetivo é promover a conscientização da população e realizar um trabalho de campo para combater os criadouros do mosquito na cidade. Atacar o mosquito, evitando sua multiplicação, é a forma mais eficiente de evitar que essas doenças continuem a se espalhar pela região.